Superando o passado

Contos de Astridy Gurgel
astridy24gel@hotmail.com
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SUPERANDO O PASSADO
O hospital Renato Macedo na cidade de São Paulo, vivia naquela manhã, uma
grande expectativa com a chegada da nova diretora. O diretor que deixava o cargo
tinha sido amigo do fundador, Renato Macedo. Realizou ali um grande trabalho. Após
várias tentativas a filha de Renato aceitara assumir o lugar do pai. Vitória Macedo, era
clinica geral de renome conhecida nacionalmente. Após trabalhar alguns anos em
vários hospitais, fundou sua própria clinica particular. Foi justamente por essa razão,
que recusou por diversas vezes o convite para assumir a direção do hospital. Não
sendo filha única, teve esperanças que o irmão ou a irmã, decidissem por abraçar a
mesma carreira. Entretanto, nenhum dos dois se dispôs a seguir com os estudos.
Todos os bens foram deixados na responsabilidade dela. Com a partida do Doutor
Marçal para outro país, ela se viu forçada a aceitar aquela responsabilidade.
Vitória entrou no hospital às nove da manhã. Reuni-se com os funcionários
que aguardavam no salão de palestras. Deixou claro suas razões por ter recusado o
cargo anteriormente e pediu o apoio de todos. Prometeu que não faria mudanças
imediatas, tranquilizando assim toda a equipe. Terminou a reunião, seguindo para a
sua nova sala acompanhada de Solange Aguiar, assistente da direção.
- Como pode ver, o hospital está em perfeito estado de conservação. O que
achou? – Perguntou Solange.
- Excelente! – Respondeu estendendo a mão para a secretária com um sorriso
– Como vai, Júnia?
- Muito bem. Estou feliz em poder trabalhar ao seu lado.
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- Também estou – Sorriu entrando em sua sala.
Deu a volta na mesa, sentando em sua cadeira confortável. Olhou a sala
imensa com atenção comentando séria.
- Tenho orgulho de saber que meu pai construiu tudo isto.
- Muitos aqui amavam seu pai. Nunca será esquecido.
- Acho que é minha sina, seguir os passos dele. Desde que me formei não tive
mais descanso. Trabalhei em muitos hospitais. No fundo sabia que um dia teria que
assumir tudo por aqui. Foi o último pedido do meu pai em seu leito de morte. Por isto
não vendi o hospital.
- Estou certa que sabe que é um excelente patrimônio.
- Sim eu sei. Necessito avaliar a ficha de todos os funcionários contratados.
Solange ergueu a sobrancelha surpresa.
- Trabalho as claras e gosto de saber tudo sob os que estão sobre o meu
comando. Providencie imediatamente.
- Perfeito. Mandarei a minha secretária trazer tudo que precisa. Ela está mais
a par desta área. Com licença!
Aproveitou para fazer algumas ligações importantes. Estava terminando uma
ligação quando ouviu a batida na porta. Mandou que entrasse pegando seus óculos na
bolsa. Ergueu a cabeça ficando muda diante da mulher parada a sua frente, olhando-a
fixamente. Lembrou-se na hora da menina desprotegida de quatorze anos que tinha
sido vendida de forma desumana pela própria mãe. Ela segurava um carrinho com as
pastas que tinha acabado de pedir. Viu-a abrir um lindo sorriso, enquanto estendia a
mão dizendo num tom sincero.
- É um grande prazer revê-la Vitória. Após tantos anos posso agradecer por
tudo que fez por mim.
Segurou aquela mão macia e delicada entre a sua. Seus olhos a percorreram
sem disfarçar a admiração. Havia se transformado numa linda mulher. Supôs que devia
ter uns vinte e dois anos agora. Não conseguia parar de olhá-la e nem soltava sua mão.
Notou o sorriso doce dela quando retirou a mão comentando tranquila.
- Quando vim trabalhar aqui estava certa que um dia iria fazer isto
pessoalmente.
- Há quanto tempo trabalha aqui?
- Quase dois anos. Tinha terminado os estudos – Contou sem deixar de fita-la.
- Não quis fazer faculdade?
- Oh não, eu me casei – Explicou rindo sem jeito.
- Ah! – Vitória murmurou apenas embora Carolina mal a tivesse ouvido. Não
pode evitar as lembranças do passado sentindo aquele desconforto que sentia sempre
que pensava nela. Imaginou que ela também estava lembrando, pois seus olhos
cintilavam enquanto ela se ajeitava na cadeira diante dela. Sentiu uma vontade imensa
de perguntar sobre aquele casamento, se tinha filhos, se era feliz, mas algo a impedia
de falar. Não parava de observá-la. Estava profundamente abalada com a presença
dela a sua frente. Jamais supôs que a reencontraria logo ali no hospital.
- Tenho dois filhos e cuidar das crianças e estudar seria complicado.
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- Posso imaginar. Você é secretária de Solange, não é?
- Sim. Aqui estão as pastas que pediu.
- Como tem passado o juiz?
- Muito bem.
- Ótimo – Murmurou assumindo um ar profissional – Pois vamos ver o que
temos ai.
Admitiu que ela estava totalmente por dentro do assunto. A cada pasta que
ela abria, falava em linhas gerais sobre a pessoa. Ouvia num silêncio total. Seus olhos
percorriam cada pedaço daquele rosto lindo. Obviamente não estava preparada para
reencontrá-la daquela forma repentina. Deu um suspiro sem se dar conta e percebeu
os olhos imensamente verdes cruzando com os seus. Sorriu sem jeito e ela disse
calmamente.
- Podemos continuar numa outra hora. Isto é meio cansativo, são muitas –
Disse apontando várias outras pastas.
- Sim, eu... – Vitória começou se erguendo rapidamente – Tenho um
compromisso e acho que podemos continuar amanhã às oito. Está bem assim?
- Perfeitamente – Ela sorriu pegando o carrinho e murmurando baixo – Estarei
aqui. Com licença.
Caiu sentada em sua cadeira fechando os olhos. O passado voltou como um
filme em sua mente. Carolina tinha sido uma vitima nas mãos da mãe alcoólatