Despertando para a vida Real

Contos de Astridy Gurgel
astridy24gel@hotmail.com
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DESPERTANDO PARA A VIDA REAL
A festa a fantasia estava pegando fogo, todos os convidados usavam
máscaras, tornando impossível o reconhecimento de alguém. No salão imenso mais de
duzentos convidados circulavam e dançavam as marchinhas de carnaval.
Uma grande quantidade de drinques era servida, tornando os convidados
mais ousados, por onde se olhasse havia um garçom com bandejas repletas de
bebidas.
No meio de toda aquela loucura estava Carmem Benvenutti, displicentemente
encostada numa pilastra perto da porta principal, saboreando seu drinque e olhando
ao redor sem interesse em nada e ninguém em especial. A fantasia de rainha não
deixava passar despercebida a beleza de seu corpo, no alto da cabeça, uma coroa
fixava-se sobre o coque bem feito, escondendo o brilho que os cabelos longos e negros
possuíam. Para um bom observador não passaria despercebido o tédio que a belíssima
rainha escondia por trás da máscara. Neste momento, sem que ela percebesse, dois
olhos negros fixavam-se em sua pessoa com muita atenção.
Carmem viu Helder vindo à sua direção, virou seu drinque colocando o copo
de lado com um suspiro, Helder era um encanto de pessoa, mas como acompanhante
para uma festa como aquela, estava se saindo uma negação. Desde que chegou ele
não parava de pular feito um louco no meio do salão, Por isto ela estava se sentindo
uma rainha prestes a ser massacrada pelo povo, enquanto ele saltava feito um cabrito
para todos os lados. Ele se aproximou contando ofegante.
- Nossa... Isto aqui tá uma loucura, Carmem! Tomei um drinque que chamam
de “Foguete Eterno” e me sinto flutuando...
- Essa festa está um tédio! – respondeu horrorizada.
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- Um tédio? Uma... Uma... Uma festa fabulosa como esta? Mas Carmem, você
só pode estar de mau humor. O que houve querida? – perguntou abraçando-a junto a
ele – Quer sair e...
- Oh não... – gemeu afastando-se dele – Fazer sexo com você neste estado é a
última coisa que pretendo. Olhe, vou dar uma volta por ai, está quente demais aqui
dentro.
Helder ficou olhando-a se afastar sem entender porque estava assim. Um
segundo depois voltou a pular desnorteado pelo salão.
Carmem seguiu para o jardim sentindo o cheiro das plantas. Alguns casais
namoravam espalhados pelos cantinhos mais escuros. Pode ouvir até alguns gemidos
abafados de prazer. Seguiu andando até parar diante de um grande galpão. Olhando
com mais atenção percebeu que parecia ser uma estufa. Curiosa, se aproximou
notando que a porta estava aberta. Abriu-a entrando e percebendo que era realmente
uma estufa.
Devida à escuridão, não conseguiu distinguir os tipos de plantas que havia ali.
O fato é que só estava desejando encontrar um lugar sossegado, longe de todo aquele
tumulto do salão. O ar ali estava mais puro e o perfume das plantas transformava o
ambiente deixando-o mais respirável.
Uma hora mais tarde ainda estava na mesma posição. Admirava a lua
encantada através do teto translúcido, quando um movimento na porta chamou sua
atenção. Voltou-se vendo alguém fechar a porta. O intruso deu alguns passos parando
próximo dela.
Percebeu que também usava máscara, só podia ser um dos convidados da
festa também entediado como ela. No entanto não sentia a menor vontade de
conversar, por isto mediu o estranho de alto a baixo e desviou o olhar voltando a fitar
a lua. Minutos depois nem se lembrava de mais da pessoa já que não se moveu nem
tentou falar com ela.
Alguns minutos depois sentiu a mão do desconhecido tocando seu ombro
numa caricia leve. Surpresa diante do gesto, o encarou sem poder ver seu rosto. As
mãos pousadas em seu ombro, desceram pelos braços numa carícia mais suave.
O contato fez seu corpo estremecer. Apesar do toque das mãos serem macias,
caiu em si percebendo o ridículo daquela situação. Por que estava permitindo que uma
pessoa estranha a tocasse daquela maneira? Instintivamente encolheu-se colocando
as mãos sobre o peito do desconhecido. Sentiu o tecido macio e um prazer novo a
invadiu ao sentir o coração do estranho batendo descompassado no peito. Tentou ver
os olhos, mas só viu os lábios aproximando-se dos seus lentamente. O perfume do
estranho envolveu-a completamente. Sentia a língua acariciando seus lábios numa
sensualidade deliciosa. Carmem sentiu as pernas bambas relaxando o corpo. Suas
mãos pararam de pressionar o corpo que vinha aos poucos se colando mais ao seu. A
língua afoita abriu caminho penetrando seus lábios com delicadeza. Só então os lábios
carnudos apossaram-se dos de Carmem arrancando um gemido rouco dela. Carmem
apertou as mãos naquele corpo descendo-as sem conseguir se conter, mas estacou
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quando suas mãos apertaram dois seios inteiramente excitados debaixo do tecido fino
da fantasia.
Tensa estacou afastando as mãos daquele corpo, mas os lábios continuaram
movendo-se contra os seus num beijo enlouquecedor. Carmem deu-se conta do calor
que percorria seu corpo enlouquecendo-a de vez. Sua língua estava sendo sugada com
uma fúria sensual inacreditável. O pior era se dar conta que era uma mulher que o
fazia. Carmem gemeu quando tentou afastar-se da estranha. Ela agarrou mais firme
sua língua como se pretendesse arrancá-la. As mãos enlaçaram seu corpo sem permitir
que fugisse. Carmem se viu pressionada contra uma mesa. No decote do colo sentiu a
mão dela acariciando seus seios descaradamente. Não aguentou mais, pois o seu
corpo queimava de desejo agora. Ergueu as mãos agarrando o corpo da estranha, foi o
mesmo que dizer sim, pois ela ergueu o vestido de Carmem com agilidade e sua mão
tocou o sexo com urgência. Sentiu quando a mão afastou a calçinha apossando-se de
seu sexo sem que conseguisse recusar. Pelo contrário, começou a rebolar em buscar
do prazer, queria gozar, estava louca, quase perdendo o juízo com aquele toque que se
revelou maravilhoso. Sentiu-se safada enquanto rebolava para ela. Desceu as mãos
passando a acariciar aqueles seios. Sabia que estava louca, mas não estava aguentando
segurar aquela excitação. Jogava seu sexo contra a mão dela, gemia parecendo uma
gata no cio. Seus gemidos perdiam-se na estufa causando ecos no ar. A mulher estava
terrivelmente excitada dentro dela. A mão entrava e sai enlouquecida. Era penetrada
de uma forma que nunca sentiu antes. Homem nenhum tinha entrado e saído de seu
sexo com aquela rapidez. Aquelas estocadas a faziam ver estrelas de tanto prazer.
Quanto mais se jogava contra ela, mais afoita ela se tornava, mais a comia, mais a fazia
desejar o prazer. Carmem estava beijando e mordendo o pescoço dela quando a sentiu
abrindo seu vestido com a outra mão e puxando-o para baixo. Os seios saltaram livres
e ela mergulhou a boca neles desnorteada. Gemia enlouquecida enquanto chupava os
seios de Carmem. Beijava, chupava os biquinhos e mordia desvairada entre um e
outro. Carmem estava em êxtase total, via estrelas literalmente neste momento. Uma
corrente de sensações percorreu seu corpo explodindo dentro dela. Um grito
misturado a um gemido escapou de sua garganta. O gozo foi tão intenso que ela caiu
de joelhos sem conseguir se controlar. A mulher inclinou diante dela. Ela tomou seu
rosto beijando sua face com carinho várias vezes. Puxou-a em seguida para seus
braços, ficaram abraçadas até sentir o coração dela se acalmando. Só então se ergueu
e saiu da estufa como entrou, num completo silêncio.
Carmem nem soube como deixou aquela festa. Chamou Helder para ir
embora, mas não trocou uma única palavra com ele no carro até chegar à sua casa.
Diante do prédio saiu batendo a porta com raiva e subindo sem falar nada com ele.
Carmem jogou a bolsa sobre a cama com raiva. Helder apareceu na porta
olhando-a confuso.
- Carmem...
- Eu te disse que estou cansada e só desejo dormir. Deixe-me em paz –
Explicou de costas para ele – Você pode ser gentil saindo sem dizer mais nada?
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Só ouviu seus passos pelo corredor e o som da porta sendo fechada lá
embaixo. Começou a tirar a fantasia lentamente mirando-se no espelho. Totalmente
nua, continuou se mirando, imaginando e sentindo o toque das mãos de uma mulher
levando seu corpo a explodir de prazer. Sentia uma vergonha que jamais tinha
sentindo na sua vida. Não era nada fácil aceitar que permitira tamanha intimidade a
outra mulher, e pior, uma estranha que não conhecia. Não sabia o nome nem viu seu
rosto. “Meu Deus, onde é que estou com a cabeça?” Se perguntou gemendo enquanto
tocava as marcas de chupadas nos seios.
Caiu na cama cobrindo o rosto com as mãos. Precisava encontrar um meio de
dormir logo para esquecer aquele toque em seu corpo. Precisava acabar com aquele
calor terrível que ainda lhe queimava as entranhas. Pulando da cama ela correu para o
banheiro, enfiou-se em baixo do chuveiro lavando o corpo desesperadamente.
Carmem entrou na sala de refeições na manhã seguinte com olheiras
profundas. Dora ergueu a cabeça fitando-a detidamente.
Ubiratan ergueu-se aproximando dela e cobrindo seu rosto de beijos.
- Pensei que iria dormir o dia todo, mamãe! Como foi a festa de ontem? Está
nos jornais, sabia? Tem uma página inteira cobrindo o acontecimento...
- Por favor, meu filho... Não me fale nesta festa – Pediu caminhando para a
mesa.
Sentou e ergueu os olhos para Dora, não sabia como explicar, mas podia jurar
que Dora sabia que esteve transando com uma mulher. Dora a olhava detidamente,
examinando-a cuidadosamente. Carmem estremeceu suspirando. Olhou para o filho e
teve certeza que ele também sabia. Nem ia poder pisar na rua, pois todos iriam saber,
estava escrito na sua testa. E no trabalho, todos se voltariam para a grande Carmem
Benvenutti e saberiam logo, que ela passou algumas horas transando com uma mulher
dentro de uma estufa...
- Você está bem, Carmem?
A pergunta foi feita por Dora num tom doce e carinhoso. Carmem fincou um
mamão inteiro levando-o a boca sem perceber, deu uma mordida e parou chocada
olhando o imenso mamão espetado em seu garfo.
- Gente, mas o que é isto? Quem colocou este mamão nesta mesa? Ora, mas
não se partem mais mamões quando servem uma mesa de café? Como se pode comer
um... Um...
- Mamãe? Nós usamos a faca, lembra? – Perguntou o filho sentando e dando
uma gostosa gargalhada – Mas o que deu em você, está manhã?
Carmem olhou para o filho completamente admirada. Não se conteve
começando a rir junto com ele.
- Bebi demais e acordei meio lerda – explicou se contendo – Por que está me
olhando assim, Dora? – perguntou levando a mão ao coração sem jeito.
Dora sorriu respondendo gentil.
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- Podemos conversar depois do café – Informou cortando o mamão e
colocando um pedaço no prato que passou para Carmem – Agora coma, pois essas
festas costumam ser uma negação em matéria de comida.
- É não comi nada mesmo – Informou baixinho.
- Nem Helder, mamãe? – Perguntou o filho batendo na mão dela com um ar
maldoso.
- Mas o que é isto? Você pensa então que sou uma devoradora de homens?
Eu? Sua mãe, querido? – Perguntou chocada.
- Todo mundo sabe que vocês são amantes! – Comentou olhando-a
espantado – Você estava falando na semana passada que ia morar com ele...
- Eu? - Perguntou espantada – Eu? Falei isto? Viu Dora? De onde este menino
tira essas ideias?
- Você terminou com Helder? – Dora perguntou admirada.
- Não... Ora porque pergunta isto?
- Bem Carmem, você disse sim na semana passada que estava pensando em ir
morar com ele. Se não lembra mais de ter falado, é porque alguma coisa aconteceu.
Carmem olhou para Dora admirada. De fato ela tinha toda a razão. Tinha
comentado em casa que pretendia morar com Helder. No entanto nesta manhã, essa
ideia lhe pareceu péssima. Perdeu totalmente a vontade de morar com ele. Imagine se
depois da noite passada iria viver com ele, lógico que não! Um homem que não
cuidava da sua amante? Que tipo de homem era este que deixava a mulher transando
com outra, quase debaixo do seu nariz? Era culpa dele, só dele, se aquilo aconteceu!
Se fosse homem de verdade estaria naquela estufa com ela, lhe dando o consolo que
precisava. No entanto, preferiu ficar se acabando no salão, pensando num tal drinque
“Foguete eterno” e obrigando-a a se subjugar para uma mulher. Uma mulher? Tinha
que ter sido logo uma mulher? Onde já se viu deixar uma mulher carente solta numa
festa depravada como aquele?
Perdida nos seus pensamentos nem percebeu Mara, a criada parar ao seu
lado. Só se deu conta de sua presença quando a moça falou pela terceira vez.
- Senhora? O Senhor Helder insiste em lhe falar – informou colocando o
telefone ao lado dela.
Carmem pegou o telefone pensativa.
- Alô?
- Querida? Fiquei preocupado ontem, você ficou furiosa comigo de uma hora
para outra, afinal, o que foi que eu fiz para irritá-la tanto?
- Que você fez? Então não sabe o que fez, mas era só o que me faltava seu
bonvivam! – Falou irritada.
Dora ergueu as sobrancelhas admirada e atenta. Ubiratan a beijou no rosto e
depois a mãe dizendo que estava atrasado para um compromisso.
- Querida, só preciso saber se você está melhor hoje? – Helder insistiu
apertado.
- O que o faz pensar que eu poderia não estar bem?
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- Ora você não permitiu que eu lhe desse sequer um beijo de boa noite e
temos feito bem mais que isto querida – Falou com sarcasmo.
- Não estou disposta a conversar – falou seca – Outro dia, está bem? –
acrescentou desligando o telefone na cara dele. Afastou o aparelho falando irritada
para Dora – Homens! Ora bolas! Querendo satisfações, era só o que me faltava
aguentar isto num dia como este. Tudo desmoronando e ele querendo saber por que
me irritou tanto ontem. Não tenho tempo para isto, ah, mas não tenho mesmo!
- O que houve Carmem? O que é que está desmoronando? Nunca te vi tão
sem controle como nesta manhã. O que aconteceu na tal festa para deixá-la neste
estado?
- Pensei que você sabia – respondeu tensa
- Sim, consciência pesada causa essa impressão – comentou Dora de forma
irônica – Você não é mais uma adolescente, tem 35 anos e é madura o suficiente para
saber que eu não sei o que te deixou assim.
Carmem suspirou fugindo dos olhos dela. Tinha que contar para ela ou não
lhe daria paz. Ou era sua consciência que não lhe daria paz se não falasse? A quem iria
enganar? Não podia nem olhar no espelho que seu corpo a condenava. Suas mãos
tremiam tanto que precisava apertá-las para controlá-las. Dora percebeu seu gesto se
erguendo.
- Vamos para a sala de estar, lá poderemos falar mais à vontade.
Assim que entraram na sala, Carmem viu sua imagem refletida no espelho da
parede virando rapidamente o rosto para não se ver. Sentia nojo, ou talvez não fosse
nojo. Talvez fosse vergonha mesmo de lembrar que deixou uma mulher comê-la
daquela maneira. E deu pra ela, deu sem o menor pudor. Abriu as pernas deixando que
ela entrasse o quanto quisesse. Rebolou pra ela, céus, como foi fácil dando-se daquela
forma! Logo para alguém que nem rosto tinha. Uma mulher que precisava usar
mascara para... Só nesse instante lhe ocorreu que a mulher não sabia quem ela era
então estava salva, mas, ao mesmo tempo a mulher poderia ser qualquer uma que
cruzasse no seu caminho. Não, certamente a mulher não sabia quem ela era como ela
não sabia quem era aquela mulher. Tanto o medo quanto o pânico que sentia neste
momento estava estampado no seu rosto, embora ela não se desse conta deste fato.
- Acalme-se Carmem, fale comigo – aconselhou Dora acariciando o rosto dela
– Sente-se e fale. Não precisa olhar para mim, fique à vontade.
- Não fique cheia de dedos Dora, não me trate assim, pois detesto!
- O que detesta no momento é você. Vi que nem conseguiu se mirar no
espelho. O que fez para estar sentindo todo este pavor de você mesma?
- Por que tem que me conhecer tanto? – explodiu fora de si – Você nem me
dá uma chance, não é? Tem que ganhar todas, não é?
- Não vamos falar de nossas diferenças, apenas desejo ajudá-la. Por que não
consegue falar comigo normalmente? Qual o problema com você? Quando vai me
aceitar? Não entende que gosto de você mesmo sabendo que se recente comigo?
Deixe-me ajudá-la, certo? Não te peço nada, você só tem que confiar em mim.
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Carmem a encarou por alguns instantes e concordou com um gesto de
cabeça. Estava realmente sufocada e não tinha como não falar. Aquilo a estava
devorando viva.
- Só vou falar porque estou sufocada, não se esqueça disto – avisou muito
nervosa – Ontem na festa, aconteceu algo de que me envergonho...
- Traiu Helder? – perguntou olhando-a nos olhos – Foi isto que aconteceu?
- Sim... Quero dizer... Não e sim... Eu estava entediada. Você sabe, essas festas
me enlouquecem. Helder estava bebendo e dançando feito um louco e me irritei
bastante. Também estava cansada, sufocada, não estava aguentando ficar dentro da
casa. Precisava de ar e fui para o jardim. Acabei chegando à estufa... Apareceu alguém
lá. Usava uma máscara, não vi seu rosto... Mas me possuiu... Foi assim e mal suporto
olhar-me no espelho – calou-se fitando o chão.
- Foi uma aventura Carmem, não precisa sentir-se assim...
- Não é tão simples assim, Dora!
- Claro que é simples! Você é jovem, não pode deter seu impulso...
- Não... Não Dora...
- Escute o que estou te dizendo, isto acontece a todo o momento, ninguém
mais liga.
- Eu ligo! Foi...
- Não pode se torturar por uma bobagem! Você vai superar. Amanhã nem
lembrará mais que...
- Você não entendeu nada...
- Você transou com um homem estranho, está se amargurando, entendi
muito bem...
- Não foi com um homem, foi com uma Mulher! – gritou agarrando o rosto
dela – Transei com uma mulher, está me entendendo?
Dora ficou olhando para ela num silêncio arrasador. Carmem imaginou que
tudo que ela poderia estar sentindo, não era mais forte do que o que sentia por si
mesma. Se não tivesse contado morreria com isto pesando em sua consciência. Podia
entender o que Dora devia estar pensando. Lógico que como todo mundo não via com
bons olhos a relação sexual entre duas mulheres. As pessoas costumavam falar que
eram doentes e pecadoras. Agora ela própria era assim diante dos olhos de Dora.
Devia ter afastado aquela mulher assim que sentiu os seios excitados em suas
mãos. Mas que droga! Então já não tinha percebido quando sentiu o delicioso perfume
francês? Que homem usaria um perfume daqueles? O perfume num homem era
inconfundível, não dava para se enganar fingindo que não percebeu. A verdade é que
o cheiro maravilhoso daquela estranha, a deixou louca, queimando por inteiro.
Carmem voltou à realidade encarando Dora e falando tensa.
- Sei o que está pensando e prefiro não ouvir o que tem a dizer.
- Você nunca sabe o que estou pensando. Há seis anos que você me acusa de
pensar o que não penso, mas sei que quer saber o que eu penso. Falamos tão pouco
de nossas vidas... Eu tenho um homem, sabia Carmem?
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Carmem abriu os olhos admirada com aquela notícia, no entanto pensou que
se aceitou que ela viesse viver ali em sua casa depois dos erros do passado, tinha que
aceitar tudo agora.
- Acho que você tem este direito – falou por fim fugindo dos olhos dela.
- Claro, pois ainda sou jovem.
- É, você é bem jovem – Carmem respondeu de mau humor.
- O problema é essa distância entre nós. Vejo você se consumindo assim e
percebo que muita coisa mudou em você, de ontem para hoje, sabia?
- Só me sinto suja. Pouca coisa mudou na verdade – Disse dura.
- Você ainda não entendeu como isto pode mudar a sua vida, não é? Não quer
ver porque está se sentindo péssima. Afinal, me daria o direito de condená-la pelo que
fez?
- Mas é claro que não!
- E mesmo assim imagina que estou sentindo nojo de você. Na sua cabeça já
até te condenei. Como pode ser tão insensata? Não pode se desesperar assim por uma
loucura que aconteceu numa festa.
- O que fiz foi errado, não devia ter cedido tão facilmente. Quando percebi
que era uma mulher fiquei mais excitada ainda. Não pense que é fácil confessar isto.
Não é fácil ouvir isto da minha própria boca.
- Sei disto.
- E por mais que tenha sido algo muito bom, não vou me permitir mais isto.
Não gosto de mulher, nunca gostei! Não vou mudar agora só por causa de uma transa
irresponsável com uma completa estranha.
- Não se torture tanto com o que aconteceu. Você gostou e pronto. Só não
consegue se perdoar por ter fugido aos padrões, por ter pertencido a uma mulher. Não
deixe que as pessoas e seus preconceitos falem por você. Sinta e esqueça os rótulos
que criaram mediante isto...
- Não seja louca porque não quero isto para mim.
- É pena que veja as coisas assim...
- Esqueça! Vou sair, volto tarde – informou deixando a sala rapidamente.
Carmem entrou num cinema e ficou vendo o mesmo filme durante as quatro
sessões seguidas.
O cinema foi o lugar mais escuro e sossegado que entrou. Lá ninguém podia
vê-la. Não veriam sua vergonha, sua face queimar ao ser olhada por qualquer um. Lá
não havia máscara e muito menos mulheres como aquela que encontrou na estufa.
Como ela pode fazer aquilo? Era apenas uma busca sem sentido. Transar com
uma desconhecida numa festa não tinha a menor graça. Talvez ela fosse alguma louca
que adorava aquele tipo de coisa como diversão. Claro! O mundo estava cheio de
taradas, de gente capaz de tudo para se satisfazer.
Carmem suspirou pela centésima vez, ajeitando-se na cadeira. Tudo aquilo era
ridículo, afinal, Helder não tinha com ela metade daquele carinho que a desconhecida
demonstrou. Também não beijava com tanto ímpeto já que preferia ir direto ao ponto.
Ele nem brincava com sua língua despertando aquele desejo assustador. Não passava
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de um convencido que se achava melhor de cama, melhor que qualquer outro que
existia. Era um machista egoísta que só pensava em si mesmo. O bandido nem se
preocupou com seu estado na noite passada. Teve ainda o atrevimento de subir com
ela, como se pudesse transar com mais alguém depois do que aconteceu.
Percebeu que a quinta sessão estava começando com um novo suspiro.
Fechou os olhos e cruzou as pernas lembrando-se de Dora. Nos últimos seis anos não
dera a menor chance para ela. Não conseguia ser diferente e perdoá-la. Uma mãe que
abandona uma filha? Abandona e simplesmente aparece anos depois pedindo perdão?
Não era assim tão fácil perdoar. Gostaria que ela entendesse como se sentia agora.
Queria poder apagar a noite passada e voltar a encarar a mãe de cabeça erguida, mas
isto era impossível. Dora sabia o que ela tinha feito e a condenava. Pois bem, voltaria
para casa e faria de conta que nada daquilo aconteceu. Assim Carmem se ergueu
deixando o cinema.
Entrou em seu carro esporte com a alma nova, saiu dirigindo lentamente
pelas ruas, olhando cada prédio, cada pessoa que passava. Sorriu ao fitar um casal de
namorados que se beijavam diante de seu carro enquanto aguardava o sinal abrir.
Mais adiante, num outro sinal, mais próximo de sua casa, viu outro casal, ficou
olhando para os dois sem esconder sua curiosidade, parecia que todo mundo estava
enamorado. De repente se voltaram atravessando a rua, engoliu em seco percebendo
que eram duas mulheres. Elas trocavam olhares apaixonados e seguiam abraçadas
como se nada mais existisse na vida. O sinal abriu e Carmem permaneceu parada,
olhando as duas descerem rua abaixo. Pensou chocada neste momento: “Estou em
São Paulo, uma cidade imensa e eu tinha que admirar logo duas lésbicas.” Suspirou
acelerando indignada.
Aline Coeli Dantas revisou o contrato que tinha em suas mãos referente ao
fornecimento de refeições para os seus funcionários. Sentia-se aliviada ao ser dar
conta que aquele problema estava prestes a ser resolvido. O melhor de tudo era a
chance que aquele contrato lhe daria de conhecer Carmem Benvenutti melhor.
Teve o cuidado de frequentar alguns dos seus restaurantes. Passou duas
semanas provando os diversos pratos, confirmando que a comida era de excelente
qualidade.
Em uma hora ela entraria por aquela porta e Aline teria a chance de se
aproximar dela.
Fechou a pasta contendo o contrato encarando Ítalo Russel, seu secretário e
braço direito. O sorriso que brilhou em seus lábios chamou a atenção de Ítalo.
Aline perguntou tranquila neste momento.
- O original está ai?
- Sim, creio que poderei fazer a troca sem que ela perceba.
- Vou oferecer um drinque e deixar que ela leia o contrato. Depois te chamo
pedindo o folheto demonstrativo da empresa, ai você fará a troca do contrato.
- E quando ela perceber será tarde demais para recuar.
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- Sim, eu a terei em minhas mãos – Comentou com prazer – É a primeira vez
que uso a empresa como isca, mas não vejo outro jeito, mas o contrato é muito
rendoso e ela assinará por isto.
- Uma empresária como Carmem não perderia um contrato como este, só se
fosse louca.
- Minha filha ligou? – Perguntou cruzando as belas pernas com charme.
- Sim, você estava na reunião. Tomei a liberdade de avisar que você irá jantar
com ela. Fiz bem?
- Claro! Irei mesmo. O que mais descobriu sobre o tal de Helder?
- Está separado a dois anos da esposa, comprou um apartamento no centro e
mora sozinho. Comenta-se que vai viver com Carmem lá.
- Nunca!
- A fonte é certa Aline, parece que vão mesmo morar juntos.
- Continue – Pediu balançando as pernas atenta – O que descobriu sobre a tal
Dora que mora com ela?
- Não existe qualquer ligação parentesca entre elas.
- Viu a certidão de nascimento de Carmem?
- Sim, o pai era Felipe Benvenutti, não consta nome da mãe. Ela nasceu na
Itália e veio para o Brasil com cinco anos de idade. O pai morreu quando ela tinha 20
anos. Ela assumiu as duas cantinas que herdou e começou a se expandir. Passou a abrir
outros restaurantes em outros bairros. É uma das solteiras mais cobiçadas da cidade.
- Mas e o filho?
- Ela não se casou. O rapaz se chama Ubiratan e foi registrado pelo avô.
- Que tipo de amantes ela teve? – Perguntou curiosa.
- Homens maduros, ricos, Helder é uma exceção, é o tipo playboy,
paquerador, caprichoso...
- É este tipo que deseja morar com ela? – Perguntou com descaso – Não
acredito que uma mulher como ela se realize com esse tipo vulgar.
- Bem, as mulheres são sempre um mistério – Comentou divertido.
- Obrigada pelas informações, agora vá aguardá-la antes que acabe saindo
tudo errado.
Carmem parecia ter adquirido uma paranoia com relação às mulheres. Não
permitia nem que a secretária se aproximasse muito de sua mesa, tanto a moça
quanto todos os empregados perceberam que ela não agia mais com a naturalidade de
sempre. Via todas as funcionárias femininas como um pesadelo na sua vida. Na sua
cabeça, todas as mulheres tinham um desejo oculto ou uma tara escondida. Preferia se
proteger evitando qualquer contato com aquela espécie.
Carmem olhou para o relógio dando-se conta que estava dez minutos
atrasada para o encontro com o presidente da empresa Martan. Estacionou de
qualquer jeito diante do prédio elegante e entrou correndo detendo-se na recepção.
- Boa tarde! Tenho hora marcada com o Senhor Dantas...
- Senhora? – A voz masculina soou ao seu lado chamando-lhe atenção – É a
senhora Carmem Benvenutti?
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Carmem abriu um largo sorriso ao encarar o homem a seu lado.
- Sim, sou Carmem Benvenutti. É um prazer conhecê-lo Senhor Dantas.
- Creio que está havendo um engano, não sou o senhor Dantas. Vamos subir,
venha por aqui, por favor - pediu seguindo na frente dela.
Carmem suspirou seguindo-o até o elevador. O silêncio se instalou entre eles
ali. Quando a porta abriu no último andar, Ítalo saiu sorrindo para ela. Carmem se
adiantou falando agitada.
- Desculpe por ter pensando que era o senhor Dantas.
Ítalo parou diante de uma porta de vidro fosco voltando-se confuso para ela.
- Acho que houve um engano senhorita, não existe Senhor Dantas no controle
da empresa Martan. Aline Coeli Dantas dirige os negócios agora que seu pai se
aposentou, entre, por favor!
Ele abriu a porta e a boca de Carmem não fechou mais. Ela ficou em pé
olhando a mulher que se ergueu derramando charme, sensualidade e simpatia ao se
aproximar com a mão estendida.
- É um prazer recebê-la Senhorita Benvenutti. Entre, por favor! – pediu
amável. Aline ficou olhando-a caminhar até perto de sua mesa. Fechou a porta na cara
de Ítalo caminhando para o barzinho próximo a mesa – Aceita um drinque? Uísque
ou...
Carmem mal conseguia raciocinar, olhava para ela quase em transe.
- Senhorita? Algum problema? – Aline insistiu confusa com a expressão
estranha dela enquanto a olhava parada ao lado da cadeira.
- Oh me perdoe! Eu não a ouvi – Falou recobrando o controle de si mesma.
Carmem esteve perdida na ideia de fazer negócios com uma mulher. Até dois
dias atrás aquilo não faria a menor diferença. Agora pensava que as mulheres não
eram confiáveis. Principalmente as que usavam perfume francês. O cheiro delicioso de
Aline envolvia toda a sala. Sentia um tremor invadir seu corpo enquanto a olhava sem
ao menos piscar. O melhor a fazer era anunciar que tudo aquilo era um engano e sair
correndo dali, mas infelizmente não podia se dar ao luxo de perder um contrato com a
Martan, por isto faria aquele pequeno sacrifício que não deveria levar mais que alguns
minutos. Ouviu a voz dela novamente voltando de seus pensamentos íntimos.
- Aceita um drinque ou não? – Aline repetiu esbanjando sorrisos.
- Oh! Um uísque puro e duplo seria ótimo – respondeu sentando e colocando
a bolsa sobre as pernas. Em seguida olhou em volta fingindo admirar os quadros na
parede, mas não perdia Aline de vista – Tem uma sala divina, aliás, este prédio tem
uma arquitetura admirável. E as dimensões dos ambientes, tudo tão dinâmico hoje em
dia, não? Adoro a era moderna, antiguidades não são meu forte.
- É interessante saber disto depois de ter conhecido alguns dos seus
restaurantes. Eles têm um estilo de decoração bem místico. Até perguntei-me qual
seria a razão de tal fato, em restaurantes tão distintos – Comentou entregando o
drinque a ela. Neste momento Aline percebeu que Carmem apertava a bolsa entre as
pernas, olhando-a com desconfiança – Algum problema, Senhora Benvenutti?
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- Problema? Não, é que não posso perder muito tempo. Ainda não sei que
tipo de serviços a Senhora deseja.
- Claro! Preciso ser sincera quanto a isto, afinal passei dois meses entrando e
saindo de restaurantes, em busca de uma comida de qualidade para meus
funcionários. Tenho um problema sério de espaço que me impossibilita de abrir
refeitórios, por isto a chamei e tenho um contrato pronto para sua apreciação. Preciso
parabenizá-la pela qualidade que encontrei em seus estabelecimentos.
- Obrigada por suas palavras gentis. Posso ver o contrato agora?
Aline pegou a pasta entregando para ela. Como imaginou que seria Carmem
se dispôs a ler atentamente. Enquanto ela lia, Aline deliciava-se com sua beleza, não
entendia porque ela parecia tão assustada com tudo. Ergueu-se a percebendo
encolher na cadeira. Deu-se conta que aquela mulher linda sentada ali estava
morrendo de medo de alguma coisa. Seria convencimento demais imaginar que seria
relacionado à sua pessoa? Viu que ela estava terminando e voltou sentando em sua
cadeira. Cruzou as pernas esticando-as por baixo da mesa. Por sinal era uma mesa
belíssima, grande e moldada em mármore preto com tampo de vidro.
Carmem fechou a pasta erguendo os olhos satisfeitos.
- É um excelente negócio. Um contrato de dois meses é ideal neste momento.
Tenho toda a estrutura que atende uma empresa como a sua. Imagino que...
- Aguarde um momento – pediu pegando o telefone.
Carmem se calou aguardando paciente. Neste momento seus olhos caíram
nas pernas dela. Um par de pernas morenas, bem torneadas, lindas de morrer. Desviou
os olhos sufocada e num impulso ficou em pé de um salto. Sua bolsa caiu ao chão, e
antes que tivesse tempo de perceber o que se passava, Aline se ergueu dando a volta
na mesa e se inclinou, pegando a bolsa para ela.
Carmem abriu bem os olhos, quando percebeu a proximidade entre elas.
Aline sorriu, entregando-lhe a bolsa, amavelmente.
- Estas coisas acontecem Senhora Benvenutti! – falou afastando-se dela
tranquilamente – Ítalo vai trazer o folheto da empresa. Faço questão que o veja. São
três mil funcionários, gente demais para um só chefe. Ítalo é o meu braço direito, é ele
que cuida de muitos detalhes por mim. Meu pai tinha uma política diferente, porém
precisei modernizar.
Carmem sentou novamente pensando agoniada; “Acho que estou ficando
doida”. Passou a mão pelos cabelos enquanto seus olhos desciam pelo corpo
exuberante de Aline. Quando os ergueu, eles se encontram com os olhos dela e
Carmem ficou tão vermelha, que riu, comentando.
- O seu vestido é lindo! Gostaria de usá-lo um dia destes.
- Usá-lo? – Aline perguntou completamente perdida com aquele comentário
surpreendente dela – Quer usar este vestido?
Carmem riu tentando disfarçar aquela mancada terrível.
- Perdoe-me, sou muito impulsiva, penso e falo – Justificou rindo mais sem
graça ainda.
A porta abriu e Ítalo entrou trazendo o folheto.
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- Aqui está – sorriu entregando-o a Carmem.
Ela passou a ler com atenção. Havia uma foto de Aline abraçada ao pai, diante
da empresa. Devia ser uma foto recente, pois os cabelos estavam do mesmo tamanho.
Desceu os olhos pelo corpo dela na foto e ao perceber o que estava fazendo fechou o
folheto gemendo horrorizada.
Aline levou o maior susto e Ítalo arregalou os olhos surpreso.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Aline se aproximando.
- Não! Fique onde está! – pediu se erguendo e dando um passo para trás.
Notou a expressão de espanto dos dois sorrindo agitada – Mas que bobagem, adorei
cada detalhe. Fiquei emocionada e quero assinar logo este contrato... Onde deixei meu
copo? – perguntou olhando envolta a procura do copo confusa.
Aline olhou em volta, pegou o copo e entrou a ela sem esconder um ar de
espanto no rosto.
Carmem retirou uma caneta da bolsa. Levou o copo a boca bebendo o uísque
todo de uma vez.
Aline sorriu mais admirada comentando divertida.
- Bom, nota-se que é Italiana...
- Quem lhe contou que sou? – Rebateu desconfiada.
- Todos sabem nesta cidade. Basta ver seu sobrenome. Agora se quiser – falou
apontando a cadeira e abrindo o contrato sobre a mesa – Pode assinar, por favor!
Aquele jeito estranho de Carmem, em vez de esfriar a atração que Aline
sentia, provocou o contrário.
Quando Carmem terminou de assinar as três vias, estendeu a mão para ela,
transbordando de felicidade.
- Parabéns, Senhora Benvenutti, acaba de fechar um excelente negócio,
garanto que não terá porque se arrepender.
- Tenho certeza que isto não acontecerá Senhora Dantas! Agora preciso ir...
- Precisamos cuidar de alguns detalhes antes de...
- Oh, sim, mas terei um imenso prazer em receber o Senhor Ítalo para resolvêlos
– Informou sorridente – Se importa?
- Se eu me importo? – perguntou sorrindo graciosamente – Isto vai me poupar
muitos aborrecimentos. No tempo certo, teremos que nos encontrar. Como costumam
dizer: “Tudo há seu tempo”. Agora passe bem! – concluiu dando-lhe as costas,
sentando e mergulhando nos papeis que tinha sobre sua mesa.
Ítalo indicou a saída com um gesto. Novamente no elevador ela se lembrou
das palavras de Aline, perguntando curiosa.
- Ela é sempre assim? Quero dizer, eu não vejo o porquê daquela frase final.
- Aline é assim mesmo, mas um dia vai entender, garanto que ela nunca
mente.
- Gostaria que desse um recado para ela.
- Sim?
- Diga que prefiro tratar de negócios com o Senhor... Eu a acho...
- Sim?
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- Diga apenas isto, que prefiro tê-lo como intermediário.
Carmem percebeu que tinha tomado à atitude certa, quando começou a
encontrar com Aline, nos lugares mais diversos. Geralmente ela estava acompanhada
por Ítalo. De outras vezes estava com uma jovem que aparentava ter a idade de seu
filho, Ubiratan, dezenove anos.
Percebia que ela parecia nem se dar conta de sua presença e quando a via, a
cumprimentava com um gesto de cabeça, esquecendo-se dela imediatamente. Talvez
por isto tomou-se de uma curiosidade inconsciente. Passou a sentir um prazer cada
vez maior nesses encontros casuais. No seu ponto de vista, o fato de admirar e
observar Aline tinha uma explicação simples; Aline era uma mulher de sucesso com
ela, portanto, sentia uma admiração normal, no entanto a admiração foi crescendo e
ocupando um lugar maior na mente de Carmem. De tal forma, que agora se irritava
quando Ítalo aparecia para resolver qualquer assunto com ela.
Um mês tinha se passado e Carmem questionou Ítalo quanto à opinião de
Aline, queria saber se os funcionários estavam satisfeitos, mas principalmente se Aline
estava satisfeita. Ítalo respondia que ela estava satisfeita mudando de assunto com
diplomacia. Carmem ficava inquieta, quando estava em algum lugar e ela chegava.
Sentia ímpetos crescentes de se aproximar dela, mas sabia que não devia fazê-lo.
Afinal, ela era mulher e continuava usando aquele perfume francês, que lhe lembrava
o tipo de mulher que devia ser. Tudo seria bem melhor se a visse com algum amante.
Ítalo não parecia ser íntimo e a garota era nova demais, e podia ser até alguma
sobrinha dela. Se Aline tivesse um namorado, poderia se aproximar, mas se não tinha
preferia se manter afastada.
Novos encontros aconteceram e Aline continuava sozinha. Carmem estava
sempre com Helder. Estava quase completando os dois meses do contrato que ela
tinha assinado com a empresa Martan. Como tinha ficado combinado, dependendo da
satisfação dos dois lados, assinariam um contrato por um prazo maior. Carmem
pensava muito sobre isto e começava a temer um contrato duradouro com Aline.
Acabou decidindo que não iria renovar o contrato, quando se deu conta que andava
pensando nela até na hora que trabalhava. Os pensamentos não tinham nada demais.
Imaginava onde ela estaria se tinha amigos, se gostava de música ou se já teria um
amor. Já tinha a resposta e teria apenas que comunicar para Aline quando chegasse o
momento.
Sentada jantando com o filho e Dora, Carmem ouvia Ubiratan com atenção.
Tinha uma preocupação constante com ele.
-... Ai pensei que gostaria de conhecer minha namorada, mamãe.
- Ainda é muito cedo meu filho, você disse que estão juntos há uma semana,
não é? – perguntou afastando o prato.
- Sim, mas...
- Quantas namoradas já teve?
- Ora mamãe, já tive muitas, mas essa é diferente...
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- Na sua idade é normal pensar assim. Também penso assim quando início um
relacionamento. Todos pensam, até que termina e começa outro – explicou tranquila -
Acha que estou errada, Dora?
Voltou-se perguntando para Dora que comia em silêncio.
- Concordo que é cedo para trazer a garota aqui querido. Sua mãe tem razão.
- Mas prometi para ela que...
- Mulher nenhuma merece dedicação meu filho! Não dê nada a nenhuma
delas, além de sexo. É só isto que elas buscam, não sabia? Vivem se expondo e
mostrando o corpo. Quem te garante que sua namorada não está dando para outro
neste exato momento?
Ubiratan encarou a mãe perplexo com suas palavras. Dora terminou seu
jantar suspirando diante da tempestade que imaginou que viria com aquelas palavras
impensadas de Carmem.
- Mãe? Você tem consciência do que acabou de dizer?
- Claro! Acabei de abrir seus olhos. Sabia que as mulheres são capazes de ter
um filho para prender um homem? São todas, todinhas iguais seu purinho. As
mulheres não prestam!
- A senhora é uma mulher, não é? Como pode falar desta forma sobre as
mulheres?
- Aí está o ponto! Sou sua mãe, sou uma mulher honesta.
- Não concorda que existam exceções?
- Sim, infelizmente pouquíssimas! Tire essa ideia de trazer garotas aqui e viva
simplesmente. Aproveite a vida e use as mulheres como vocês homens gostam de
fazer o tempo todo.
- É isto que Helder tem feito com a senhora? Ele está te usando? Se estiver
você é igual a todas as mulheres...
- Eu uso Helder! É um gatinho em minhas mãos. Apenas um bobo que
domino. Mulheres espertas fazem isto com os homens bobos. Fuja de mulheres de
fibra e não será usado. Ninguém nunca me usou, homem algum, sou eu que os uso.
- Ora, você é desconcertante! – Esbravejou afastando a cadeira e saindo
furioso da sala.
Carmem revirou olhos comentando com descaso.
- Vê como os homens são todos uns tolos? Por isto são dominados...
- O que falou sobre as mulheres não foi certo, Carmem!
- Acha que devia ter feito elogios para elas? Acha possível se conheço todas as
artimanhas no jogo da conquista?
- O que somos capazes de fazer para conquistar é sempre valido no jogo do
amor. As mulheres são autênticas e muitas são melhores que muitos homens.
- As mulheres são...
- A mulher mascarada que te seduziu, talvez até seja uma mulher vulgar, mas
você não precisa generalizar julgando todas, sabia?
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Carmem estremeceu diante daquelas palavras. Sentia-se agradecida por ela
nunca mais ter tocado naquele assunto, e agora lhe jogava na cara. Afastou a cadeira
se erguendo deixando a sala sem retrucar.
As palavras de Dora fizeram renascer as lembranças daquela noite. Trancou-se
em seu quarto, recusando-se a receber Helder. Só sentia vontade de ficar em sua
cama, longe de todos. Sabia que no dia seguinte teria que desfazer o negócio com
Aline Dantas, e não conseguia evitar um sentimento de culpa, que estava nascendo
bem no seu íntimo. Não podia misturar negócios com sentimentos, porém Aline não
era melhor que qualquer outra e teria que se afastar de seu caminho o quanto antes.
No dia seguinte, na hora do encontro entre elas, Aline estava sentada do
outro lado da sala. Confortavelmente instalada num sofá de couro, balançava as
pernas esbanjando sensualidade. Usava apenas uma capa preta de couro, amarrada
por um cinto por cima dela. Seus olhos fixaram-se em Carmem parada na porta.
Imaginava o que estaria se passando na cabeça dela naquele momento. Isto porque
Carmem estava branca feito cera. As pernas tremiam tanto que o vestido que ela
usava balançava denunciando-a. Aline não entendia tal reação. Ela parecia morrer de
medo dela. Não fazia a mínima ideia do que acontecia com ela. Todas as reações de
Carmem era um grande mistério para ela.
Carmem deu um passo, mas parou erguendo a mão na direção dela. Seus
olhos desprenderam-se das pernas para fitá-la nos olhos.
- Nem vou sentar, só vim lhe dizer que não vou renovar o contrato. Vou
indicar uma firma que poderá atendê-la até melhor...
- Não discuto negócios em pé, Senhora Benvenutti! – cortou descruzando as
penas e caminhando até o barzinho – Um drinque puro e duplo, como gosta –
ofereceu apontando o sofá – Serei rápida e prática como deseja.
Carmem relutou, mas sentou. Encolhendo os ombros, escolheu um lugar
distante de onde Aline estava sentada. Aceito o drinque, abaixando a cabeça
timidamente.
Aline a observou com atenção e sorriu perguntando.
- Poderia me dizer por que se encolhe toda, quando vem aqui?
Carmem olhou de lado balançando a cabeça agitada.
- Não sei do que está falando, senhora Dantas!
- É muito simples, só quero saber por que não gosta de mim.
- Vim discutir negócios e não falar de outros assuntos.
- Muito bem! Disse que não vai renovar o contrato comigo? – perguntou
paciente diante dos olhos fugitivos dela – Foi isto mesmo que disse?
- Sim. Tenho motivos... Estou sobrecarregada e...
- Sobrecarregada?
- É... Nem calcula o quanto...
- Quer me convencer que a cadeia de restaurantes maior desta cidade, está
sobrecarregada para atender minha empresa?
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- Não... Não! Sim e não... Bom... O caso não é este, senhora Dantas –
conseguiu falar aos tropeços.
Aline ergueu as sobrancelhas levando o copo aos lábios lentamente. O
movimento foi tão sensual que Carmem tossiu se atrapalhando mais ainda.
- Não posso porque não posso. Está acabado, foi bom para a senhora, ótimo
para mim, agora podemos finalizar. O tempo... – Parou olhando o relógio mais
perturbada – Tenho compromissos...
- Acho que não – falou mansamente.
O tom da voz dela fez o coração de Carmem disparar mais no peito. Ela levou
a mão no peito murmurando confusa.
- Não entendi...
- Meus funcionários precisam das suas refeições. Não pretendo abrir mão do
nosso contrato. Pago muito bem, a senhora não tem do que se queixar. Não teve
problemas, ou teve?
- Não... Não... Claro que não... Só que a resposta é não, e não! Agora preciso
ir...
- Está disposta a indenizar minha empresa pela quebra de um contrato de
cinco anos que assinou comigo?
- O que quer dizer com cinco anos? Não estou compreendo aonde quer
chegar. Nosso contrato foi de dois meses – Falou remexendo no sofá inquieta.
- Então sugiro que releia o contrato que assinou – aconselhou passando a
pasta para ela – Creio que não leu muito atentamente da primeira vez.
Carmem abriu a pasta lendo mais atentamente que da primeira vez. A pasta
caiu de suas mãos e ela encarou Aline completamente pálida.
- Eu não assinei isto! – disse horrorizada.
- Mas claro que assinou. Não viu sua assinatura nas três vias? Foi registrado
em cartório. Ítalo entregou uma cópia para sua secretária, lamento se não teve tempo
para ler. Acaso está tentando insinuar que trapaceei de alguma forma?
- Apenas não assinei um contrato de cinco anos – respondeu se erguendo – O
contrato que assinei foi de dois meses. Tenho certeza! Tenho toda a certeza do
mundo! – explicou tentando manter a calma.
- Foi de cinco anos como pode ver!
- Não foi! – gritou furiosa desta vez.
- Se deseja levar as coisas para este lado, a decisão é sua. É muito rica e pode
pagar a indenização por perdas e danos que vou sofrer com a sua quebra de contrato.
Não vamos brigar, podemos resolver tudo sem problemas.
- Mas vai ser um escândalo. A imprensa não vai deixar passar sem me
crucificar. Meu Deus, eu...
- Sou uma pessoa honesta! Acabou de colocar isto em dúvida. Só pretendo
manter nosso contrato.
- Desculpe, mas foi desonesta comigo! – falou corajosa – Você me enganou
trocando os contratos.
- Pode provar isto?
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- Não... Mas... Podemos entrar num acordo e...
- Sugiro um jantar hoje à noite, senhora Benvenutti. Terá tempo para pensar
melhor e poderemos resolver tudo num ambiente neutro.
- Não... Não gosto de jantar... Não para discutir negócios... – Justificou
rapidamente.
- Não sou doente, pode aceitar sem medo!
- Bem, não posso mesmo...
- Então contrate um advogado desde já se não tiver um! – Concluiu
caminhando até a porta e abrindo-a – Passe bem!
Carmem abriu a boca e a fechou de novo. Pisando firme, passou por ela
engolindo em seco de tanta raiva.
Uma hora mais tarde, sentada em sua cama, Carmem discou o número do
telefone de Aline, com os dedos trêmulos. Não queria fazer isto, mas não tinha outra
opção.
- Desejo falar com a senhora Dantas – Informou anunciando seu nome.
Minutos depois ouviu a voz linda de Aline soar no aparelho.
- Alô?
- Onde nos encontraremos? – perguntou direta
- Oh, olá senhora Benvenutti. – falou sorrindo – Acho que agora que vamos
nos conhecer podemos cortar a senhora, não acha?
- Não! Não acho! Acho que tudo deve ficar como está! – respondeu nervosa
- Preferia tratá-la simplesmente por Carmem. Podemos nos encontrar no
“Mateus Bar”. Eles servem um peixe delicioso lá. Adoro frutos do mar, sabia?
- Frutos do mar? Também gosto! Camarões, ostras... – Carmem calou-se
percebendo que tinha se entusiasmado.
O que estava fazendo? Só queria romper aquele maldito contrato sem
maiores problemas. Por ela Aline podia até morrer com um peixe entalado na goela,
mas suspirou perguntando ansiosa.
- A que horas senhora Dantas?
- Às nove horas está ótimo. Vejo você lá.
Desligou dando um lindo sorriso para Ítalo que estava sentado diante dela.
- Ela vai. Chegou à hora de conquistar essa mulher maravilhosa.
- Você acha que vai conseguir conquistá-la? Ela parece estar sempre assustada
diante de você.
- Não sei não Ítalo, acho que ela já gosta de mim, embora não saiba ainda.
- Desculpe Aline, mas você já parou para pensar que ela é heterossexual?
- Eu também era. Casei-me com um homem, tive uma filha, mas sempre senti
atração por mulheres. Aliás, desde adolescente tinha fantasias incríveis com mulheres.
Sempre fui lésbica e se casei foi com certeza porque a família me levou a isto. A minha
mãe não sossegou enquanto não entrei naquela igreja.
- Entendo.
- Agora não seja curioso e me deixe trabalhar em paz – pediu gentil.
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Carmem entrou pontualmente as nove no restaurante marcado. Um garçom
aproximou levando-a ao encontro de Aline que aguardava por ela. Não gostou nenhum
pouco quando percebeu que ficariam num reservado. O garçom esperou que ela
entrasse e saiu fechando a porta. Voltou-se esbravejando e deu de cara com Aline.
Estava sentada na única mesa que havia ali, saboreando um drinque com um sorriso
divertido no rosto.
- Olá Carmem, venha sentar – convidou se erguendo.
Carmem se aproximou encolhendo quando Aline se inclinou puxando a
cadeira para que ela senta-se. Em seguida Aline sentou servindo um drinque para ela e
colocando-o na sua frente.
Carmem passou a mão pelos cabelos nervosa por estar sozinha naquela sala
com ela. Sentia o perfume dela envolvendo-a e precisava com urgência respirar ar
fresco. Com toda a certeza era aquilo que as mulheres usavam para seduzir, perfumes
como aquele que ela usava levava qualquer uma à loucura. Voltou-se para ela,
tentando acabar com aquela tortura.
- Podemos jantar lá fora, senhora Dantas? Não vejo porque temos que ficar
aqui... É tão abafado... – falou suspirando – Não circula o ar aqui, provavelmente
vamos morrer se não entrar um ventinho, então... – ela olhava para os lados já
tocando o pescoço parecendo realmente sem ar – Será que alguém já precisou sair
daqui numa ambulância? Deus... Acho que temos que pedir máscaras de oxigênio
antes... Antes que seja tarde demais para mim... Oh...
O ar no local circulava normalmente. O ambiente era extremamente
agradável, com lindos vasos decorativos de plantas naturais pelos cantos. No alto, nas
paredes havia janelas por onde entrava ar suficiente, porém eram janelas basculantes
que só podiam ser notadas se a pessoa olha-se para cima.
Aline que estivera observando o quase ataque de pânico dela, falou se
erguendo e indo até uma janela grande que abriu de uma vez.
- Perdoe-me! Agora se sentirá melhor – Aline desculpou-se voltando a sentar.
O vento da noite entrou espalhando o perfume dela para todos os lados.
Carmem ainda tinha a mão no pescoço e comentou desolada.
- Obrigada, acho que agora ficarei melhor, embora tenha minhas dúvidas.
Mas... O que deseja afinal? Por que estou aqui senhora Dantas?
- Desejo jantar, conversar e saber se pensou melhor quanto ao nosso contrato
– explicou muito tranquila – Espero que tenha pensando muito bem.
- A única coisa que penso é que fui enganada. Não estou levantando falso,
afinal, nós duas sabemos o que li naquele contrato – explicou o mais calma que
conseguiu – Gostaria de saber por que fez isto comigo.
Aline sustentou seu olhar sorrindo por fim.
- Tem toda razão, troquei os contratos depois que você leu o original! Tive
meus motivos para fazê-lo e não voltarei atrás.
- Quais foram estes motivos? Pensei que estava tratando com uma pessoa
honesta. Seu pai sempre foi um homem honrado! Era de se esperar que a senhora
também fosse.
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- Cuidado com suas palavras, podemos resolver da forma mais fácil ou da mais
difícil. Se me ofender posso me irritar realmente. Só desejo que sirva meus
funcionários. O que te custa fazer isto?
- Não disse antes, mas vou dizer agora, não gosto de fazer negócios com
mulheres – soltou zangada – Tenho a impressão que está pretendendo misturar
negócios com outro assunto.
- É por isto que treme de medo quando me aproximo de você?
- Isto é... É... Constrangedor – declarou completamente sem lugar.
A porta abriu e o garçom entrou empurrando um carrinho com as travessas.
Ele as espalhou na mesa, saindo em seguida. Novamente a porta se fechou.
Aline atacou uma ostra parecendo faminta. Carmem gelou por dentro quando
viu o movimento dos lábios dela sugando o alimento da concha pequena. Desviou os
olhos servindo peixe e salada no seu prato. Comeu literalmente de cabeça baixa.
Quando terminaram de comer meia hora mais tarde, Aline comentou sorridente.
- Pelo menos combinamos numa coisa, gostamos de frutos do mar.
- Creio que é apenas nisto. Agora me diga se vai cooperar me livrando deste
contrato absurdo.
- Ainda não sei, vai depender muito da sua atitude comigo no futuro. Acho-te
muito esnobe. Cansei de vê-la virando o rosto para mim quando nos encontramos pela
cidade. Sinceramente nunca entendi porque me trata com tanto desprezo.
- Já disse que não gosto de fazer negócios com mulheres! – respondeu seca.
- Por quê?
- Por que as mulheres não são confiáveis! Prova disto é a armadilha que você
me preparou.
- Decidi provar para você que algumas mulheres são confiáveis. Vamos ser
boas amigas...
- Nunca!
- O que disse?
- Disse... Nunca... Mas queria dizer que é possível – concertou forçando um
sorriso – Agora está tarde e...
- Sim! Tem razão! Continuaremos amanhã. Aceito jantar na sua casa se não se
incomodar.
Carmem abriu a boca para protestar, mas desistiu pensando melhor. Por isto
sorriu respondendo com ironia.
- Se for não será bem vinda senhora Dantas!
- Isto será por pouco tempo. Logo você vai se acostumar com a minha
presença e percebera que me julgou mal – Comentou em resposta – Não quero que
sinta ódio de mim e quero limpar minha barra com você.
- Vai ser difícil se não me livrar daquele contrato!
- Então te darei uma chance de me convencer a te livrar dele. Se conseguir eu
o rasgo e esqueço do assunto.
O coração de Carmem bateu rápido diante da possibilidade de convencer
Aline a rasgar o contrato. Saiu do reservado sem se despedir dela já pensando no que
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devia fazer, mas o caso não era o que devia fazer, e sim o que Aline gostaria que ela
fizesse. Carmem não queria pensar no que poderia ser, mas sentia um medo intenso
de que fosse o que estava pensando.
Carmem entrou na sala, na noite seguinte, observando a mesa com um rápido
passar de olhos. Serviu-se de um drinque, sentando e olhando o relógio distraída.
Neste instante o mordomo entrou acompanhando Aline. Carmem se ergueu
forçando um sorriso amigável.
- Senhora Dantas... Fique à vontade!
Voltou-se para o mordomo pedindo que servisse uma dose para a convidada.
O mordomo serviu deixando a sala. Dora entrou neste momento chamando a atenção
de Aline que ergueu as sobrancelhas atenta. Carmem percebeu o gesto apresentandoas
agitada.
- Esta é Dora Santini... Uma amiga! Dora? Esta é a senhora Aline Dantas.
“Senhora?” Pensou Dora estendendo a mão para Aline completamente
surpresa. Todos aqueles frutos do mar para um jantar com uma mulher? E uma mulher
sendo tratada por Senhora? Percebeu com um simples olhar que havia algo estranho
no ar. Carmem estava tão descontrolada que poderia explodir como uma bomba a
qualquer momento.
Aline estendeu a mão comentando gentil.
- É um prazer conhecê-la! Carmem não me falou de você.
- Ah não? Deve perdoá-la, ela costuma falar pouco sobre mim – Sorriu, indo
até o bar – Por acaso é Aline Dantas das joias Martan? – Perguntou sem conseguir
esconder a curiosidade.
- Sim, sou sim. Conhece as joias que criei?
- Claro! Amo as joias que você cria! Tenho algumas em meu poder. São
belíssimas! Seu trabalho é maravilhoso!
- Obrigada – respondeu olhando para Carmem ansiosa. Notou que ela olhava
para Dora profundamente, por isto falou chamando sua atenção – A sua casa é
lindíssima Carmem.
- Gostou? – Carmem se voltou perguntando.
- Sim, gostei demais.
- Está às ordens!
- As ordens? – Comentou admirada.
Dora sorriu percebendo as bobagens que Carmem dizia. Encarou Aline
imaginando se ela não poderia ser a mulher que cruzou com Carmem naquela festa a
fantasia. Algo a fazia sentir um clima no ar. Os olhos de Aline praticamente devoravam
o corpo de Carmem sem disfarçar seu desejo.
- Podíamos falar sobre negócios? – Carmem perguntou apreensiva.
- Negócios? Seria um desperdício numa noite linda como essa. Porque não
falamos de você e seu amigo Helder?
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Carmem pulou do sofá indo até o bar. O que ela sabia de sua vida pessoal?
Como se atrevia a abordar aquele assunto? Como sabia sobre Helder se nunca
conversaram sobre ele? Encheu seu copo, e voltou a sentar olhando-a ansiosa.
- Vamos ficar no campo dos negócios, por favor!
- Vamos falar de você e dele. Pretendem se casar?
- Não! Não vamos nos casar – respondeu séria – Satisfeita?
- Totalmente! Detestaria imaginar que vai se casar, logo agora!
Carmem engoliu em seco e Dora deixou a sala discretamente. Carmem viu a
porta se fechando e se voltou para Aline sorrindo.
- Bem senhora Dantas, vejo que tem algum interesse obscuro quanto a minha
pessoa... E vou logo avisando, que não transo com mulheres!
- Meu Deus! Mas o que pensa que eu sou? – perguntou fingindo horror – Acha
que sou uma lésbica em busca de diversão?
- Não sei senhora Dantas! Só sei que o meu lance é outro...
- Pois pode relaxar que comigo estará segura!
Suas palavras soaram tão sinceras que Carmem suspirou comentando
aliviada.
- Fico feliz que seja assim.
Estava realmente feliz. Passou a conversar com Aline mais tranquila. Quando
Dora anunciou o jantar foram para a sala de jantar.
Na sala Aline sentou observando as travessas encantada. Olhou para Carmem
comentando sincera.
- Você não faz ideia o que este tipo de comida faz comigo. Tem um efeito
arrasador.
- Bem, se não aprovou... – falou confusa com o comentário dela.
- Não! Aprovei sim – sorriu servindo ostras em seu prato – Só não têm para
onde direcionar tanta energia – completou olhando Carmem no fundo dos olhos.
Carmem abaixou os olhos passando a comer quieta. Aline conversou muito
com Dora. Quando o jantar terminou Dora se despediu deixando a sala. Carmem foi
acompanhar Aline até seu carro.
Lá comentou com Aline agitada.
- Não resolvemos nada, senhora Dantas.
- Acha que não? – perguntou abrindo a porta do carro.
- Nem falamos em negócios durante toda a noite...
- Falamos sobre coisas melhores.
- Não sei se...
Aline voltou-se agarrando o corpo de Carmem e puxando-a para si. O susto foi
tanto, que Carmem a empurrou chocada, mas Aline foi mais forte empurrando-a para
dentro do carro. Carmem caiu sentada e Aline veio por cima prendendo-a com seu
corpo.
- O que está fazendo? – perguntou olhando-a com horror.
- Psiu...
- Solte-me imediatamente – Ordenou tentando afastá-la.
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- Não perca seu tempo, só quero te desejar boa noite – confessou descendo
os lábios até os dela.
A boca dominou a de Carmem que gemeu involuntariamente.
Aline ergueu a mão acariciando os seios dela sem poder se conter. A boca
devorava a de Carmem que correspondia e ao mesmo tempo tentava empurrá-la de si.
Satisfeita, Aline afastou-se deixando o carro e Carmem largada sobre o banco.
Carmem deu um salto encarando-a furiosa.
- Como se atreveu a me beijar?
- Só te dei um beijo inocente de boa noite...
- Mulheres não se beijam na boca sua tarada. Pensa que sou este tipo que...
Que se deixa levar por mulheres desviadas como você?
- Desviada? Que coisa mais antiga...
- Indecente... Cara de pau...
- Eu te falei o que frutos do mar provocam em mim. É bem natural, pode estar
certa! Tente não se mostrar tão ofendida! Um beijo é uma demonstração de afeto.
Não deve ser respondido com um grito de guerra!
- Não pretendo permitir que se aproxime mais de mim! Levarei este contrato
adiante e é só isto! Nem tente aparecer mais na minha casa ou...
- Ou?
- Ou... Ora, vá embora! Deixe-me em paz – rebateu girando e correndo para
sua casa sem olhar para trás.
Carmem trancou-se em seu quarto. Ficou andando de um lado para o outro,
pensando no que iria fazer. Estava numa sinuca. Aline fez tudo para tê-la em suas
mãos. Com certeza faria ameaças e... Ora, que ameaça poderia fazer? Se cumprisse sua
parte do contrato ela nada poderia fazer contra ela. Só tinha que esquecê-la e seguir
como se aquele contrato fosse como outro qualquer.
Decidida se sentiu melhor, afina,l não seria tão difícil assim. Sorriu aliviada
vendo Dora entrar no seu quarto. Ela informou que Helder estava esperando por ela
na sala. Carmem suspirou indo ao encontro dele. Foi logo perguntando sem a menor
paciência.
- O que veio fazer aqui às onze horas da noite?
- Pensei que gostaria de me ver, já que...
- Só que não gostei, já estava deitada!
- Ora, mas que bicho mordeu você?
- Mulher é claro... Oh, não me desnorteie Helder, vá... Estou...
- Mulher? O que quer dizer com isto?
- Falei isto? O que tem se falei? Tenho funcionárias, acha que é fácil lidar com
elas? Todas aquelas TPMS... Ninguém aguenta, ah, falando nisto estou com TPM,
portanto, fique longe de mim.
- Mas querida...
- Ah Helder, preciso de ar, estou sufocando! Você é pegajoso e não
desgruda... Quero pensar um pouco, estou péssima, não tem nada haver com você.
Apenas me deixe sozinha uns dias. Eu procuro você quando me sentir melhor, tá?
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Carmem o acompanhou até a porta aliviada. Depois voltou para a sala com
passos lentos. Sentia o calor do beijo de Aline e mal se cabia de raiva porque seus
pensamentos se voltavam para a imagem dela a toda hora. Como que ela não era
lésbica? Devia ser distraída para sair beijando mulheres. Não queria mais sentir as
mãos de uma mulher em seu corpo. Precisava se afastar de todas, porque nunca sabia
de onde viria o ataque, qual delas iria agarrar seu corpo como a mulher da festa e
agora Aline. Aquilo era o fim. Será que tinha pinta de gay? Parou olhando-se no
espelho da sala confusa. Quem sabe tinha e não sabia? Ora era só o que faltava, não
existia mulher mais feminina que ela. Mas como explicar aqueles ataques que vinha
sofrendo? Só podia vê-los como ataques porque não os desejava. Desde a primeira vez
que viu Aline, sentiu que não podia confiar nela. Mesmo assim acabou caindo naquela
armadilha. Claro que ela premeditou armando aquela cilada para prendê-la numa
relação insana, ultrajante e vergonhosa. Sua boca queimava com o calor dos lábios
femininos e preferia morrer a admitir que sentisse algo além de asco com aquele beijo
ultrajante.
Aline desceu imediatamente quando foi informada que Arnaldo Dantas, seu
pai, estava esperando por ela no escritório de sua casa.
- Que bom que veio papai – falou beijando-o com carinho – Quando chegou
do Egito?
- Ontem minha querida. Fui almoçar na casa de Marta e fiquei sabendo da
festa a fantasias que você deu. Fiquei imaginando porque você daria uma festa na casa
de uma amiga tendo uma casa maravilhosa como essa. Será que tenho o direito de
partilhar dos seus segredos?
- Dei uma festa, não tem segredo nenhum... – riu pegando a garrafa de uísque
– Nada tenho para esconder de você.
- Então por que precisou se esconder atrás de uma máscara?
- Esconder? Ora...
- Estou esperando, Aline!
- Ah pai, você é impossível – riu caindo no sofá – É só uma pessoa que me
atrai. Bolei a festa e consegui me aproximar. Acha que um pequeno capricho meu
pode colocar os negócios em risco?
- Por que não deu a festa aqui? Por que está se escondendo?
- Foi só uma ideia divertida. Por que está sempre atento ao que faço papai?
Parece que me vê como uma menina! Por acaso acha que eu não soube educar sua
neta?
- Você é uma excelente mãe, apenas não entendo porque está se
comportando como uma adolescente.
- Só estou seguindo meu coração!
- Tudo bem filha, mas conseguiu conquistar seu objetivo com aquela festa?
- Você sabe... É uma pessoa difícil de conquistar. Se quiser saber cansei de
viver sozinha.
- Está pensando em se casar novamente?
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- Realmente só quero amar. Não estou fazendo planos para o futuro.
- E quando vou conhecer este seu pretendente?
Aline engoliu em seco tomando seu drinque pensando rapidamente.
- Acho que em breve... Ele é tão tímido. Deixe que as coisas aconteçam. Ele é
muito respeitador e isto vai levar um bom tempo.
- Você precisa ter um homem de verdade!
- Ele é, tenho certeza absoluta que é...
Ouviram Rita chamando por Aline. Ela respondeu e a filha de dezenove anos
apareceu ali se jogando nos braços do avô feliz.
- Que bom que voltou, já estávamos com saudades. Vocês estavam brigando?
– perguntou olhando para a mãe.
- Não! Só estávamos conversando. Como foi na faculdade? – Aline perguntou
se erguendo e abraçando-a com carinho.
- Foi um tédio! Sabe aquele rapaz que implicou comigo? Ele...
Ouviu-a com atenção. Conversaram e foram jantar os três. O clima era de
alegria e festa nesta noite.
Aline não ouviu mais as palavras da filha. Diante de si bailava a imagem de
Carmem. Aquela mulher roubou sua paz desde a primeira vez em que a viu. Um desejo
descontrolado nasceu em seu ser desde então. A ideia da festa foi dada por Ítalo.
Gostou logo da ideia já que o fato de estar usando uma fantasia seria perfeito para se
aproximar dela sem ser rejeitada. Naquela festa Carmem estava terrivelmente
entediada. Percebeu enquanto a observava. O tal de Helder parecia estar em outro
mundo e nem isto a irritou. Ela estava entediada andando de um lado para o outro.
Parecia uma barata sendo perseguida por um sapato gigante.
Quando saiu para o jardim percebeu que seria sua chance e a seguiu. Tocar
nela foi à coisa mais maravilhosa que lhe aconteceu. Ouvir seus gemidos enquanto
suas mãos corriam pelo corpo excitado, dar prazer para ela, sentindo quase o mesmo
prazer, como se estivesse sendo tocada da mesma forma, foi delicioso. Ela tinha
correspondido aos beijos apenas quando estava quase explodindo de prazer. Era
impossível explicar as delícias daqueles momentos.
A primeira vez em que a viu foi numa festa. Ela estava com Helder e não
conseguiu tirar os olhos dela um segundo sequer. Depois desta noite passou a vê-la
sempre. Só podia ser o destino que as fazia cruzar tanto e em diversos lugares. Ficou
na fase da adoração por dois meses. Então não aguentou mais e deu a festa só para
poder se aproximar. O que queria era justamente seduzi-la e foi o que fez. Foi assim
que entrou na vida dela e não pretendia sair mais.
Uma semana após o jantar com Aline, Carmem conseguiu relaxar um pouco.
Aline não voltou a procurá-la e Carmem torcia com todas as suas forças para não volta
a vê-la nunca mais.
No Sábado Carmem foi ao Shopping fazer compras com Ubiratan. Carmem ia
e vinha do vestiário desfilando as roupas para ele. O filho era fanático com roupas.
Vestia-se com muito luxo e estava sempre impecável. Adorava dar opinião nas roupas
da mãe, por isto ela o levava quando ia comprar roupas novas. Ele dizia que o estilo
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dela era clássico e que não sabia escolher suas roupas. Quando terminaram ele a
convidou para tomar um drinque. Sentaram e ele avisou que precisava dar um
telefonema para um amigo. Carmem não acreditou na desculpa. Tinha certeza que
tinha ido ligar para a namorada. Apreciava o drinque distraída quando seus olhos
caíram na figura de uma bonita mulher sentada num banquinho no balcão do bar.
Teve a impressão que ela olhava para ela. Mesmo assim olhou para trás, quase certa
que havia um homem ali e que ela olhava era para ele, mas só viu mesas vazias por ali.
Voltou-se vendo que ela vinha na sua direção.
Olhou para os lados assustada a procura do filho, mas nada dele. A mulher
parou diante dela dando um sorriso sensual. Engoliu em seco chocada com a forma
como ela a olhava neste momento.
- Pensei que não se importaria se tomasse meu drinque aqui, com você –
falou sentando sem pedir licença – Qual o seu nome? – perguntou apoiando as mãos
no rosto, olhando-a mais fixamente.
- Nome?... Meu nome? Ah...
- Você é uma graçinha, sabia? – perguntou num tom mais baixo – Adoro
mulheres tímidas, na cama são deliciosas.
- Olhe, acho que se enganou de pessoa! – Avisou olhando em volta a procura
do filho novamente. Precisava de ajuda. Aquela mulher estava louca. O que estava
dizendo? Estava perdendo a linha e não gostava daquilo. Tinha que sair correndo dali.
Precisava desesperadamente de ajuda antes que ela voasse sobre seu pescoço.
- Não precisa ficar nervosa, sou muito discreta – Avisou abrindo a bolsa e
colocando uma chave sobre a mesa.
Carmem olhou a chave ainda com a boca aberta. Encarou a mulher perdendo
a cor de vez. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo novamente com ela.
- Podemos dar uma volta. Tenho um apartamento...
- Oh pare antes que seja tarde demais! – pediu erguendo a mão horrorizada –
Não irei à parte alguma com...
- Ah, tudo bem, eu entendi – ela interrompeu interpretando mal as palavras
de Carmem – Vai ficar satisfeita com o valor que posso pagar. Não se preocupe com
detalhes. Quanto a sua conta aqui será um prazer pagar – ofereceu, descendo os olhos
pela camiseta simples e para a calça jeans desbotada. Nem o tênis escapou do seu
olhar curioso – Aposto que gostaria de ganhar um guarda-roupa novinho, não é?
O queixo de Carmem caiu. A boca aberta pelo choque não fechava mais. O
filho tinha razão quando a criticava por sua maneira de vestir desleixada. Aquela
criatura a estava confundindo com alguma pobretona morta de fome. Indignada, se
ergueu encarando a mulher furiosa. Nem se lembrou que estava num lugar público.
- Gente! Mas o que é isto? – falou colocando a mão na cintura – Qual o seu
nome? Fale logo seu nome e endereço que vou processá-la por insulto e tentativa de...
Mas onde nós estamos? Quem pensa que é? Você não me conhece, heim, eu vou
acabar com a sua raça... Polícia gente... Chamem a polícia! – Gritou indo até o balcão
onde havia um aparelho de telefone. Nessas alturas a mulher saiu do bar
apressadamente sem que ela se desse conta. Falava enquanto tentava discar sem
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conseguir – Onde já se viu uma coisa destas? Uma mulher descarada... Falando coisas
que...
- Mãe? O que está fazendo? – Ubiratan perguntou segurando o ombro dela
preocupado – O que aconteceu meu Deus?
Carmem caiu em si vendo que a mulher tinha sumido e todos os presentes
olhavam para ela admirados. Colocou o fone no gancho, falando baixo com o filho.
- Te espero no carro! Onde se meteu seu namorador de meia tigela? – rosnou
deixando o local, bufando de raiva sem olhar para trás.
Minutos depois ele chegou ao estacionamento carregando as sacolas que
Carmem abandonou para trás. Ela saltou do carro furiosa e deu um tapa na nádega
dele, disparando a falar desnorteada.
- Seu abandonador de mulher! Deixou-me sozinha no meio daqueles
selvagens! Ensinei-te que não se deixa uma dama sozinha a mercê de garanhões sem
o menor escrúpulo – esbravejava alterada – O que você aprendeu de bom que possa
colocar em prática seu... Seu...
- Mas mãe, só demorei quinze minutos! – falou perturbado - Quando voltei à
senhora estava gritando ao telefone, enquanto todo mundo no bar te olhava sem
entender nada.
- Eu é que sei o que houve! Sei o que passei e o quanto fui cantada, ofendida e
confundida com uma... Uma... Pessoa que não parece séria... E você é o culpado de
tudo que passei lá dentro!
Calou-se abrindo a porta e sentando ao volante. Ubiratan guardou as sacolas
sentando ao lado dela. Olhou-a paciente perguntando preocupado.
- O que aconteceu de fato lá dentro? Podemos fazer uma denúncia na direção
do shopping sobre a falta de segurança do local...
- O que? Você ficou louco? Expor-me desta forma? Nunca, jamais! – quase
gritou horrorizada – Foi apenas um atrevido que me convidou para ir ao apartamento
dele. Não me chame mais para sair durante um ano porque foi... Foi... Terrível tudo
que passei.
Carmem fingiu que estava prestando atenção na saída do estacionamento.
Ligou a seta saindo com o carro em silêncio.
- Está me dizendo que uma cantada te deixou descontrolada assim?
- Uma cantada muito mal dada seu insensível! – rebateu olhando-o
rapidamente – Tenho cara de mulher fácil?
- Não, mas é normal um homem passar uma cantada assim. Vejo meus
amigos...
- Não é normal coisa nenhuma! Isto prova que o mundo está perdido! Onde
ficam os direitos humanos? E os direitos das mulheres? Não se pode mais tomar um
drinque num bar que podem chegar e... E... Ir logo dando cantada, falando
obscenidades, afrontando e humilhando uma mulher da forma mais vil possível? Não
defenda! Deveriam amordaçar a boca delas, aliás, delas todas...
- Delas quem? – perguntou confuso – Não falou que um homem te cantou?
- Quem falou delas aqui? – rebateu horrorizada.
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- Você acabou de falar. Nossa, a Senhora está péssima!
- Estou péssima sim... Isto só vai passar depois de tomar um banho. Ninguém
suporta este calor infernal...
- Mas está fazendo um frio terrível – riu admirado desta vez.
- Não sinto frio, só sinto calor, tanto calor... Calor... Deus! Que calor é este? O
mundo só pode estar acabando, céus... Oh...
O calor que Carmem sentia, de fato era insuportável. O corpo todo
transpirava chegando a ensopar suas roupas. O mal estar que sentia só ela podia
entender. Como podia explicar para o filho o que vinha ocorrendo com ela? Como falar
de uma situação que ela própria, mal entendia e não aceitava. Não era fácil conviver
com a lembrança da noite da festa e só o que fazia era tentar não lembrar mais.
Primeiro aquela mulher daquela noite, depois Aline e agora uma completa estranha.
Precisava mudar seu destino e para isto precisava de Helder.
Naquela mesma noite ligou para Helder, saiu para jantar com ele e no final do
jantar disse que queria morar com ele. O rapaz quase desmaiou de susto, mas aceitou
na hora.
Carmem apreciou a primeira semana de convívio com Helder. Transavam toda
noite e era isto que ela queria e precisava. Transar com um homem, apenas com um
homem. Não podia dizer que se sentia a pessoa mais feliz do mundo, mas com certeza
estava bem mais tranquila, embora continuasse correndo das mulheres. Aline e
qualquer outra que tentassem se aproximar perderiam seu tempo.
Aline ficou paralisada, olhando a mulher divina que entrava no Scot Bar do
hotel Meridian. Passou um mês ocupadíssima com viagens urgentes e agora mal
acreditava que aquela era Carmem. Ela usava um modelo finíssimo de seda. O vestido
era branco, com um corte moderno que moldava seu corpo com perfeição
inacreditável. O decote da frente e o racho expondo a perna a tornava irresistível.
Viu quando ela sentou numa mesa do canto sozinha. Saboreava seu drinque
olhando pela janela distraída.
Aline pediu que mandassem seu drinque para mesa dela se aproximando sem
ser notada. Puxou a cadeira sentando diante dos olhos horrorizados de Carmem.
- Faz algum tempo que não nos vemos, mais de um mês. Temos negócios em
comum, se lembra?
Observou aguardando a tensão crescente em Carmem. Além de ter ficado
muito vermelha, ela tremia visivelmente, olhando-a como se visse um fantasma.
- Você não tem o direito de estar aqui...
- Tanto tenho que estou!
Carmem tremeu mais sufocando sua raiva. Aline batia os dedos na mesa
demonstrando uma impaciência que nunca tinha percebido nela.
- Decidiu manter nosso contrato, estou satisfeita com isto. Meus funcionários
estão satisfeitos. Nós duas estamos agradando a todos.
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- Sou muito honesta em negócios e se assinei um contrato no escuro, mesmo
assim cumpro a minha parte, senhora Dantas!
- Senhora Dantas novamente? – Perguntou com ironia.
- Estou esperando um amigo. Podia dar licença, por favor? Ele deve estar
chegando...
- Quero conversar com você em outro lugar – Informou se erguendo.
- Não vou conversar nada com...
- Não estou brincando! – Falou se controlando – Poderia agir como uma
pessoa adulta ao menos uma vez na vida?
- Muito bem senhora Dantas, mas não temos...
- Você é uma mentirosa Carmem!
- O que? Mentirosa? Eu? Nunca falei uma...
- Está morando com aquele homem! – falou agarrando o braço dela – Vai
subir logo antes que eu perca a cabeça na frente de todos aqui – Explodiu andando
com ela até a recepção do hotel.
Carmem quase morreu quando ela pediu um quarto. Subiram juntas no
elevador sem se falar. Aline abriu a porta do quarto indicando que ela entrasse
primeiro. Fechou a porta e sorriu percebendo o pavor nos olhos dela.
- Não me diga que está imaginando que vou agarrá-la! – Comentou sem
disfarçar certo desprezo na voz.
- O que deseja de mim? – perguntou e viu o barzinho. Suspirou falando
ansiosa – Preciso beber alguma coisa. Não aguento isto... Estou aqui num quarto de
hotel... Nem sei se sairei viva daqui... Oh... Preciso de forças novamente...
Aline sentou no sofá passando a admirá-la com prazer. Era uma mulher
realmente bonita. Estava a ponto de explodir. Iria agarrá-la. Ela iria dar muito pra ela,
ah se ia, pensava suspirando tamanho o seu desejo contido por ela.
Carmem sentou no outro sofá bem afastada dela. Olhou-a perguntando
sufocada.
- O que quer senhora Dantas? Por que essa conversa num quarto de hotel?
Acha que pode me intimidar?
- Intimidar você? Estou fazendo isto?
- Olhe aqui, isto é ridículo! A senhora disse... Disse que não era... Lésbi... Ca...
Lésbica e, no entanto me diz coisas contrárias. Até me beijou e me insultou com
aquele beijo. Realmente nada tenho contra homossexuais. Eu... Eu... Eu juro; juro que
entendo a posição deles. A senhora é uma pessoa inteligente e com certeza entende a
minha posição também, não é?
- Qual é a sua posição? – Perguntou erguendo-se e se aproximando dela com
passos lentos – Seria a de alguém que detesta homossexuais? Ou seria de alguém que
os aceita, mas morre de medo de se identificar?
- Nada disto... Eu até já defendi os gays quando alguém os criticou perto de
mim – Falou aos tropeços diante do olhar desafiador dela a sua frente – Sabe que a
sociedade não aceita, mas eu... Nossa... Aceito tanto, mas tanto que surpreendo as
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pessoas, e sou tão cabeça aberta, isto é tão natural, não sabe o quanto acho natural –
parou rindo sem graça.
- Natural? O amor é natural Carmem, muito natural – sorriu sentando ao lado
dela.
- Sim... O amor é natural...
- Os homossexuais amam profundamente, são pessoas normais, às vezes,
mais comuns que os heterossexuais, mas existem pessoas como você, que pensa que
não temos sentimentos – falou agarrando os ombros dela de uma vez. Carmem se
encolheu arregalando os olhos – Você pensa que somos doentes, sujas, nojentas não
é?
- Não... São adoráveis... Maravilhosas... Sempre digo... Que são...
- Mentirosa! – sussurrou aproximando os lábios dos dela – Por que está
tremendo tanto então? Você morre de medo de mim porque sou lésbica, não é?
Morre de medo de gostar de mim. Aposto que fica fantasiando como eu chupo... À
noite na sua cama você se toca depois que aquele bobo dorme, imaginando a minha
boca na sua buceta gostosa...
- Oh... Socorro... Eu... Vou desmaiar a qualquer momento... Meu Senhor... Vou
gritar, sei que vou, vou embora... Preciso ir depressa... Oh, sabe se deixei meu carro
diante do hotel? Senhora Dantas, a senhora me ofendeu profundamente! Não posso
ouvir tamanha afronta, acho que vou te dar um tapa para aprender a me...
O tapa foi dado, mas não por Carmem e sim por Aline. Carmem levou a mão
ao rosto caindo em si. Tinha entrado em pânico de novo, sabia que perdia o controle
diante de uma mulher. Sabia que Aline a deixava desorientada. Estar ali naquele
quarto com ela e ouvir o que ouviu foi o fim do seu controle. Tentou se erguer, mas
Aline a prendeu contra o sofá falando preocupada.
- Você está tendo uma crise de pânico, calma, já vai passar, fique quieta aqui.
- Oh... Aqui? Não estou segura aqui... Eu...
Aline não aguentou mais se segurar. Mergulhou a boca neste momento na de
Carmem. Precisou o corpo contra o dela forçando-a contra o encosto do sofá. Carmem
caiu em si tentando afastá-la, mas Aline agarrou-a com mais força entreabrindo a boca
dela com a língua afoita.
A beijou por alguns instantes parando o beijo e olhando nos olhos dela. Viu
tanto temor neles que gemeu confessando.
- Sou uma lésbica sim e quero você Carmem. Não consigo pensar em nada que
não seja te possuir e fique certa que vou ter você. A culpa é sua se sinto este desejo
descontrolado...
- Não...
Carmem sentiu as pernas bambeando quando ela voltou a mergulhar a boca
na sua. Fechou os olhos furiosos. Como ela tinha a ousadia de culpá-la por sentia
aquele desejo? Sentiu-a se erguendo e puxando-a na direção da cama. Tentou
empurrá-la, mas ela a prendeu novamente. Sentiu seu corpo caindo na cama e ela veio
deitando sobre ele. Tentou empurrá-la novamente, mas Aline sorriu agarrando suas
mãos.
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- Não lute comigo! Quero você e vou te ensinar a amar outra mulher – Gemeu
começando a abrir o vestido dela por trás.
- Não faça isto... Não... Não suporto o seu... Toque...
- Mas subiu para um quarto comigo não foi, senhora Benvenutti? – perguntou
voltando a beijá-la – Não a obriguei a vir até aqui...
Carmem não fez nada quando seu vestido foi parar no chão. Fechou os olhos
quando viu Aline se inclinando sobre seus seios. Não podia nem queria ver o que ela
faria no seu corpo. Porém não ver era uma coisa, não sentir era outra. E claro, todo o
seu corpo estava reagindo com as carícias dela. Sua mão brincava em seu sexo,
levando Carmem para um mundo de prazer alucinante. Em meio aos gemidos de Aline,
ela se afastou arrancando a calçinha. Carmem olhou confusa, pois ela não se despiu.
Só entendeu quando ela ergueu o vestido levando a mão de Carmem até o seu sexo,
mas Carmem não teve coragem. Olhou para ela ansiosa, queria explicar que não
conseguia, não estava nela, apenas não a conseguia tocar. Ficou surpresa ao ver o
estado de excitação em que Aline se encontrava. Mais surpresa ficou quando ela
começou a penetrá-la olhando-a nos olhos.
- Toque em mim Carmem... Por favor, me toque... – gemeu voltando a levar a
mão dela para o seu sexo.
Carmem puxou a mão desafiando-a com o olhar. Os lábios de Aline voltaram a
descer para os seus. Depois desceram pelo pescoço e voltaram ao seu ouvido.
- Gostosa... Sente como é bom? – perguntou passando a mover o corpo sobre
o dela desvairada, sem deixar de acariciar a parte íntima de Carmem – Não prenda seu
gozo, solte tudo pra mim... Dê-me, me molhe toda...
Meia hora mais tarde Carmem pegou seu vestido no chão sem olhar para
Aline. Queria morrer! Queria pular num penhasco e já cair morta para não ter que
sentir aquela vergonha e aquela sensação. Vestiu o vestido e depois a calçinha. Calçou
os sapatos finos e pegou sua bolsa no sofá. Foi até a janela vendo seu carro parado em
frente ao hotel. Suspirou se voltando e encontrou os olhos fixos de Aline sobre ela.
- Preciso ir – falou fugindo dos olhos dela.
- Vai fugir de mim, Carmem? – perguntou acercando-se dela no meio do
quarto – Vai simplesmente fugir depois de gritar de prazer nos meus braços? Vai negar
que adorou aquela chupada, vai? Vai negar que adorou dar gostoso para mim?
Aline estava furiosa por Carmem não ter correspondido ao seu ardor. Mal
correspondeu aos beijos, mas no final, explodiu num gozo selvagem. Gritou tanto de
prazer, que Aline gozou sozinha sem ajuda dela.
- A senhora é extremamente deselegante falando assim comigo. Queria me
comer, já comeu! Queria me chupar e me possuir? Então já o fez quantas vezes quis –
falou olhando-a de forma orgulhosa – Mas não sou lésbica, ouviu? Sou uma dama e
quero ser tratada como uma. É assim que se passam as transas entres as mulheres? –
perguntou sentida – Depois de tudo jogam na cara da outra?
- Transar não é exatamente a questão! Existem sentimentos, mas parece que
você é boa demais, para se deixar envolver.
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- Por que tenta levar as coisas para este lado? Só me reservo o direito de
preferir homens, senhora Dantas! – rosnou furiosa – O que pensa sobre mim não me
importa, tenho minha consciência tranquila, não me deito à noite, e passo horas sem
dormir. Eu deito e durmo! Eu sou limpa, nunca me sujei tocando um corpo igual ao
meu!
- Você não sabe o que está falando, não entendeu nada do que se passou
entre nós! E o pior é que não vai entender nunca, não é? Você foi criada num
ambiente recalcado demais para entender certas relações. Muito bem então, continue
limpa! Eu sei o que se passa na alma de mulheres como você, a frustração é tanta, que
nem se atrevem a desviar o nariz para nada além de um pênis torto!
Carmem engoliu em seco, sentindo uma pontada no peito. Virou-se pegando
o primeiro objeto que viu e atirou na cabeça de Aline furiosa. O cinzeiro de vidro
atingiu Aline bem na testa. Ela levou à mão a testa e no mesmo instante sua mão ficou
banhada em sangue.
- Queria ver se sou como você? Precisava ver meu sangue para acreditar que
sou humana como você? Com certeza acha que sou de outro planeta por desejá-la...
- Eu... – calou-se vendo o sangue descer pela face dela em abundância – Não
pretendia machucá-la, só...
- Não se preocupe, não vou morrer por isto. Pode ir sem medo, não vou
romper o contrato por isto. Nós só estamos começando essa guerra. Prepare suas
armas, pois não pretendo poupá-la... Sua medrosa! Agora suma da minha frente!
Carmem passou tão apressada pelo hall do hotel, que nem se lembrou do
encontro com Helder, no Scot Bar. Seguiu para sua casa, em vez de ir para o
apartamento onde estava morando com ele.
Carmem entrou em sua casa aos prantos. Jogou-se nos braços de Dora
passando a contar tudo que aconteceu entre ela e Aline no quarto do hotel. Quando se
acalmou foi até o bar olhando-a de lá com a expressão ainda assustada.
- Nem sei como tive coragem de atirar aquele cinzeiro nela... Eu não sabia o
que estava fazendo – suspirou parando e servindo os dois drinques para elas – Tenho
medo que ela conte para imprensa ou para a polícia que nós estávamos...
- Não teme que ela morra sangrando naquele quarto? – perguntou aceitando
o drinque.
Carmem a olhou com espanto. Não tinha lhe ocorrido, que Aline poderia
morrer. Sentou sentindo a cabeça girar de repente.
- Será que eu a matei? Céus! Serei presa... Ficarei anos atrás das grades...
Senhor! Serei agarrada por todas aquelas mulheres famintas por sexo... Oh, preciso de
um advogado, ele... Ele cuidará de tudo... Mas isto não é possível, Dora socorro! Não...
Ela já deve ter ido para um hospital. Não foi tão grave... O sangue... Ele... Às vezes nos
engana, Dora! Eu...
- Calma Carmem – riu pegando as mãos dela entre as suas – Você é muito
dramática e exagerada. Provavelmente ela já deve ter sido atendida num hospital sim.
Não pense tantos absurdos assim.
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- Sim, tem razão, não devo pensar o pior. Ai Dora, acho que estou nas mãos
dela mais do que queria estar. Não entendo como não tive forças para correr daquele
quarto. Quando ela me jogou na cama eu fiquei... Ai Senhor, que loucura, uma
mulher... – suspirou desolada.
- Foi diferente da noite da festa a fantasia?
- Como diferente? – perguntou confusa.
- Você gostou mais desta vez?
- Mas eu não gosto de... De... Mulher, Dora!
- Não? Você ficou super excitada quando sentiu que era uma mulher na noite
da festa. Lembra?
- Não me lembre disto, não gosto de falar daquela noite – pediu virando o
rosto.
- Com certeza aquela noite foi mais fácil de aceitar porque você estava de
máscara. Você não sabia quem era a mulher e ela pode não saber quem é você...
- Pode não saber? – perguntou nervosa – Claro que ela não sabia quem eu
era!
- Mas ela podia saber quem você é Carmem! Acho estranho que você se sinta
tranquila com o que aconteceu na festa e se sinta tão mal com o que aconteceu hoje.
- É porque hoje foi com alguém que conheço e que sei que pode voltar a me
procurar.
- Ora, se é tão ruim diga que não deseja nada com ela então.
- Não é tão fácil... Aline, ela... Ela me intimida. Eu fico sem ação quando ela
aparece. Ela me disse cada coisa que tive vontade de matá-la!
- Vai contar para Helder?
- Eu? Nunca! Claro que não!
- Então se ela voltar a te procurar vai permitir tudo de novo?
- Não! Nunca mais! – falou apavorada – Esta mulher despertou o meu lado
violento. Eu nem sabia que era capaz de agredir alguém desta forma.
- Ah Carmem, não sei o que te dizer querida! – confessou confusa.
- Não gosto mesmo nada disto, mas por outro lado, senti um prazer tão
intenso que fiquei com medo.
- Precisa avaliar melhor seus sentimentos com relação a ela. Só aí vai poder
entender seus temores – aconselhou sorrindo – Mas devia ligar para saber como ela
está passando.
- Quero que ela morra! – explodiu furiosa – Quero que ela morra, mesmo! – e
subiu correndo para o seu quarto onde se trancou caindo num pranto desolado
novamente.
No hospital, Ítalo recebeu Rita e Arnaldo na antessala do apartamento. Não
demorou muito para ele tranquilizar os dois. Aline seria liberada ainda naquele dia,
mas devido à gravidade do corte, o médico a deixou em observação por algumas
horas. Levou vinte e quatro pontos acima do cílio esquerdo, e por pouco, não perdeu a
visão.
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Rita cobriu a boca quando viu o grande curativo que cobria parte do rosto da
mãe. Arnaldo se aproximou beijando a filha com um olhar terno.
- O que fizeram com você, minha filha?
- Está tudo bem papai. Não quero que fiquem preocupados, estou muito bem.
Doe bastante, mas estou tomando o remédio que fará efeito logo. O médico quer que
eu fique em casa por uns quatro dias. Vai ser um problema com os negócios.
- Eu cuidarei de tudo até você voltar – o pai falou solidário.
- Que bom papai, sabia que poderia contar com você. Na verdade eu...
Deitada no sofá, já em sua casa, Aline se lembrava dos momentos em que
teve Carmem em seus braços. Não era claro, a lembrança mais doce, mas tinha estado
com ela. O comportamento de Carmem foi uma decepção. Começava a pensar que
não teria bons momentos com aquela mulher cheia de pudores, medos e ataques de
pânico. Aquele tapa foi à única forma de deter o descontrole dela depois de ouvir algo
tão íntimo. Devia ter achado obsceno ou coisa pior. Algumas mulheres eram assim,
podiam fazer, mas não aceitavam que se falasse sobre o assunto. Carmem devia ser
daquela forma, mas não iria desistir antes do tempo, precisava ser paciente
entendendo o lado dela. Aquilo era novo em sua vida e ela tinha que se acostumar
com a ideia. A esperança não iria morrer enquanto se lembrasse da noite da festa.
Carmem se entregou, mesmo lutando intimamente. Aline precisava agora mostrar a
ela que nem tudo era uma fantasia, como naquela noite. Eram as mesmas pessoas, e
podiam se entregar, sem ajuda de máscaras.
Carmem segurou o buquê de rosas sorrindo feliz. Helder com certeza quis lhe
fazer uma surpresa. Dora entrou na sala neste momento. Carmem passava ali todas as
tarde antes de ir para o apartamento.
- Não vai ler o cartão? – Dora perguntou admirando as rosas lindas.
- Helder anda tão amável depois que fui morar com ele – comentou pegando
o cartão com um sorriso doce – Coitado, tão apaixonado por mim... – parou de falar
neste instante começando a ler o cartão. Estava escrito a mão e Carmem estremeceu,
assim que percebeu que não era de Helder. (A máscara caiu diante das amantes, sem
fantasia e sem nenhum medo de se darem. É assim que te espero um dia, querida
Carmem! Só desejo te amar... Enquanto durar o amor, enquanto arder o desejo, seja
apenas minha...). – Oh... Oooooooo – Gritou fechando o bilhete e correndo para a
janela. Olhou de um lado para o outro horrorizada. Fechou as cortinas depressa
correndo pela sala.
Dora a olhava completamente chocada.
- Meu Deus! O que está acontecendo, Carmem?
- Fui descoberta, Dora! É o fim para mim! A mulher... A mascarada da festa
sabe quem eu sou. Preciso correr antes que seja tarde demais. Senhor! Socorro! Ela vai
aparecer aqui, conhece meu endereço. Mandou rosas... Ai... O que eu faço? Tenho que
deixar a cidade, talvez o país, eu... Já sei que ela vai contar para todo mundo. Todos
vão saber que eu dei naquela estufa! Não existem segredos, um dia tudo é revelado...
Meu carro? Deve estar na entrada, não é? Eu... Vou me esconder em algum lugar... –
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falou correndo para a escada e foi onde Dora a alcançou virando-a para si de uma vez.
O tapa atingiu a face dela de uma forma que Carmem arregalou os olhos perguntando
chocada – Nossa Dora, porque me bateu assim?
- Você estava tendo um ataque, agora melhorou, já voltou ao normal. Agora
me deixe ver este bilhete. Sente ai no sofá e se recomponha. Se seu filho te vires assim
vai achar que ficou louca!
Carmem caminhou para o sofá sentando muito quieta.
Dora leu o bilhete com atenção voltando-se para ela.
- Por que você sempre quer sair correndo? Nem parece uma mulher adulta,
que coisa! Problemas precisam ser enfrentados e não abafados.
- Eu sempre enfrento meus problemas...
- Na vida profissional você enfrentar sim, mas na vida pessoal você é um caos
com você mesma.
- É, creio que você tem certa razão – concordou com desânimo.
- Você tem que ser prática como é com os negócios. Não pode ficar se
escondendo de alguém que não conhece. Você podia tentar conseguir a lista das
pessoas que foram naquela festa. Quem sabe assim, podemos encontrar essa mulher
misteriosa, Hem?
- É! Você tem razão. Vou procurar Marta agora mesmo.
- Então procure e descubra o que puder e fique calma – aconselhou olhando-a
com carinho.
Carmem sorriu para ela se aproximando com uma expressão de
arrependimento.
- Você tem sido tão boa comigo e eu fui tão dura com você. Eu... Sinto muito,
me perdoe! Estou aprendendo a confiar em você e a te amar. Obrigada por me apoiar
assim.
- Sou sua mãe Carmem, só o que desejo é te ajudar e tirar essa agonia de
dentro de você.
- Tá, obrigada.
Marta sorriu quando soube que Carmem Benvenutti desejava vê-la. Conhecia
Carmem há muitos anos. Antes de se casa tinha saído muito com ela para paquerar.
Tinham sido boas amigas, porém o seu casamento e depois a morte do pai de Carmem
as tinham afastado de vez. A última vez que se falaram foi na noite da festa a fantasia.
Afinal, imaginava perfeitamente o que ela desejava saber.
- Carmem minha querida, que bom que veio me ver – disse abraçando-a na
sala de sua casa – Deseja beber alguma coisa? Um café, suco?
- Um uísque seria mais apropriado – Riu esfregando as mãos.
- Perfeitamente! – sorriu indo servir o drinque – Mas que bom te ver
novamente. Como você tem passado?
- Vou indo... Um pouco perdida... Ah, tantas coisas acontecendo, mas...
Desculpe, perguntou como tenho passado? Eu...
- Parece confusa querida o que houve? Está com problema?
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- Sim, estou sim. Um problema que tem se arrastado. Aqui... Ali na sua
estufa... Oh, bem, conheci uma mulher lá e... Preciso saber...
- Espere; se acalme! Você conheceu uma mulher aqui em casa?
- Oh... Conheci sim... Senhor! Socorro! Desculpe... Conheci na noite da festa a
fantasia...
- Calma!
- Tá.
- O que você quer saber?
- Dela, quero saber dela! Quem é ela... Preciso saber quem é para dar um
basta, um fim no... Oh... Bobagem, só preciso saber, são negócios, quero concluir um
negócio com ela.
- Não sabe o nome dela?
- Nome? Quem pergunta nome quando tá... Tá... Ah, se tivesse perguntado
teria sido bem pior, não, não e não... Mas é tão simples... Precisa ser mais simples...
Estava lá olhando as estrelas, o barulho... Precisava de um lugar tranquilo... Assim... Eu
preciso saber dela.
- Você disse que quer fazer negócios com ela. Supus que tivessem
conversando a respeito naquela noite.
- Ah, não deu tempo não... – Ela se ergueu levando a mão a garganta –
Desculpe Marta, tenho ficado um tanto ansiosa. Preciso prestar atenção ou acabo
tendo uma crise de pânico, mas é engraçado, e o pior é que sempre fico sem saber
onde deixei meu carro. Pode uma coisa dessas? Mas ele está sempre parado na frente,
se bem que tem dias que eu o perco mesmo... Dei pra isto agora.
Voltou a sentar olhando para Marta super ansiosa.
- Preciso encontrar essa mulher. Você ainda tem a lista com o nome das
pessoas que vieram na festa naquela noite?
- Desculpe, mas joguei a lista fora depois da festa. Não tinha porque guardála,
não é mesmo? Mas sei o nome de todas que vieram na festa.
- Bem, então talvez se lembre de Aline Coeli Dantas... Talvez ela tenha vindo à
festa...
- Oh não, ela não veio na festa não. Até foi convidada, mas não apareceu.
- Sei...
- Algum outro nome que queira saber?
- Oh, numa festa como aquela podem ter entrado penetras, e vai que eu...
Ai... Pode ter sido qualquer uma... Socorro, Senhor! Preciso de ajuda...
- Calma Carmem, mas o que é isto? Não pode se descontrolar assim não. Olhe
seu drinque, tome querida – falou entregando o drinque que ela nem tocou.
- Sim, obrigada.
- Não é impossível que tenha entrado alguns penetras, mas por quê?
Aconteceu algo na festa?
- Oh... Na estufa, só cruzamos... Nada demais... Obrigada pelo drinque – Sorriu
entregando o copo vazio – Desculpe tomar seu tempo.
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- Que nada, gostei de te ver! Soube que está morando com Helder. Como vão
as coisas agora? Ah, ele é tão bonito...
- Sim, lindo e maravilhoso, mas tem todos... Todos os defeitos que todos os
homens tem... Não levanta a banca... Larga as roupas todas jogadas... Hum, não sabe
fazer aquele sexo oral, sabe? Do jeito gostoso... Ai, quando ele vem me da até
preguiça, invento logo uma dor de cabeça. Porque isto Marta, olha, cá pra nós,
ninguém chupa melhor que uma mulher...
- Mulher? Você já fez sexo oral com uma mulher Carmem?
- Eu? Meu Deus, claro que não! Apenas escuto falar, dizem que as lésbicas são
ótimas, apenas isto.
Seu rosto estava tão vermelho que Marta sorriu comentando.
- É, tem razão, já ouvi falar também, mas não é a minha praia mesmo. Você
tem vontade de experimentar?
- Eu? Longe de mim, prefiro nem saber como fazem... Está ficando tarde,
tenho que ir...
- Ah, você soube que Aline sofreu um acidente? Fui visitá-la, levou vinte e
quatro pontos no rosto.
- Oh... Que horror! Não sabia... A violência deste mundo está terrível...
Como... Como ela está passando?
- Está melhor, mas de repouso em sua casa.
- Que bom saber. Vou indo – falou beijando o rosto dela – Nos encontramos qualquer
dia. Beijos querida!
Uma semana mais tarde, Carmem ainda se perguntava por que tinha falado
logo o nome de Aline para Marta. O contato para assinar um contrato com a Martan
tinha surgido depois daquela festa. Se Aline fosse à mulher da festa e das rosas,
saberia com estava lidando e poderia enfrentá-la cara a cara, mas quase um fantasma
era o pior dos problemas.
A agitação íntima de Carmem começou a ser notada por Helder. Voltou a ficar
paranoica e cada mulher que cruzava era supostamente a mulher da festa. Andava
agitada quase o tempo todo e em sua cabeça vinha imagens de Aline sangrando na sua
frente a todo o momento.
Dora mostrou a notícia do acidente com a milionária Aline Dantas nos jornais.
Não davam grandes detalhes, só informavam que estava se recuperando em casa. Ela
teria sido atingida por um objeto de metal num restaurante. Carmem ficou aliviada por
ela não ter contado a verdade, mas sentia-se culpada e não conseguia esquecer seu
gesto impensado. Com certeza Aline devia estar furiosa com ela, e acalmá-la caso
desejasse se vingar, seria um grande problema.
Vinte dias após a briga com Aline, Carmem gelou, quando sua secretária
informou que Aline Dantas desejava vê-la.
Carmem pulou da cadeira e abriu a porta encarando Aline parada ao lado da
mesa da sua secretária. A primeira coisa que viu foi à marca acima da sobrancelha.
Saber que tinha feito àquela cicatriz deixou-a apavorada. Reuniu forças convidando
amável.
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- Entre, Senhora Dantas!
Aline passou por ela encarando-a até sumir no interior da sala. Carmem a
seguiu sentindo que algo estava diferente nela. Poderia ser a cicatriz que mudou um
pouco seus traços ou poderia ser só a raiva contida naqueles olhos negros.
Carmem fechou a porta e ouviu a pergunta dela silenciosa.
- Gostou da cicatriz? Está satisfeita agora?
- Deus sabe que não tencionava... senhora Dantas – Respondeu sentando em
sua cadeira rapidamente – Posso arcar com todas as despesas do hospital e de futuras
cirurgias que deseje fazer para...
- Não farei nenhuma cirurgia e você terá que ver o que fez a cada manhã que
acordar ao meu lado – respondeu jogando uma pasta preta na frente dela – Eu te darei
dez minutos para ler e cinco para decidir o que fará. Procure não ter uma crise de
pânico porque será pior para você, pois estou cansada dos seus chiliques. Está na hora
de agir como uma mulher menos descontrolada. Pode ler senhora Benvenutti!
Carmem leu estarrecida. Tinha o contrato que assinou por cinco anos e além
dele tinha assinado uma procuração passando todos os seus bens para Aline. Ergueu a
cabeça olhando-a com horror.
- Como pode fazer isto comigo? Como pode me enganar assim?
Você tirou tudo que tenho sua...
- Olhe! Cuidado com as palavrinhas feias – avisou sentando diante dela –
Vamos ser práticas, afinal não é tão sério desde que concorde com o que eu desejo.
- O que deseja senhora Dantas?
- Primeiro, deixe Helder Melo, ainda hoje! Faça o que quiser, mas se livre
dele...
- Como ousa... – quase gritou se erguendo da cadeira furiosa.
- Se vai agir assim posso...
- Não, eu quero ouvi-la – falou, sentando novamente – Continue.
- Venha morar comigo numa casa que acabei de adquirir para nós duas. Tive o
cuidado de escolher num bairro próximo a sua casa e a minha casa. Você não poderá
contar sobre isto para ninguém. Se contar, ficará na miséria!
- Vamos morar juntas escondidas de todos? – Perguntou incrédula.
- Sim – concordou com os olhos brilhando – Ninguém saberá que mora com
uma mulher. Pensei em tudo para não prejudicar a sua imagem.
- Você é completamente louca!
- Talvez, agora me diga se concorda ou se prefere perder tudo que tem –
exigiu olhando a sala toda com ar de dona – Claro que herdando essa pequena
empresa, terei que fazer mudanças. Começando por essa sala... Vou colocar um...
- Vejo que não tenho outra opção – falou com lágrimas escorrendo pelos
olhos.
- Sinceramente não. Pode ir ao cartório e verificar para o seu maior conforto.
Sempre tomo cuidado com meus negócios e...
- Está bem, farei o que quer! – avisou sentindo uma raiva imensa dela.
- Que ótimo! Estou adorando fazer negócio com você – falou rindo feliz.
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- Pode-me dizer quando ficarei livre deste negócio?
- Não podemos estipular tempo para uma convivência humana.
Espero não ter que aguentar queixas, pirraças, ataque de pânico, mau humor
e, principalmente frieza. Você será feliz se abrir seu coração, Carmem!
- Nunca senhora Dantas! Eu irei e é só isto! Suas regras não me interessam!
- Ótimo! Noto que é uma mulher sábia, senhora Benvenutti! Passarei em seu
apartamento para buscá-la às nove da noite. Mandei preparar um jantar especial para
nossa primeira noite. Passe bem!
Uma hora mais tarde, Helder implorava enquanto Carmem andava de um lado
para o outro fazendo suas malas. Carmem disse apenas que não o amava mais. De fato
não amava mesmo, gostava dele, nada mais que isto, mas deixá-lo para ir viver com
Aline arrasava Carmem em todos os sentidos.
Duas horas depois ela saiu com sua mala na mão e lágrimas nos olhos.
Carmem chorava não por deixar Helder, mas de ódio de uma mulher chamada Aline
Dantas.
Carmem olhou em volta sem interesse. Aline deixou uma de suas malas no
meio da sala, voltando-se para ela.
- E então? Gostou do nosso lar?
O olhar frio de Carmem foi ignorado por ela. Aline abriu uma porta mostrando
a sala de refeições. A mesa estava posta para duas pessoas.
- Pode subir e tomar um banho, vou tomar um drinque te esperando aqui
para jantarmos.
Carmem sentiu ímpetos de matá-la, mas de novo a cicatriz a fez pensar
melhor. Pegou suas malas seguindo pelo corredor que a levou até o quarto. Bem no
centro do quarto tinha uma cama de casal imensa. Era maior que as comuns e Carmem
desviou os olhos preferindo não olhá-la. Furiosa pegou o telefone discando para Dora.
Nunca em sua vida sentiu tanta falta da mãe como naquele momento. Quando ouviu a
voz dela sentiu um alívio incrível. Começando a chorar, ela falou entre soluços.
- Mamãe... Estou com Aline... Preciso de você...
- Carmem? O que aconteceu querida?
Dora a ouviu em silêncio. Quando terminou de contar à cilada que Aline lhe
preparou, Dora suspirou desanimada.
- Carmem, isto é muito sério, não sei nem o que te dizer.
- Ela pensa que é dona do mundo e eme tem na palma da mão. Amanhã
estarei ai bem cedo, então poderemos conversar. Boa noite.
- Boa noite e tente ficar calma.
Sentada diante de Aline, Carmem não tocou na comida. Usava de forma
displicente um pijama de calça e blusa. Aline a sua frente comeu todo o tempo em
silêncio. Quando terminou de jantar, Aline ergueu os olhos, observando o prato vazio
diante dela.
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- Assim vai morrer de fome, Carmem...
- Não tenho a menor vontade de comer da sua comida!
- Faça como quiser. Agora vamos para nossa cama.
No quarto, Aline foi direto para o banheiro. Carmem estava sem lugar, não
sabia se deitava logo, estava ansiosa. Iria ter que dar pra ela, seria como da última vez,
ficaria dura, sem reagir. Se ela achava que iria abrigá-la a ceder daquela forma estava
muito enganada. Parou ao lado da cama quando Aline entrava no quarto. Sentou na
cama levando o maior susto, pois o colchão era d’água. Ela afundou desengonçada
soltando um grito de susto com aquilo que não esperava.
- Oh meu Deus! Mas o que é isto?
Aline simplesmente voou para o colchão neste momento. Pareceu uma
criança brincando de pula-pula do seu lado. Ela virou para o canto apagando o abajur
sem falar nada com ela. Carmem do seu lado imaginava como iria dormir naquele
colchão esquisito. Além disto, estava mais tensa porque imaginava que Aline iria
agarrá-la a qualquer momento, mas perdeu seu tempo, pois Aline dormiu alguns
segundos depois sem lhe desejar boa noite.
No dia seguinte, Carmem acordou sozinha. Olhou o relógio e deu um salto ao
perceber que eram nove horas da manhã. Passou metade da noite tentando entender
o que estava acontecendo. Se Aline a queria ali como amante, como podia dormir sem
tentar nada? Sem conseguir achar uma explicação, acabou adormecendo as quatro da
manhã. Sem contar o colchão que a incomodou extremamente. Ela tinha feito aquilo
de maldade. Lógico que ela não dormia num colchão insuportável como aquele. Só
queria torturá-la e castigar por ter sido tão fria quando transaram naquele quarto de
hotel.
Passou a parte da manhã desabafando com Dora. A tarde foi trabalhar
sentindo-se um caco por causa da noite mal dormida.
Aline entrou em casa às nove da noite. Carmem já estava deitada quando ela
apareceu no quarto. Aline tomou um banho sem falar com ela e foi até a sala servindose
de um drinque. Tomou pensativa e voltou para o quarto decidida. Parou diante de
Carmem suspirando ao vê-la virar o rosto com desprezo.
- O que está achando de morar com uma lésbica? – Perguntou com ironia –
Está sendo tão ruim quanto imaginou?
- Gostaria de dormir se não se importar – Respondeu fria.
- Sem dúvida Carmem. Como foi no trabalho hoje?
- Não é dá sua conta o que faço do meu tempo!
- Pelo contrário minha querida, tudo que faz do seu tempo é da minha conta –
Riu sentando ao lado dela e agarrando seus ombros. Seus olhos passearam pelo pijama
masculino que ela usava com interesse. Carmem sentiu seu corpo arder com a força
daquele olhar. Aline sorriu aproximando os lábios dos dela – Gosta de trajes
masculinos, hem? – E seus lábios caíram nos dela num beijo intenso que minou todas
as forças de Carmem. As mãos de Aline buscaram os seios acariciando-os excitada.
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Com agilidade soltou os botões expondo os lindos seios. Não olhou para Carmem,
apenas mergulhou a boca nos seios excitados que chamavam por ela. Enquanto o
fazia, livrou-a da calça do pijama e da calçinha. Uma das mãos mergulhou no sexo sem
disfarçar o desejo. Ouviu o gemido dela e sentiu o corpo dela se mexendo excitado.
Continuou nos seios por mais algum tempo, indo de um biquinho ao outro fora de si.
Ela estava gemendo e se dando de uma forma deliciosa. Aline desceu rápida
mergulhando a língua no sexo dela faminta. Não se fez de rogada quando ela passou a
mover o sexo contra sua boca. Ela nem se lembrava mais quem a estava tocando, só
queria gozar e Aline sabia bem disto. Fez loucuras com a língua nela até senti-la
explodindo em sua boca. Ficou ali por alguns instantes deliciando-se com o sabor dela,
mas Carmem se encolheu timidamente e ela afastou-se indo silenciosa para o
banheiro.
Por um mês inteiro Carmem viu sua rotina mudando completamente. Depois
do trabalho ia para a casa ver a mãe e o filho, fazia hora lá de propósito para irritar
Aline. Ia cada vez mais tarde para a casa dela, mas sempre que chegava ela estava
muito calma esperando-a para jantar. Lógico que jantava com a mãe e o filho, fazia isto
para pirraçá-la também. Voltar tarde, não jantar com ela, não tocá-la quando a
procurava na cama, não conversar com ela, tudo isto fazia para irritá-la porque sabia
que ela iria se cansar em algum momento e a deixaria voltar para sua vida normal. Não
que aquela vida com ela não estivesse sendo normal. Não podia negar que ela fazia
sexo deliciosamente bem. O orgasmo que tinha com ela era inexplicável. Nunca sentiu
nada parecido com homem nenhum, mas ser obrigada a viver com ela e transar
naquela condição era demais. Não aceitava e por isto não fazia nada para facilitar a
situação para ela.
Ao final daquele mês, Aline encontrava-se realmente em apuros com o pai e a
filha. Tentava contornar a situação, mas não era nada fácil. Arnaldo queria conhecer o
tal rapaz com o qual ela disse estar vivendo. Não deu para contar a verdade, ao menos
ainda não tinha tido coragem. Afinal Carmem estava vivendo com ela obrigada, se
fosse numa outra situação já teria contado.
A filha também se queixava de sua ausência. Era complicado lidar com aquilo
e tentava convencê-la sem muito sucesso.
- Vocês precisam entender que tenho minha vida. Estou com a pessoa que
amo. Um dia vão conhecer, pra que apressar as coisas?
- Temos o direito Aline, você está nos excluindo de sua vida – o pai falou
magoado.
- Não estou não pai, por favor! E você Rita, tente entender melhor minhas
necessidades. Não abandonei você, é só que...
Mas Arnaldo não se contentou com a negativa dela. Naquela mesma noite,
Aline estranhou quando a campainha tocou. Estava jantando, mas como de costume
Carmem não comia nada. Ficava sentada lá com a cara mais fechada do mundo diante
dela.
- Quem será meu Deus! – Aline suspirou se erguendo.
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- Era só o que faltava você convidar alguém para vir aqui para me fazer passar
essa vergonha – Carmem comentou agitada.
- Ora... – mas seguiu até a porta e abriu-a dando de cara com o pai. Arnaldo
passou por ela como um raio e foi entrando casa adentro. Aline parou atrás dele na
sala de jantar. Ele olhava horrorizado para Carmem. Nesta noite ela usava uma
camisola com um robe por cima.
Carmem se ergueu confusa diante daquele homem a sua frente. Arnaldo se
voltou para a filha, furioso.
- Um homem, hem? Eu devia ter imaginado que era algo vergonhoso! Como
pode fazer isto comigo e com sua filha? Não tem dignidade? – Gritou fora de si.
- Acho melhor o senhor se acalmar... – pediu gentil – Eu posso explicar...
- Pode explicar que tem uma amante? Como vai explicar para sua filha? Como
vai explicar para a sociedade?
- Com Rita eu me entendo, quanto à sociedade não devo satisfação da minha
vida. Por que tem que se meter? Por que teve que vir aqui? Pois bem então, agora já
sabe, só espero que me respeite e me aceite como eu sou.
- O que você é? Uma lésbica? Claro que não aceito!
- Bem, então respeite se mantendo longe desta casa.
- Farei isto com toda certeza.
- Será melhor para todos nós...
Ele voltou-se para Carmem que olhava dele para Aline de boca aberta. Não
sabia que Aline tinha uma filha e não sabia que estava escondendo deles o fato de
estar vivendo com ela. Não seria o momento ideal para sair daquela fria? Só teria que
contar para aquele homem que estava ali contra sua vontade e ele a ajudaria com
certeza, mas simplesmente não teve coragem de abrir a boca. Nem quando ele gritou
com ela naquele momento.
- E você, é muda por caso? Não vai dizer nada? Sua sem vergonha...
- Não fale assim com ela, pai! – Aline o cortou entrando na sua frente – Esta é
a minha casa e terá que respeitá-la! Sua raiva é contra mim, não contra ela. Se não
aceita que eu goste de mulher sinto muito por você. Se não pensar de outra forma não
vou considerá-lo mais.
- Sou eu que não te considero mais como minha filha! – Rosnou deixando a
casa sem olhar para trás. Aline engoliu seco seguindo para o quarto emudecida.
Carmem ficou onde estava sem saber o que devia fazer. Como poderia imaginar uma
coisa dessas? Aline então não era o tipo de pessoa que vinha imaginando. Teve todo o
cuidado para que a família não ficasse sabendo de sua vida íntima. Estava os
protegendo e ele não deu nenhuma chance ao descobrir a verdade. Lembrou-se de
Dora e da forma como ela a consolava desde que tudo começou. Era nos braços dela
que costumava chorar durante o dia. Lembrou que algumas noites acordava com uma
perna de Aline sobre as suas e voltava a dormir sem afastá-la. Perguntava-se se aquilo
não era uma aceitação muda daquela situação. Ela nunca estava na cama quando
acordava. Não sabia como ela conseguia, mas ela sempre saia antes que acordasse.
Talvez a estivesse poupando-a de vê-la ao despertar pela manhã.
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Elas tinham uma convivência silenciosa a maior parte do tempo. Aline
aparecia na hora do jantar e depois não saia mais de casa. Ela costumava ler na cama,
antes de dormir. Ligava a televisão de outras vezes e viam com a luz apagada. Em
algumas noites ela se virava do nada e tomava seu corpo com uma fome que deixava
Carmem queimando de desejo. Ela adorava beijar e costumava ficar beijando-a por
longos momentos. Agora não falava mais quando a amava. Só ouvia seus gemidos de
prazer. Sabia que ela se controlava ao máximo para não pedir a participação dela.
Realmente não a tocava, mas aqueles beijos não resistia e correspondia com todo o
ardor.
Nada tinha progredido entre elas. Eram duas estranhas que dormiam juntas
todas as noites. Carmem percebia os olhares gulosos dela por seu corpo. Percebia
também o esforço que ela fazia para se controlar. Aline suspirava muito até conseguir
pegar no sono. Rolava na cama fazendo barulho no colchão d’água. Carmem sabia que
viviam atormentadas e nada mexia tanto com ela do que saber que Aline suspirava por
ela.
Carmem interrompeu seus pensamentos se dando conta que Aline não
voltara para a sala. Tinha planejado passar o sábado com Dora e Ubiratan, já que ela
não pedia para ficar em casa durante o dia, nos fins de semana. Seguiu para o quarto e
entrou percebendo que ela estava deitada. Despiu-se no escuro, vestiu o pijama e se
deitou ao lado dela. Tentou fazer o mínimo de barulho possível. Neste momento Aline
estendeu a mão para o criado e acendeu um cigarro virando de costas para Carmem.
Carmem pensava em algo para dizer. Aline estava magoada com o pai e não
custava consolá-la com uma palavra amiga.
- Acho que com o tempo seu pai vai aceitar senhora Dantas!
Dava-se conta do quanto era ridículo usar aquele senhora, mas não queria
que Aline confundisse as coisas. Era apenas uma palavra amiga para ajudá-la.
- Estou rezando para que aceite mesmo – falou baixinho sem se mover.
- Os pais são sempre assim. Até nós acabamos sendo como eles. Às vezes sou
insuportável com meu filho, mas a verdade é que cada um tem que decidir sua própria
vida sozinho...
- Você aceitaria se o seu filho fosse gay?
A pergunta pegou Carmem de surpresa. Ficou calada pensando na pergunta.
Aceitaria se Ubiratan fosse gay? Só conseguia pensar que se ele fosse não poderia
mudar seu caminho a força. Com certeza aceitaria para não perder o seu amor.
- Eu aceitaria sim, teria que aceitar – respondeu um tempo depois.
- Então você mudou muito.
Carmem ficou muda sem retrucar. Sentiu um grande alívio por Aline também
se calar. Era melhor que cada uma ficasse com seus próprios pensamentos. Aline com
seus problemas e ela com seus tomentos. Quando Aline não lhe deu o direito de
escolha, preparou seu coração para aquela vida ao lado dela. E agora, pensava apenas
que um dia faria sua mala e deixaria aquela casa, mas não lhe importava muito que
demorasse a acontecer. Não entendia como, mas agora se sentia mais tranquila de
alguma forma.
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O sábado amanheceu chuvoso. Carmem acordou umas três vezes pela manhã,
mas nem abriu os olhos voltando a cochilar. Fora novamente dormir de madrugada.
Aquilo estava se tornando uma rotina. Abriu os olhos preguiçosa. Ficou quieta olhando
o quarto, tinha certeza que estava sozinha, por isto se virou espreguiçando-se
escandalosamente. Ficou dura assim que viu Aline deitada, olhando-a fixamente.
- Bom dia Carmem – falou adorando aquela intimidade entre elas – Dormiu
bem?
- Pensei que tivesse... Não vai sair?
- Não, hoje é sábado, prefiro ficar em casa.
- Ah...
- Vou trazer seu café – falou se erguendo – Deseja suco?
- Não se preocupe, posso muito bem cuidar disto sem sua ajuda!
- Fique onde está – Aline falou irritada – Vamos tomar café na cama, por isto
fique bem quietinha ai.
- Se pensa que manda em mim, sua...
Carmem calou-se diante do olhar gelado que recebeu. Ajeitou o lençol e virou
o rosto, deitando no travesseiro.
- Assim é melhor – riu saindo do quarto satisfeita.
Aline voltou com uma bandeja farta. Colocou-a no colo de Carmem e pulou de
propósito na cama feito uma criança, fazendo a bandeja balançar perigosamente sobre
as pernas dela. Assustada, Carmem agarrou a bandeja, lançando um olhar furioso para
ela.
- O que está tentando fazer?
- Só estou deitando ao seu lado. Adoro comer na cama. Aliás, adoro ficar na
cama...
- Péssimo gosto por sinal! – respondeu sem permitir que ela terminasse de
falar – Camas foram feitas para repouso e não para fazer refeições nelas.
- Não sabia que tinha este humor negro pela manhã – comentou caindo na
gargalhada – Sabia que toda mulher frustrada acorda assim?
- Não sou frustrada, para o seu governo sou bem ajustada. Por que não me
deixa em paz?
- Claro que deixo, então vamos comer.
Carmem sentiu novamente aquele ímpeto de agredi-la, mas se conteve
olhando para o outro lado. Já começava a comer perto dela, embora não gostasse. Não
gostava de dar nenhum tipo de prazer para Aline. Preferia vê-la se irritando quando
não aceitava o seu comportamento.
Após o café Aline retirou a bandeja, colocando-a na mesinha. Carmem viu as
belas pernas dela de fora. Aline sempre dormia com uma camiseta larga. Carmem
costumava ignorar quando ela comentava em certas noites: “A camiseta é bem mais
confortável que estes pijamas pesados que você usa, Carmem.”
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45
Neste momento Aline estava de costas e Carmem notou até que ela usava
uma tanguinha preta. Virou o rosto se maldizendo por estar olhando as partes íntimas
dela.
Aline voltou para a cama, pulando feito uma criança de novo. Carmem fez
menção de levantar, mas Aline agarrou sua cintura puxando novamente para a cama.
- Onde pensa que vai? Não percebeu ainda que quero ficar na cama com
você?
Aline veio por cima prendendo o corpo dela com um sorriso nos lábios.
- Não gosta de fazer amor num colchão d’água? – perguntou no ouvido dela -
Não acha excitante?
- Por favor...
- Por favor, digo eu, seja boazinha querida – Aline pediu enfiando a mão por
baixo da blusa dela e tocando os seios com desejo – Sei que está fazendo isto de
propósito para me irritar. Não quero mais brincar e não vou deixar que faça isto
conosco. Você me quer mais do que imagina...
- Não, não quero não...
- Você quer sim – riu rasgando o pijama dela desta vez. Os botões voaram
para os lados assustando Carmem. Ela tentou se encolher, mas Aline não permitiu.
Tirou a sua camiseta e a tanguinha numa rapidez incrível. Depois livrou Carmem da
Calça e da calçinha. Ajoelhou no colchão puxando Carmem para ela.
- Pode olhar meu corpo, não tenha vergonha.
Aline colou seu corpo ao dela, saboreando aqueles lábios que tentavam se
negar a serem seus. Pacientemente foi envolvendo-a num beijo enlouquecedor.
Forçou-o até entreabrir a boca dela com a língua. Carmem não aguentou mais,
passando a corresponder ao beijo desesperada. As mãos de Aline acariciavam os seios
arrancando gemidos deliciosos de Carmem. Apertou o biquinho de um dos seios
arrancando um gritinho dos lábios dela. Carmem estava rebolando já em busca do
prazer. Excitada Aline passou a beijar o corpo dela por inteiro. Deitou-se sobre ela,
roçando o sexo contra o dela enquanto a enchia de beijos excitantes.
Carmem sentia seu corpo latejando de desejo. Estava molhada e louca para
gozar. Queria dar pra ela. Queria que ela a possuísse logo e tinha vontade de gritar
para que ela fizesse mais rápido. Odiava-se por isto, mas quando Aline alcançou seu
ventre penetrando-a de uma forma deliciosa, jogou o corpo contra sua mão soltando
gemidos descontrolados. Carmem agarrou sua nuca puxando-a para mais perto.
Entreabriu os lábios recebendo os de Aline com imenso prazer.
Aline teve ímpetos de gritar quando sentiu a mão de Carmem buscando seu
sexo naquele instante. Percebeu a timidez dos dedos ao tocá-la, sem se importar.
Passou a mexer-se sobre ela, ajudando, sem parar de beijá-la. Quando começou a
tremer descontroladamente, Carmem segurou com a mão livre sua cintura para não
perdê-la. Aline se jogou para o lado, sem parar de beijá-la. Buscou-a novamente mais
ansiosa agora, louca para dar a ela o mesmo prazer que recebeu. Por fim, sorriu
escondida, quando Carmem gozou intensamente jogando o corpo contra o seu.
Compreendeu muito bem a timidez que ela sentiu em seguida. Carmem se encolheu,
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escondendo o rosto no travesseiro. Aline abraçou-a por trás, fechando os olhos. Assim
adormeceram sem permitir que as palavras quebrassem o encanto daquela entrega.
Carmem acordou duas horas depois sentindo o corpo de Aline colado ao seu.
Ficou quieta ouvindo sua respiração profunda por um longo tempo. Não abriu os
olhos, só se perguntava como iria encarar Aline depois do que aconteceu. Com muito
cuidado, tirou o braço de Aline de sua cintura e saiu da cama vestindo o robe que
estava na cadeira. Sentia uma fome louca e foi direto para a cozinha. De repente sentia
vontade de ocupar seu tempo. Por isto decidiu fazer o almoço. Serviu um drinque e
passou a dedicar-se totalmente a culinária.
Por mais que as lembranças bailassem em sua mente, tentava ignorá-las
totalmente. A sua única preocupação era com o que Aline poderia pensar dali para
frente. Porque para ela, nada havia mudado. Continuava pensando que duas mulheres
não deviam se envolver daquela forma.
Aline parou na porta da cozinha olhando encantada para Carmem. Seu
coração continuava sobressaltado por Carmem ter correspondido as suas carícias.
Agora ela estava ali cozinhando tranquilamente, dando a impressão que tudo tinha em
fim, entrado nos eixos. Mesmo assim Aline falou com cuidado com ela.
- Precisa de ajuda?
Carmem estremeceu. Não tinha coragem de encará-la, por isto respondeu
num tom quase inaudível.
- Obrigada, já estou quase terminando.
- Posso ao menos colocar a mesa para você?
- Se quiser... Mas não é mesmo necessário.
- Então vou temperar a salada – falou aproximando da travessa bonita, mas
parou, pois Carmem se voltou de um salto encarando-a ansiosa.
- Por favor, deixe-me terminar aqui. Quero ficar um pouco sozinha.
Aline sentiu uma dor forte no peito. Entendeu naquele momento que tudo
continuava como antes, tanto que Carmem nem conseguia olhá-la nos olhos.
- Bom, então vou dar uma volta. Quer que eu traga algo para você? Estamos
precisando de algum mantimento?
- Pode trazer manteiga e pão por enquanto.
Aline saiu a pé mesmo, não estava disposta a dirigir e muito menos queria ter
saído de casa, mas queria ficar um tempo longe de Carmem, ao menos até ela ficar
menos tensa. Teriam que ter uma conversa e esperava cheia de ansiedade que
Carmem conversasse com ela de igual pra igual desta vez.
Duas horas depois estavam sentadas, uma diante da outra, comendo em
silêncio, até aquele momento Aline não tinha tido coragem de abordá-la. Seus olhos se
encontravam e ela só conseguia ver mágoa naqueles olhos negros que tanto adorava.
Carmem parecia ter consciência do momento difícil que estavam vivendo,
mas Aline tinha certeza que ela não admitiria jamais. E pela primeira vez desde que
tudo tinha começado, Aline pensou que tinha tomado o caminho errado com ela.
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Pensou que a atitude mais acertada seria entregar a procuração e deixá-la livre. No
entanto, o medo dela nunca mais lhe dar atenção era maior que tudo.
Carmem a fitou neste momento perguntando curiosa.
- Está gostoso? Fiquei com medo que essa carne perdesse na geladeira.
- Está uma delícia! Você cozinha muito bem! – respondeu olhando-a no fundo
dos olhos – Não me admira ter tanto sucesso com os seus restaurantes... Precisamos
conversar Carmem. Você quer conversar?
- Não. Acho que devíamos esquecer tudo que aconteceu.
- E pensa que vou conseguir esquecer? Por que acha que vim morar aqui com
você? Pensei que você poderia se acostumar comigo e assim teríamos uma vida
completa juntas.
- Completa? Com você?
- Sim, por que não?
- Porque não aceito esse tipo de coisa. Agora vamos parar com este assunto.
Você sabe como me sinto só te peço que me respeite.
- O que me pede significa dor e sofrimento para mim – Aline respondeu
afastando a cadeira e deixando a sala.
Aline descobriu nos dois meses que se seguiu, que respeitar Carmem era mais
difícil do que poderia ter imaginado. Sentia ímpetos de libertá-la, mas não aceitava a
ideia de não tê-la ao seu lado. Viviam juntas, mas não tinham intimidades. Quase não
se falavam, porém, estavam mais próximas do que nunca. Carmem já não saia tanto
nos fins de semana.
Aline nada disse quando ela dispensou a criada. Ela fazia questão de cozinhar
e arrumar tudo sozinha. A noite era muito pior para Aline, pois ela não usava mais
aqueles pijamas masculinos. Usava lindas camisolas sexy. Em algumas noites Aline
ficava tão excitada que fugia para o banheiro antes que fizesse alguma besteira.
Porque vivia completamente louca para agarrá-la e amá-la sem pensar em mais nada.
Por outro lado, sentia que ela agia daquela forma de propósito. O que ela
queria era castigá-la. Não tinha coragem de se aproximar e nem de pedir qualquer
coisa a ela.
Carmem via as coisas de outra forma. Não sentia mais aquele pavor de antes.
Pensava que se Aline a procurasse iria ceder e não sentiria a culpa que costumava
sentir antes. Ela só não aceitava um relacionamento baseado na chantagem. Aline
nunca disse que gostava dela ou o que sentia por ela. Só tinha consciência que ela a
desejava intensamente. Não via muito sentido para estar mais ali, já que não se
falavam e muito menos eram amigas ou amantes. Só sabia que a cada dia aquela
situação ficava mais difícil de suportar.
Carmem sabia que o relacionamento entre Aline e o pai continuava na
mesma. Por duas vezes ela ouviu Aline tentando convencê-lo pelo telefone sem
sucesso. Arnaldo contou tudo para Rita que se revoltou tanto quanto ele. Os dois
partiram numa viagem sem dizer a Aline para onde estavam indo.
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Carmem se perguntava se Ubiratan também iria reagir assim quando
soubesse. Confusa e temendo uma reação como a da filha de Aline, pediu para Dora
contar para ele. Só depois ela o procurou e tiveram uma conversa aberta. Ele não falou
muito, apenas a escutou e disse que entendia a situação dela.
Nesta noite completava três meses que estavam vivendo juntas e Carmem fez
um jantar especial. Intimamente ela sequer percebia que estava tentando agradar
Aline. Só quando sentou diante dela que teve uma vaga consciência disto.
Aline estava sentada a sua frente completamente silenciosa. Após o jantar,
elogiou sua comida e se desculpou indo sozinha para o quarto.
Carmem sabia que ela andava triste e entendia seu humor. Ficou na sala
pensando, sem imaginar que Aline esperava ansiosa por ela. Como ela não foi para o
quarto, Aline foi ao seu encontro na sala. Ela estava parada diante da janela olhando as
estrelas, distraída. Estava na mesma posição da noite da festa. Aline se aproximou
lentamente passando os braços envolta da sua cintura. Levou a boca ao ouvido dela
perguntando num tom íntimo.
- Que segredos têm com a lua?
- A lua é cúmplice de todos, não sabia? – perguntou sorrindo – É ela que vê
tudo e conhece todos os amantes deste mundo.
- Ela nos conhece também?
- Acho que não...
- Acho que sim – gemeu acariciando o pescoço dela excitada – A lua nos viu
uma noite quando nos encontramos naquela estufa, se lembra?
Carmem estremeceu ficando em silêncio. Quantas e quantas vezes tinha
desejado que fosse ela. Sim, bem no seu íntimo tinha fantasiado que ela era a mulher
daquela noite. O perfume dela, aquele mesmo perfume que ela estava usando agora.
Não teve mais dúvidas porque era o mesmo perfume que ela tinha usado naquela
noite.
- Este perfume...
- Gosta dele? Passei só para você. Quero tanto fazer amor com você –
confessou baixinho – Você me quer?
- Não... – A resposta saiu misturada a um gemido.
Os lábios de Aline acariciavam a sua nuca. Carmem fechou os olhos quando
ela virou seu corpo mergulhando a boca na sua. Bem ali, Aline a puxou para o chão
deitando sobre ela. A mão chegou ao sexo de Carmem que fez o mesmo buscando-a
enlouquecida. Seus corpos mexiam-se no embalo do prazer. Seus gemidos se
confundiram e suas bocas se perderam nos beijos deliciosos que trocavam. As mãos
enlouquecidas nos sexos faziam loucuras. Seus corpos explodiram juntos no gozo
maravilhoso.
Aline continuou deitada sobre o corpo dela. Sua boca passou a beijar todo o
rosto de Carmem com adoração. Buscou os olhos dela perguntando com tristeza.
- Como pode me dizer não, sabendo que vivo louca de desejo por você?
Suas mãos desceram tocando os seios dela excitadas.
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- Você é linda, nasceu para mim...
- Não! – falou afastando-se dela – Isto é um erro. Por que diz estas coisas? É
melhor esquecer, não devemos. Não vê os problemas que isto criou para você? Sua
família foge de você. Sua filha se foi sem ao menos se despedir de você...
- Ela vai voltar e darei um jeito de me fazer entender. Mas não me recuse
Carmem – Pediu voltando a abraçá-la – Estou ficando louca de tanto que te quero...
- Não fale assim, já te pedi – repetiu virando o rosto para fugir do beijo –
Deixe-me...
- O que preciso fazer? Diga-me... – pediu encarando-a ansiosa – Então muito
bem... – falou se erguendo decidida e saindo da sala rapidamente. Minutos depois
voltou com a pasta na mão – Aqui está, você está livre da minha chantagem. Pode ir,
mas me prometa que me deixará vê-la.
Carmem pegou a pasta analisando os documentos atentamente. Depois
encarou Aline admirada.
- Vai me deixar ir sem exigir mais nada? Acabou a chantagem? – perguntou
desconfiada.
- Acabou sim, isto já foi longe demais. Você vai me deixar vê-la?
- Para quê? Acredita que vamos construir alguma coisa depois de tudo que se
passou? – perguntou cansada
- Fui possessiva, mas prometo que nunca mais serei assim...
- Vou pensar sobre nós – falou fugindo de seus olhos – Agora preciso ir
embora. Virei buscar minhas coisas depois.
- Ficarei morando aqui – contou de cabeça baixa.
- Sim, eu entendo. Gostaria de sair sem vê-la. Você podia...
- Vou dar uma volta – respondeu com tristeza – Sinto muito por tudo
Carmem.
- Vamos esquecer...
Embora tivesse prometido que pensaria sobre elas, Carmem não o fez nos
primeiros dias. Voltou para sua casa, preferindo ocupar seu tempo de outras maneiras.
Passou a dedicar-se mais ao trabalho. Achou justo manter o contrato com a Martan,
pois não queria misturar as coisas novamente.
Passou a sair mais, adorando ser paquerada por todos os homens que sempre
tentaram tê-la. Nunca em sua vida se sentiu tão mulher, tão feminina e tão desejável.
Reencontrou Helder numa tarde. Saiu com ele para jantar e acabou dormindo
com ele naquela noite. No dia seguinte deixou claro que não queria nenhum laço, indo
embora. Foi para a cama com mais quatro homens diferentes. Precisava demais se alto
afirmar, por isso saiu com aqueles homens. Sentia-se livre e feliz por essa razão. Era
dona de seu nariz e deitaria com quem bem quisesse. Ninguém mais mandava nela,
mas no íntimo Carmem sentia um vazio angustiante. Por mais que não quisesse
lembrar, a imagem de Aline não saia de sua cabeça.
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Repassando tudo que viveu, ela passou a analisar seus sentimentos. Lembrava
com saudade os dias que viveu com Aline. Não podia negar o quanto era bom transar
com ela. Aquele pavor todo do início tinha desaparecido como por encanto. A verdade
é que gostou demais de estar com ela. Mesmo antes, quando ficava pensando nela,
depois que a conheceu. Aquela curiosidade nada mais era do que o nascimento de um
sentimento que tentou sufocar. Toda vez que se pegou pensando nela, fugiu,
enganando a si mesma. Agora sabia que a pior coisa que podia fazer era assassinar
seus sentimentos mais puros da forma que andou fazendo. Tinha que deixar fluir seus
desejos. Se seu corpo clamasse por Aline não iria mais fugir. Iria aceitar tudo sem
sofrer intimamente.
Aline continuava na casa que comprou para morar com Carmem. Vivia
perdida nas lembranças dos dias em que viveram juntas ali. O que tinha feito afinal?
Teve a chance de falar do seu amor, de confessar seus sentimentos mais profundos e,
no entanto deixou-a partir sem saber a verdade.
Logicamente não teve coragem de procurá-la depois que partiu. Pensava dia e
noite nela, mas se mantinha longe do telefone. Agora não haveria mais chantagens e
Carmem iria recusar qualquer convite que lhe fizesse.
Rita ainda não tinha dado notícias, mas conhecia Rita muito bem e sabia que
era muito justa. Tinha certeza que quando voltasse iriam ter uma conversa aberta.
Os dias continuavam passando sem que Carmem e Aline tentassem se falar.
Dois meses mais tarde encontraram-se numa festa. Ainda sem notícias do pai e da
filha, Aline resolveu voltar à vida social. Agora saia com Ítalo e a noiva dele, pois
andava sem ânimo para sair sozinha.
Encontravam-se sempre, em festas, boates e bares, mas não se falavam.
Carmem estava sempre acompanhada de um homem diferente. Aline evitava olhar
para ela ou para o seu acompanhante, pois sentia ímpetos de bater naqueles homens,
tamanho era o seu ciúme.
Dias depois Aline a viu numa festa. Nesta noite estava acompanha de Helder.
De onde estava Aline a viu indo para o jardim. Notou que estava entendida. Ela sempre
se entediava naquelas festas.
Carmem fumava olhando a lua encostada numa árvore. Aline se aproximou
lentamente parando diante dela.
- Às vezes morro de ciúmes da lua – confessou percebendo a surpresa
estampada no rosto dela quando a fitou.
- Não sabia que estava aqui...
- Ultimamente tenho estado em todas as festas, ajuda há passar o tempo –
falou olhando envolta com desânimo – Talvez me mude para um apartamento
pequeno, a casa, bem, ela ficou muito grande só para mim.
- Pensei que tinha uma amiga nova – comentou sem conseguir tirar os olhos
do rosto lindo dela – Uma loura muito bonita, por sinal.
- Está falando de Márcia? Ela é noiva de Ítalo – explicou rindo – Sempre
saímos juntos os três.
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- Não sabia... – riu sentindo um alívio imenso no peito – Faz muito tempo...
Como você está Aline?
- Eu? Estou levando minha vida. Eu... Sempre vejo você com um
acompanhante diferente, está tentando provar alguma coisa com isto?
- É o que parece Aline?
- Não sei, odeio estes homens que vejo com você. Imaginar que se deita com
eles, nossa, não faz ideia de como me sinto mal com isto.
- Não, não me deito com todo homem que me acompanha numa festa. Não
sou uma galinha! É isto que pensa de mim?
- Meu ciúme pensa absurdos, me desculpe – riu baixando os olhos.
- Também pensei absurdos sobre aquela loira que está lá dentro.
Aline deu um passou ficando próxima dela. Estendeu a mão que subiu
acariciando se braço. Aproximou os lábios dos ombros dela.
- Estou sentindo tanto a sua falta...
Os lábios começaram a acariciar os ombros de Carmem. Depois seguiram pelo
pescoço arrancando gemidos de seus lábios. A boca parou no ouvido já com o corpo
colado ao dela.
- E a cama está tão fria que mal posso suportar... Acredita em mim, querida?
A pergunta se misturou com um gemido sofrido. Erguendo os braços, Carmem
a puxou mais para si e seus lábios buscaram os dela ansiosos. Aline correspondeu ao
beijo cheio de paixão sem disfarçar seu desejo intenso. Suas mãos alcançaram os seios
de Carmem enquanto suas bocas se reconheciam nos beijos apaixonados que
trocavam. Aline sorriu confessando nos lábios dela.
- Preciso tanto de você meu amor...
Mas o destino não estava a favor delas. Neste momento, a voz de Helder
chegou até elas.
- Carmem? Onde se meteu querida?
Aline afastou-se com dificuldade. Ficaram se olhando por algum tempo, então
ela falou com tristeza.
- Adorei encontrar você. Ficarei de olho na lua daqui para frente.
Afastou-se ouvindo de longe a voz de Carmem falando com Helder.
- Estou aqui. Por que está gritando tanto?
- Procurei você por toda parte. Vamos embora desta festa...
Aline fechou os olhos encostando-se no seu carro. Precisava ir embora dali,
aquele não era seu lugar. Abriu a porta sentando ao volante. Deu partida no carro
saindo rapidamente. Levava consigo o sabor dos lábios de Carmem, e sabia que depois
de muito tempo, nesta noite conseguiria dormir em paz.
Carmem caiu sentada no sofá da sala. Saiu com Helder da festa, mas o
dispensou subindo sozinha. Não seria capaz de ir mais para a cama com homem
nenhum, sentindo aquele desejo que sentia apenas por Aline.
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Serviu um drinque voltando a sentar, mas se ergueu passando a andar pela
sala inquieta. Perguntou-se se seria um erro procurá-la naquele instante já pegando a
chave do seu carro e correndo para o elevador. Ainda tentava saber se era um erro
quando tocou há companhia dez minutos depois. Respirava fundo. O tremor já tomava
conta do seu corpo antes de vê-la.
Aline abriu a porta com um drinque na mão. Um sorriso surgiu em seus lábios
enquanto ela se afastava para que Carmem entrasse.
- Carmem?
- Desculpe, sei que é tarde – falou indo direto ao bar – Vou pegar um
drinque... Só Deus sabe como me sinto... Ai – suspirou tomando um gole sentindo a
garganta super seca.
- Fique à vontade – falou sentando sem tirar os olhos dela.
- Você não me ligou e nem me procurou mais. E quando me encontrou há
pouco foi logo falando todas aquelas coisas, nossa, você me deixou tontinha sabia?
- A verdade é que pensei que você não desejava mais me ver.
- Não disse que não queria mais te ver. De repente essa cidade ficou pequena
demais para nós duas, não é?
- Não forcei nossos encontros se é o que está tentando insinuar.
- Já conseguiu tudo que queria de mim? – perguntou provocando-a
diretamente.
Aline engoliu em seco. Não sabia lidar com aquela nova mulher que estava
diante dela. Estava acostumada com a outra, com a mulher tímida e calada que ela
era.
- Sabe acaso o que desejei de você de verdade?
- Meu corpo! Aliás você não escondeu muito isto.
- Não nego meu desejo, mas é muito mais que isto – defendeu-se
aproximando dela – Acredita que arriscaria a perder o amor da minha filha e do meu
pai, apenas por um desejo?
- Pensei muitas coisas sim, e você nunca tentou esclarecer nada entre nós!
- E por acaso você teria me ouvido? Quando te devolvi a procuração saiu
correndo daqui. Você não aceitava se envolver com uma mulher, deixava isto claro
sempre que podia. Você prometeu que pensaria sobre nós e não o fez!
- Por que me beijou lá na festa? – perguntou ansiosa – Por mero capricho ou
para me mostrar que nada mudou?
- Oh não... – gemeu angustiada – Nada disto Carmem! Meu Deus, você não vai
me dar uma chance nunca, não é? Beijei você porque não consegui resistir... Beijei
porque vivo louca de tanto que te desejo...
- Vai me pedir uma chance? Por que não tenta pedir algo que eu possa te dar
espontaneamente?
- Me dê um beijo – pediu acercando-se dela – Faça amor comigo... – gemeu,
envolvendo-a em seus braços – Fique comigo está noite sem temores. Não farei
nenhum mal a você... Só preciso amá-la... Quero que sinta o quanto te amo...
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Carmem fechou os olhos sentindo uma pontada no peito. Seu corpo todo
reagiu excitado desejando ter Aline sem demora. Suas mãos soltaram rápido o cinto do
robe dela, enquanto suas mãos buscavam os seios dela ansiosas.
- Eu amo você Carmem. Tudo que fiz foi por amor, por desejá-la com loucura.
Sonhei tanto com isto... Você acariciando meu corpo, desejando-me como te desejo...
- Não sei explicar... Mas preciso de você Aline, preciso demais de você... Por
favor, me dá, porque quero muito te sentir em mim.
Então Carmem viveu a entrega mais completa da sua vida. Ali no chão da sala,
amou-a e se deixou amar por ela. O que antes era odioso agora era maravilhoso. Por
toda a noite se beijaram e se tocaram incansáveis. O desejo não diminuía, parecia
aumentar a cada orgasmo que tinham. O dia estava amanhecendo. A luz do sol
começava a entrar pela janela. Carmem estava nua diante dela sem sentir o menor
pudor. Sentia-se tão bem disposta que comentou sorrindo.
- Acho que não estaria aqui se não tivesse ganhado aquele beijo ontem.
- E deixou seu amigo na mão – falou baixinho. Sua mão subia lentamente
pelas pernas de Carmem.
- Aposto que ele encontrou outra rapidinho – comentou rindo com os olhos
fixos nas mãos que percorriam suas pernas – Sabe o que é? Você faz amor gostoso
demais. Não queria admitir, mas você me deixa louca Aline. Quando me chupa, ai
queria que ficasse em mim para sempre. Adoro dar para você.
- Então acho que não acha mais errado fazer amor comigo.
Carmem sorriu olhando mais detidamente.
- É verdade que você me ama?
- Sim, lógico que é verdade. Amei-te desde a primeira vez que te vi numa
festa. Por isto dei aquela festa, queria me aproximar de você.
- Você contou para Marta que estava apaixonada por mim?
- Sim, contei sim. Ela é minha amiga, sempre foi. Emprestou-me a casa.
Aproximar de você usando uma máscara foi muito mais fácil.
- Então você deu aquela festa só para se aproximar de mim? – perguntou
chocada.
- Sim. Você merecia muito mais...
- Faz isto sempre que deseja uma mulher? – perguntou agitada.
- Não Carmem, você é a primeira mulher pela qual me apaixono. Fiz por você
e para mais ninguém.
- Hum! Não foi fácil aceitar, mas agora tudo parece diferente. Sinto-me leve e
feliz com você.
- Minha consciência não me incomoda mais. Carmem? Você gostaria de
namorar comigo?
Carmem riu acariciando os cabelos dela com carinho.
- Estamos fazendo bem mais que namorar. Já nos casamos já nos separamos e
agora você quer namorar? Você é muito engraçada Aline. Podemos tentar sim. Vamos
tentar a partir de agora – falou puxando-a para os seus braços.
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Apesar de voltarem a se amar, Carmem não tirava da cabeça as revelações
feitas depois da entrega. Até então, ninguém nunca tinha tido tanto trabalho para se
aproximar dela. Aline confessou amá-la e não conseguia negar o quanto àquela
revelação a deixava feliz. Saber que ela fez tudo por amor era maravilhoso. Sentia que
ela estava sendo realmente sincera e isto deu uma paz nova para o seu coração.
No dia seguinte Carmem voltou para casa à noite mal humorada. Dora a
observou durante todo o jantar. Ela apenas remexeu a comida sem comer nada.
Depois empurrou prato olhando em volta.
- Por onde anda Ubiratan? Não janta mais em casa?
- Foi jantar na casa da namorada...
- Mas que coisa isto! Ele só tem dezenove anos para se comprometer assim
Dora, poxa!
- Ele está apaixonado, querida...
- Hum!
- Tão apaixonado quanto você.
Carmem suspirou olhando-a ansiosa.
- Estou, estou sim! Aliás, estou há bastante tempo.
- Eu sei.
- Como sabe? Por que acha que sabe? É lógico que não andei demonstrando
meus sentimentos assim. Sou boa em camuflar o que sinto.
- Você andou escondendo de você mesma Carmem, por isto sofreu tanto.
- Dora, você não sabe, nem imagina o que mais me assustou.
- Foi descobrir que gosta de mulher?
- Sim, também, mas... Ai Dora... Eu... Oh como te explico isto Senhor... Hahaha
– Falou apavorada.
- Mas o que é Carmem?
- Não sinto mais com homens – Falou rapidamente afastando a cadeira e
andando ansiosa – Não tenho prazer mais com homens...
- Mas você estava até saindo com outros homens, achei que...
- Transei com quatro homens além de Helder! Queria saber... Precisava ter
certeza, entende? Acabou, nada! Não senti nada com nenhum deles! Por que você
acha que eu fui atrás de Aline? Eu só conseguia pensar nela quando estava na cama. Ai
que vergonha, nossa, simplesmente não me excito mais com homens. Mas se penso
nela, oh... Ai tudo se acaba, fico logo num estado que... Ai Dora... Estou
completamente louca por ela.
- Você não faz ideia como fico feliz por ouvir isto. Tentei te falar Carmem, mas
você não me ouviu e nem entendeu querida.
- Lógico que não entendi... Tudo era novo, fiquei apavorada, quase enlouqueci
quando tudo começou... E agora olhe pra mim – Parou abrindo os braços desolados –
Estou completamente furiosa, tive um dia de cão, estou para morrer de vontade de vêla...
- Ora, então ligue para ela e fale que quer vê-la, ora bolas!
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- Até que eu queria, mas ela viajou para a Suíça hoje cedo e só volta na
semana que vem – Contou chorosa.
- Ah então é por isto que nem tocou na comida? Mas Carmem, que coisa, tem
que comer e se cuidar.
- Ai Dora, mal ando tendo fome. Claro que vou me alimentar, mas hoje
quando ela me ligou no restaurante falando que tinha que viajar com urgência fiquei
super chateada. Tínhamos marcado de jantar juntas e depois, ah, deixa pra lá.
- Entendo...
- Foi uma loucura o dia todo, você deve ter visto as notícias, o presidente
confiscou o dinheiro da poupança. Minha sorte é que faz meses que venho guardando
todo meu dinheiro no cofre de um banco. Andei até tentada com os juros da
poupança, mas não mexi.
- Então Aline viajou por causa disto?
- É! Hum... Ouvi boatos que algumas pessoas foram avisadas algumas horas
antes. Acho que foi o caso dela. Não perguntei, mas não sou boba, com certeza ela
saiu com o dinheiro do país, entendeu? No que ela fez muito bem. Imagine o governo
tomar o dinheiro assim... Bom, a verdade é que o país está uma loucura. E num
momento como este, só posso manter a calma e esperar que ela volte para os meus
braços. Afinal, estamos namorando sério agora.
- É verdade, tem mesmo que entender e esperar com bastante calma. Mas
que coisa horrível este Fernando Collor fazer isto com...
Conversaram mais algum tempo e Carmem subiu para seu quarto. Sentou na
varanda com o telefone no colo. Olhava pra ele em tempo de morrer de vontade de
ligar, mas não sabia em que hotel ela estava. Ela tinha dito que ligaria a noite, e a única
coisa que podia fazer era esperar.
Aquela espera, no entanto foi uma agonia para Carmem. Era meia noite e
meia quando o telefone tocou.
- Meu Deus Aline, que demora? Onde você estava?
- Amor? Fui direto para a Grécia, Rita está lá com o avô, precisava ver minha
filha e falar com ela. Cheguei agora no hotel.
- Ainda está na Grécia?
- Não, estou na Suíça agora. Estava louca de saudade, queria ligar, mas não
tive como. Você está bem? Está sentindo saudade de mim?
- Sim, muita. Quando vai voltar? Quem está com você? Não levou uma
secretária não é?
- Sim, minha secretária veio, mas...
- Espero que ela esteja em outro andar neste hotel! – Falou furiosa.
- Ora querida, que ideia! Não pense bobagens, por favor. Eu te amo Carmem,
não faz ideia do quanto. Se existem outras mulheres fiquei cega para elas.
- Melhor que seja assim – comentou relaxando – Não confio em secretárias,
são muito dadas para o meu gosto.
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- Carmem, não julgue as pessoas sem conhecê-las – comentou sorrindo – A
minha secretária é uma senhora boníssima de cinquenta e sete anos. Vê como não
deve prejulgar sem saber?
- Haha... Mas como que eu ia saber de uma coisa desta? – perguntou sem
graça.
- Está tudo bem amor. Eu ligo amanhã a noite de novo. Só não pense
bobagens.
- Só acontece algo assim comigo Aline. Nem bem começamos a namorar, e
você deixa o país. É claro que estou chateada. Poxa, logo agora que me soltei e... Haha,
você sabe do que estou falando.
- Sei sim meu amor. Estou adorando ver você assim, solta e sem medos.
Prometo que resolverei tudo rapidamente para voltar correndo para os seus braços.
- Não vejo a hora de te abraçar Aline, por favor, não demore mesmo.
- Claro que não. Estive pensando quando irei conhecer seu filho.
- Assim que voltar. Ele já sabe de você. Sabe que moramos juntas aqueles três
meses. E que éramos amantes...
- Nós éramos? – perguntou rindo divertida – Tudo bem amor, entendi o que
você falou. Agora preciso de um banho e de algumas horas de sono. Estou quebrada.
Durma bem querida.
- Você também... Eu... Amooo... Você. Tchau...
Aline ficou segurando o telefone com um sorriso nos lábios. Ela disse: “Eu
amo você”. Estava realmente se soltando. Agora acreditava que teria o amor de
Carmem. Uma felicidade infinita invadiu seu coração, e assim foi para o banheiro
cantarolando uma canção de amor.
Nos dias que se seguiram, Carmem deu-se conta que realmente amava Aline
intensamente. Não via graça em mais nada. Uma ansiedade insuportável tomou conta
de seu ser. A saudade a sufocava e a vontade de fazer amor com ela a deixava
intratável.
Na sexta-feira, dia que ela ia chegar, saiu correndo do trabalho trancando-se
no quarto muito animada. Depilou-se toda e mais tarde tomou um banho de espumas
de uma hora. Quando saia do banho, Dora entrou, informando com um sorriso
disfarçado.
- Telefone para você. É Aline Dantas!
- Ohhhhh... Maaaas... Socorroooo... – falou desorientada correndo para o
telefone – Aloooo...
- Que bom ouvir sua voz da mesma cidade. Cheguei agora no aeroporto. Você
vai me ver lá em casa?
- Ahhhh se vou – riu rodando o fio do telefone feliz – Vou só vestir alguma
coisa... Espere-me, não demoro nada...
- Tudo bem amor. Espero-te lá – sorriu desligando.
Carmem desligou voltando-se para Dora desnorteada.
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- Doraaaa... Onde está meu vestido especial para está noite? Não acho nada
meu... Ora, mas que coisa... Socorroooo...
- Calma! Está na outra parte do armário. Ah, ainda deseja o jantar de amanhã?
- Claro que desejo! E avise Ubiratan que exijo a presença dele. Não vou dormir
em casa hoje... Ai Dora, estou tão emocionada... Senhor me ajude a ficar calma diante
dela... Já pensou que vexame se eu pular em cima dela? – riu pegando o vestido –
Lógico que é isto mesmo que quero fazer. Agarrá-la de uma vez e conversar só depois
de saciar esse desejo louco que está me matando há dias. Estou completamente louca
por está mulher. Ela me dominou completamente. Hum, talvez naquela noite, naquele
hotel quando me deu aquele tapa no rosto tenha caído de amores por ela. Uma
mulher tão decida... Tão forte... Tão maravilhosa na cama, só pode ser isto. Dora? O
que acha? Será que ela me conquistou pela persistência dela?
- Acho que...
- Mas não posso demonstrar todo este amor desesperado não é mesmo?
Posso assustá-la ou ela pode enjoar logo de mim... Oh Senhor, me ajude... Dora, você é
minha mãe... Estou entrando em pânico de novo... Ai...
Dora agarrou os braços dela balançando seu corpo e olhando-a nos olhos com
a expressão mais séria do mundo.
- Pare agora com isto! Apenas respire fundo. Calma! Não pense em nada. Se
apronte e vá ao encontro dela.
- Ai... Obrigada – riu abraçando-a com força – Agora preciso correr... – falou
pegando o vestido – Acha que ela vai gostar – perguntou colocando-o na frente do
corpo.
- Não acredito que ela vai notar muito nele – falou maldosa – Mas é um
modelo lindíssimo.
- Sim... Comprei para seduzi-la essa noite.
- Você está parecendo uma adolescente que vai ao seu primeiro baile.
- Sinto uma emoção tão intensa, meu coração parece que vai explodir –
contou suspirando – Mas não posso perder tempo.
- Termine de se aprontar – falou saindo do quarto.
Aline abriu a porta e ficou olhando-a de boca aberta. Carmem estava
maravilhosa num modelo preto, decotado e curto. O corpo exalava um perfume
sedutor que a enlouqueceu na hora. Carmem passou por ela, roçando o braço
ligeiramente nos seus seios.
- Você está tentando me matar de saudade? – perguntou sentando no sofá
com elegância. Seus olhos caíram no corpo de Aline, curiosos. Ela vestia um robe curto.
Os cabelos molhados, pingavam, denunciando que ela mal teve tempo de secá-los.
Carmem sorriu percebendo que ela ainda segurava a porta olhando-a encantada –
Fecha a porta e venha tomar um drinque comigo e me dar... Um beijo...
Aline fechou a porta, serviu dois drinques e foi sentar ao lado dela. Colocou os
copos sobre a mesinha inclinando-se enquanto a beijava profundamente nos lábios.
Parou neste instante para acariciar seu rosto com adoração.
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- Senti tanto a sua falta – Sussurrou inclinando os lábios até encontrar os de
Carmem abertos novamente. Foram beijos devastadores, que mostraram a saudade e
todo o amor contido que ela sentia. Carmem correspondia àqueles beijos
enlouquecida, entregue e feliz com o desejo intenso de Aline. Nunca alguém a tomou
com aquela fome e aquilo simplesmente a deixava intensamente excitada. Confessou
pra ela naquele momento, pois sentia que seu peito iria explodir tal a intensidade
daquele sentimento.
- Seus beijos, ai seus beijos são deliciosos... Não se afaste mais por tanto
tempo... Adoro sua boca, Aline... Quero-te tanto...
Aline deitou-se sobre ela aprofundando os carinhos. Suas mãos ergueram o
vestido tirando-o com delicadeza. Soltou o robe deixando-o cair. Estava nua por baixo
e Carmem sorriu comentando
- Ai, peladinha...
Aline afastou-se olhando a calçinha preta com um sorriso.
- Preta? Você me enlouquece Carmem... Ai – Gemeu tirando a calcinha. Então
passou as mãos pelas pernas dela enfeitiçada de desejo. Carmem se mexia olhando-a
nos olhos. Aquele olhar era um convite. Aline sabia. Seu corpo tremia de vontade de
possuí-la.
- Vem... Possua-me... Você quer Aline... Eu quero dar para você...
- Quer? – Perguntou com os olhos cintilando pelo desejo – É assim que você
quer?
Entrou nela fazendo Carmem soltar um gemido rouco de prazer. Ali no sofá
ela mexia o corpo dando deliciosamente para Aline. Enquanto a possuía ela se sentia
forte. Pela primeira vez sentia que aquela mulher era realmente sua.
- Adoro te comer Carmem, vem minha safada, dá pra mim, vem, goza pra
mim, me molha toda... Quero você explodindo pra mim... Ai mulher, você é minha
loucura...
- Sou sua, vem mais fundo, quero mais fundo... Vem... Ah...
- Dou como você quiser, mas goza minha gostosa, me dá esse gozo aqui,
quero você tremendo pra mim...
- Aiiiiiiiii...
- Vai que eu vou te comer muito hoje ainda. Vou matar essa saudade com
muito gozo, vou te deixar satisfeitinha...
Carmem estava gozando intensamente enquanto ela entrava e saia
enlouquecida de seu sexo. Ergueu a mão segurando a dela.
- Gozei... Ai, espera, deita aqui – pediu puxando-a e se afastando. Aline deitou
e Carmem deitou sobre ela rebolando assanhada sobre seu corpo.
- Gosta de me comer né? Pois adoro dar pra você. Mas só pensava nessa
buceta gostosa dia e noite – contou esfregando a buceta na dela – Pensava em chupála,
ai, até sonhei com isto... Quero-a agora Aline, vai gozar na minha boca, quero que
me dê tudo...
- Então vem que vou te dar tudo, guardei tudo pra você...
- Você me deixa louca quando fala assim...
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Carmem desceu rápida mergulhando a boca na buceta que rebolava
chamando por ela. Não se fez de rogada. A língua deliciou-se ali matando Aline de
prazer. Acabou-se no grelinho terrivelmente excitado. Enquanto a chupava se
perguntava como pode viver tantos anos sem aquele prazer de chupar uma buceta
molhada e gostosa como aquela. Como nunca se deu conta do quanto gostava de fazer
aquilo? Como nunca se deu conta do quando gostava de uma mulher e de fazer sexo
com uma? Como pode passar uma vida inteira se enganando daquela forma? Sofreu
tanto para aceitar e agora não conseguia mais esconder o quanto amava aquilo.
A língua não parava. Os gemidos deliciosos de Aline a deixavam cada vez mais
ousada e mais excitada. A língua entrava nela, rodava, dava voltas levando o corpo de
Aline para um êxtase total. Ela ficou por ali, prolongando o prazer dela até ouvir o
pedido implorante de Aline.
- Dá... Quero... Vem agora...
Ela fez, foi no ponto certo e a fez estremecer num gozo maravilhoso. Ainda
ficou por lá sugando o gozo sem disfarçar o prazer que sentia no sexo dela.
Aline a puxou para cima de seu corpo olhando-a surpresa.
- Meu Deus, mas você chupa melhor que eu... Onde aprendeu isto querida?
- Melhor que você? Ah Aline, para né – pediu rindo dela – Melhor que você?
Não chego aos seus pés...
- Carmem? Você ta doida? Você fazia sexo oral com homem?
- Eu? Socorro Senhor... Não e não, nunca tive vontade... Ai Aline, que
pergunta horrível.
- Horrível por quê? Não era horrível transar, passou sua vida toda fazendo
isto.
- Ta! – Carmem concordou sentando e pegando o drinque – Vamos ter uma
conversa - suspirou bebendo um gole – Desculpe, minha garganta está seca.
- Também pudera – Aline falou rindo maldosa – O tempo que ficou chupando
queria o que?
- Quer saber? Acho bom você ir se acostumando porque eu gosto de chupar
sim. Desde a primeira vez que você me chupou que vivi sonhando em fazer isto. Bom...
Mas eu tinha uma vergonha, poxa, eu queria tanto. Quando morei com você naqueles
três meses eu queria muito. Toda noite ficava deitada sonhando em te puxar pra mim
e...
- Ai Carmem, desculpe, sei bem que vencer uma barreira assim não é nada
fácil.
- Vencer sozinha não é fácil mesmo não. Agora entendo todos os meus
ataques, minhas revoltas, ficava tão assustada com as mulheres e pensava dia e noite
na mulher que me seduziu na estufa aquela noite. Sabia que ansiei intensamente que
você fosse aquela mulher? Porque se você não fosse eu ia te trair com ela – riu
acariciando o rosto dela feliz – Que bom que foi você Aline, ainda bem que entrou na
minha vida naquela noite. Porque depois daquela noite eu pirei sim, mas desejei você
cada segundo dos meus dias.
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- Carmem eu te amo tanto querida – confessou sentando ao lado dela no sofá
– Quando te fiz assinar aquela procuração trocada, depois Ítalo me alertou que você
era heterossexual e que eu poderia não conseguir te conquistar.
- Bom, eu posso te confessar que nunca me satisfiz muito na cama com
homem. Sei que muitas mulheres nunca se quer tiveram orgasmos, eu costumava ter
algumas vezes, mas não era sempre. Depois daquele noite na estufa não tive mais. Sei
que é uma loucura, e sei que podia ter te contado, mas estava lutando para não
aceitar este fato na minha vida. Por isto sofri tanto e por isto te fiz sofrer também. A
teimosia às vezes só nos atrapalha e afasta a felicidade da nossa vida. Hoje me sinto
uma mulher completa. Com você me sinto inteiramente realizada. Você me faz
intensamente feliz sabia, Aline Dantas?
- Isto quer dizer que estou próxima de conquistar seu coração Senhora
Benvenutti? – brincou roçando a boca dela.
- Não querida, você já conquistou meu coração. Você sentia muita
necessidade de ser amada por mim não é?
- Eu andei amando por nós duas. Sentia não querida, eu sinto! No entanto,
uma coisa que tenho é paciência para esperar que você me ame de verdade um dia.
- Mas Isto é bem egoísta Aline. Não creio que um relacionamento sobreviva
desta forma. Você é uma espécie, rara sabia?
- Só desejo de você o que puder me dar. Amor, ou nós sentimos com o tempo,
ou não sentimos mais. Importa pra mim que eu te ame. Quero fazê-la feliz e amá-la
muito.
- Quero você em mim, me beijei – Carmem pediu puxando-a para seus braços.
- Ai amor...
Aline não estava mentindo. Sentia-se imensamente realizada por ter Carmem
nos seus braços. Quase enlouqueceu de saudade dela durante aqueles dias, por isto
seguiu com ela para o quarto. Cada minuto sonhou em amá-la novamente ali no ninho
de amor delas.
A cada encontro Carmem estava mais solta e mais fogosa. Nesta noite ela
estava especialmente fogosa. Mal acreditou quando ela começou a chupá-la
novamente já na cama. Entregou-se a ela novamente procurando-a depois. Aquelas
descobertas que fazia enquanto se amavam eram deliciosas. Sua necessidade de
possuir Carmem não passava. Mergulhou no sexo dela sedenta. Chupou-a até senti-la
explodindo em sua boca. Trocaram beijos abraçadas por um longo tempo. Depois Aline
agarrou o corpo dela de novo. Carmem sorriu adorando. Já estava rebolando de baixo
do corpo dela. Aline, no entanto a virou colocando-a de bruços. Os gemidos de
Carmem a enlouqueceram mais. Assim de bruços ela passou a rebolar enquanto Aline
entrava e saia da buceta ensopada levando-a ao delírio total.
Aline estava ajoelhada atrás dela sem acreditar que Carmem estava lhe
permitindo tudo.
- Gosta assim minha gostosa? – perguntou beijando as costas dela.
- Ai... Adoro quando me come... Gosta por trás, é? Ai... Vai ter todo dia...
Come... Mais... Mais fundo... Sou sua p...
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- Rebola mais, se é mesmo rebola que vou comer até gozar pra mim... Ai
Carmem, dá amor, dá bem gostoso... Ai safada...
- Sou... Aiiiiiiiiiii
Numa rapidez incrível ela girou o corpo virando Aline de bruços e entrou na
buceta dela. Aline se mexia enlouquecida enquanto Carmem entrava em saia
desvairada. Enquanto a comia olhava o corpo dela sentindo um prazer inacreditável
por comê-la naquela posição. Seu corpo batia contra a nádega dela enquanto a possuía
incansável. Aline estava se contorcendo de prazer. Seus gemidos perdiam-se no
quarto. Até que explodiu gozando deliciosamente.
Carmem deitou sobre ela rindo feliz. Beijou-a longamente confessando em
seguida feliz.
- Você está sendo uma surpresa deliciosa a cada encontro sabia?
- Digo o mesmo sobre você Carmem – riu rebolando contra o sexo dela
assanhada – Quero tudo com você na cama.
- Ah você vai ter tudo comigo e como vai – riu voltando a beijá-la e a rolar com
ela no colchão delicioso.
No dia seguinte Carmem estava deitada às oito horas deliciando-se com as
lembranças da noite maravilhosa que passou com Aline. Os momentos de prazer
faziam seu corpo estremecer enquanto as imagens bailavam em sua mente. Só agora
se dava realmente conta da força do seu amor por Aline. Era uma loucura como se
entregava aos carinhos dela. Como fazia amor feito uma fêmea no cio com ela. Como
ansiou por estar nos braços dela durante aqueles dias em que ela esteve fora. E aquela
buceta deliciosa? Como morreu de vontade de senti-la cada dia e cada segundo que se
imaginava deliciando-se dentro dela. Sentia-se uma safada com ela e adorava aquela
sensação. Não tinha limites e não negava nada a ela na cama. Não tinha pudores com
ela. Tinha aquele desejo que roubava seu juízo e o resto da noção do que errado ou
certo. Tudo era certo quando estava nos braços dela. Dar pra ela, comê-la quantas
vezes quisesse, não conseguia mais imaginar um dia sem estar na cama dela fazendo
aquelas coisa deliciosas que fazia com ela...
Não ouviu a voz de Dora que entrou naquele momento na sala falando com
ela. Continuou perdida em suas lembranças fora da realidade.
- Filha? – chamou Dora novamente – Está tudo bem?
- É você? – Perguntou sentando distraída. Cruzou as pernas voltando a se
deliciar com as lembranças.
- O jantar está pronto. Ubiratan já vai descer. Não vai se aprontar também?
- Ah... – Gemeu sem ouvi-la.
- Carmem?
- Ah? – Gemeu novamente erguendo-se e andando pela sala. Passava a mão
nos objetos, sentindo-se flutuar deliciosamente. Estava fazendo amor novamente.
Dora se quer imaginava o que se passava com ela naquele instante.
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- Você não vai se arrumar para o jantar? – Dora quase gritou vendo o susto
que Carmem levou olhando-a chocada – Desculpe, mas você não está me dando a
menor atenção.
- O que foi meu Deus?
- Ubiratan já vai descer e Aline deve estar para chegar filha!
- Oh... Senhor... Preciso tomar banho – falou correndo apavorada para a
escada.
Quando Carmem desceu estava linda num modelo vermelho e sedutor.
Comprou aquele vestido especialmente para aquela noite. Aquilo de comprar vestidos
para seduzir Aline a deixava terrivelmente feliz. Sair do trabalho e correr para uma loja
estava virando uma mania.
Na sala não encontrou ninguém. Viu a porta que dava para a varanda aberta
caminhando até lá. Parou observando a cena. Ubiratan bebia um drinque com Aline.
Estavam conversando num tom que lhe pareceu bem amigável, mas estacou ao ouvir o
que ele estava falando com ela naquele momento.
-... Sendo uma mulher tão bonita, Aline. Você com certeza sabe que é a
mulher dos sonhos de todo homem. Você tem ideia disto não é mesmo?
- Você não me conhece, portanto deve falando apenas do exterior. Uma
pessoa tem muito mais do que atrativos físicos – Aline respondeu tranquila.
- Falei que você é bonita, mas posso traduzir dizendo que você é muito
gostosa. Deve ser uma coisa de doido da cama. Não trocaria de roupa para dar uma
boa transada com você.
Aline bebeu um gole do drinque sorrindo desta vez. Em seguida virou-se para
ele falando muito séria.
- Sou a mulher da sua mãe. Eu a amo e prefiro que não me faça ouvir este tipo
de coisa.
- Sei – Ele riu sem cair na real voltando à carga – Não sabia que minha mãe
tinha um gosto tão apurado. O que fez para conquistá-la? Aposto que estraçalhou com
ela na cama. Verdadeiramente acho que ela pirou, mas quem sou eu para fazê-la
voltar à razão. Se bem que conhecendo você agora consigo entender melhor a loucura
dela. Mas não pense que estou sento mal educado com você, estou apenas sendo
direto.
- As coisas estão num plano bem superior e você não teria como entender –
Aline falou amável – Aliás, as relações que não se conhece, são sempre um mistério
para nós, por isto às vezes pareçam assustadoras.
- Homossexualismo é mistério para alguém? – perguntou irônico.
- É sim! O preconceito é que não é um mistério! O preconceito é a ignorância
sobre um tema que assusta muito as pessoas. Você está assustado não é? Sua mãe
está apaixonada por uma mulher e você não consegue lidar com isto. Imagino bem
como está se sentindo. É por isto que está dando de cima de mim. O machismo não
aceita o amor entre duas mulheres, no entanto você é muito novo para entender o
que nós duas sentimos. Também não pretendo te explicar nada, pois não creio que
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isto seja da sua conta. Sinto falar assim com você, mas as suas palavras estão sendo
extremamente desagradáveis para os meus ouvidos.
- Só disse que te acho bonita. E caso não tenha percebido, não sou mais um
garoto – repetiu cínico – Não gosta mesmo de homem?
- O caso nem é bem gostar ou não gostar – riu afastando-se dele com classe,
mas parou diante da porta voltando-se pra ele com ar de deboche – Além de ser muito
gostosa, sou a mulher mais fiel que existe. Vou me casar com a sua mãe e você seu
pirralho, vai me engolir e me respeitar. Isto eu te garanto! Com licença!
Carmem entrou rápida e Aline a encontrou na sala. Ela estava no barzinho
servindo um drinque.
- Querida? Ia perguntar a Dora se poderia ir lá em cima te chamar – Aline
comentou aproximando-se dela.
Carmem olhou-a de cima a baixo abrindo um largo sorriso.
- Pode subir sem perguntar para Dora – falou enlaçando a cintura dela – Mil
perdões por ter demorado a descer. Conheceu meu filho?
- Sim. É um rapaz muito bonito. Parabéns!
- Hum! Estava louca de saudade, acredita?
- Mais que eu?
- Aline? Preciso dizer agora antes que perca a coragem.
- O que foi? – perguntou preocupada.
- Eu te amo. Amo-te demais e não quero mais viver longe de você. Amanhã
levarei todas as minhas roupas para sua casa, vou voltar a viver com você. Sou assim,
escolho as piores horas para confessar meus sentimentos.
- Ah Carmem, meu amor, não faz ideia como me deixa feliz contando-me isto.
Não existe hora para saber do seu amor. Também te amo muito.
Aline roçou os lábios na boca dela afastando-se com um sorriso.
- Temos que nos comportar aqui.
- Sim claro – Carmem riu terminando de servir seu drinque e servindo outro
para ela. Sentaram juntas no sofá.
Dora veio da cozinha unindo-se a elas e Ubiratan voltou da varanda sentando
diante delas. Os olhos dele passavam de forma abusada pelo corpo de Aline, que
simplesmente fingia não notar. Carmem voltou para ele falando num tom seco e
controlado.
- Sirva uma nova rodada de drinques para nós, por favor.
Ele riu comentando.
- Vou chamar o mordomo para nós servir, afinal ele ganha para isto...
- Não! Quero que você sirva! Não vai morrer se servir quatro drinques, não é
mesmo?
Desta vez ele realmente perdeu a graça e foi para o bar sem protestar mais.
Dora se ergueu falando animada.
- Fique à vontade que vou ajudá-lo a servir os drinques.
Assim que ela afastou-se Carmem falou baixo entre dentes.
- Pirralho!
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- O disse querida?
- Este abusado foi um crápula com você! Ficarei de olho nele o resto da minha
vida! Estou possessa, ai... Senhor me ajude! – falou suspirando profundamente – Estou
a ponto de explodir... Socorro... Ai, ai, ai...
- Então você ouviu? Calma meu amor, não ia te contar nada para não te
aborrecer. Esqueça isto. Antes que perceba coloco o garoto no lugar dele. É uma
reação bem normal, no fundo ele pensa que está protegendo você da lésbica sedutora
– comentou divertida.
- Protegendo não é? Deixe estar! – respondeu balançando as pernas furiosa –
Era só o que me faltava... De baixo do meu nariz... Meu próprio filho tentando roubar
minha mulher... Senhor, senhor... Ai que raiva Aline. Você não sabe como fiquei
quando ouvi as palavras dele. Quase tive um enfarte para me controlar...
- Ele só me achou gostosa...
- Gostosa sim, gostosa demais, mas só pra mim! – rebateu possessa – Estou
vendo que este jantar foi uma péssima ideia.
Ubiratan se aproximou com Dora neste momento.
- Seus drinques – e olhando para a mãe falou divertido – Adorei conhecer sua
amante.
Carmem engoliu em seco olhando-o friamente.
- Amante não, minha mulher!
- Ora, tem diferença se fazem sexo?
- Dois... Cinco... Oito...
Ela estava contando os números desorientada e estava a ponto de pular sobre
ele. Aline sorriu pegando sua mão carinhosa.
- Respire fundo querida, por favor!
- Respirar? Sim... Preciso... Ai Socorro... Sei que vou perder a cabeça, eu sinto
que...
- Mamãe? Mas ainda não foi ao médico ver porque se descontrola assim? Fica
até difícil para a sua mulher ficar te socorrendo sempre que tem esse tipo de ataque.
Carmem voltou-se para ele branca feito uma folha de papel.
- Ataque? Foi isto que você disse mesmo?
- Ora, você chega a ser cômica quando...
Carmem saltou do sofá falando decidida.
- Dora? O jantar! Vamos para a sala de jantar Aline, deve estar faminta,
precisamos comer logo.
- Carmem, gostaria de ir ao banheiro, por favor – Aline falou se erguendo.
- Claro. Vamos lá em cima – respondeu subindo com ela.
Levou-a até seu quarto. Assim que entram Aline a puxou para seus braços
falando preocupada.
- Meu amor, se acalme, não quero que brigue com seu filho, vou me sentir
culpada.
- Mas amor, ele está passando dos limites, eu estou perdendo a paciência sim,
eu...
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- Não, calma, deixe-me te acalmar – sorriu envolvendo mais seu corpo e
beijando-a longamente. Carmem desmanchou-se nos braços dela. Aline sorriu
puxando-a para cama sem parar de beija-la – Vou te fazer relaxar rapidinho ai
descemos.
- Te amo tanto...
A boca calou seus lábios. Aline já erguia seu vestido afastando a calçinha
ansiosa. Carmem gemeu rebolando excitada.
- Ai... Delicia...
- Gosta? Estava louca para te comer...
- Come, come que sou sua – pediu descendo as mãos e arrancando a calçinha
– Agora sim, vem, come bem gostoso...
Aline tirou sua calçinha deitando sobre ela. Entrou em seu sexo, gemendo
quando Carmem fez o mesmo.
- Gosto junto, quero junto – Carmem falou entre gemidos – Ai gostosa...
Também não via a hora de dar pra você... Ai, mais fundo, mais...
- Você estava molhada, doida pra dar para mim... Sabia... Ai adoro assim...
Explodiram juntas neste momento. Aline beijou-a por um longo tempo,
afastando-se com um sorriso.
- Vou ao banheiro, você me deixou alagada.
- Também estou – riu procurando a calçinha. Foi com ela para o banheiro com
um sorriso maldoso nos lábios. Lá, enquanto Aline usava o vaso, ela encostou-se na pia
confessando feliz – Encontrou uma boa maneira de me acalmar – virou-se para a pia
lavando as mãos sem deixar de olhá-la pelo espelho.
- Acho que não vai procurar um médico para resolver isto não. Quando
começar a perder o controle vou te puxar pra cama – contou piscando.
- Ótimo! Agora estou realmente morta de fome.
Aline aproximou-se buscando a boca dela num beijo apaixonado. Então se
afastou falando agitada.
- É melhor te esperar no seu quarto ou vou acabar te agarrando de novo.
- Sim, não vou demorar – concordou feliz.
O jantar foi uma tortura única para Carmem. Ver o filho lançando aqueles
olhares de conquistador para Aline a deixou arrasada. Comeu pouco e só não perdeu a
paciência porque sentia os olhares apaixonados e reconfortantes de Aline sobre ela a
todo o momento.
Aline se divertiu bastante cortando o rapaz em todas as suas investidas para
cima dela.
Quando o jantar terminou e Aline se despediu de Dora e Ubiratan, Carmem
pediu a ela beijando seu rosto com carinho.
- Amor me espere no carro que eu já vou.
- Está bem querida, mas... – inclinou levando a boca ao ouvido dela – Não
brigue, por favor.
- Sim.
Contos de Astridy Gurgel
astridy24gel@hotmail.com
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Ela saiu e Carmem voltou-se para Ubiratan que estava sentando na cadeira
com um ar divertido no rosto.
- Agora nós meu rapaz!
- Olha mãe...
- Fica caladinho que sou eu que preciso falar aqui! – Cortou aproximando dele
– Sei que andei meio perdida quando comecei a descobrir meu amor por Aline. Andei
dando murro em ponta de faca. Até te dei uns conselhos absurdos quanto à forma que
você devia tratar as mulheres. Por isto, e só por isto, vou relevar o que você fez hoje
com a minha mulher!
- Apenas fui gentil mãe...
- Não foi gentil! Foi o idiota que eu falei que deveria ser com as mulheres! Foi
desagradável e foi cretino comigo e com ela. Mas, isto terminou, estou indo viver com
ela a partir de agora. Para o seu governo Aline é a mulher que eu amo e ninguém
nunca vai desrespeitá-la na minha frente como você tentou fazer por várias vezes hoje.
- Mãe...
- Eu não vou bater em você porque não faz sentindo este tipo de coisa.
Enquanto você fazia suas graçinhas fiquei pensando que você nunca trabalhou na sua
vida, não é?
- Bom...
- Pois é meu filho, acho que está na hora de começar a correr atrás do seu
sustento.
- Carmem eu acho...
- Dora, não se meta nisto! Se eu o criei errado, ainda posso tentar salvá-lo,
portanto não se meta, por favor!
- Sim, desculpe...
- A partir de amanhã você vai trabalhar como garçom no nosso restaurante
principal...
- O que...
- Cala a boca e escute muito bem! Vai trabalhar de garçom e não terá mais
mesada. O seu carro ficará guardado até que comece a agir feito um homem! Você
não disse que estou louca? Então vai conhecer a minha loucura. Aliás, já devia ter
ficado louca com você quando completou quinze anos.
- Mãe eu peço desculpas para Aline, eu...
- Vai ser um empregado como outro qualquer! Será contratado e vou assinar
a sua carteira. Se não quiser a porta da porta da rua é serventia da casa! Ficou claro?
- Pelo seu silêncio acho que ficou. Trate de acordar as oito da amanhã, chega
de dormir até o meio dia! E não fique triste porque muitos garçons chegam a gerente
nos meus restaurantes. Sou pirada, mas também sou muito humana. Sei reconhecer
um bom funcionário.
- Mãe...
- Estarei lá te esperando amanhã bem cedo. Tenham uma boa noite. Obrigada
pelo jantar Dora. Venho te ver amanhã.
Contos de Astridy Gurgel
astridy24gel@hotmail.com
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Quando ela chegou ao carro Aline, a beijou longamente dando partida em
seguida. Carmem começou a falar das mudanças que queria fazer no quarto delas.
Falou do colchão de água muito séria. Já estavam entrando na garagem da casa. Aline
a abraçou perguntando curiosa.
- Porque não gosta do nosso colchão?
- Ora, porque não te escuto direito. Não escuto seus gemidos amor, fico louca
com aquele barulho dele me atrapalhando de ouvir você.
- Então é uma causa justa, por essa causa comprarei um outro amanhã
mesmo – Riu beijando os cabelos dela.
- Você é fofa comigo Aline. Faz-me tão feliz – comentou abraçando-a diante
da porta.
- Temos que subir logo amor, não aguento mais de vontade de te amar.
- Ai, vamos rápido então... – riu entrando depressa com ela.
Horas depois estavam relaxas e abraçadas na cama. Carmem contou da
atitude que tomou com filho. Aline nada disse. Conversaram sobre muitas coisas que
nunca tinham falado e aquela intimidade deixava Carmem extremamente feliz.
- Sabe, nunca pensei que um dia seria tão feliz. Você é maravilhosa e te amo
muito mais do que você imagina.
- O seu amor é tudo pelo que tenho sonhado. Preciso tanto de você...
- Você já me tem Aline. Nada vai me afastar de você.
- Não sabe o quanto estou feliz. Não imagina o quanto você preenche a minha
vida.
- Imagino sim exatamente pelo tanto que você está preenchendo a minha.
Agora chega de conversa amor, vem que quero te amar.
- Não penso em outra coisa – riu cobrindo-a de beijos apaixonados.
- Eu te amo... Aline...
- Também... Amo-te Carmem, você é a minha vida...
Fim.



Nova Lima-MG, 13 de março de 1990.
Atenção:
Todos os contos estão registrados. Se copiar, cite a origem e a autora.
Astridy Gurgel

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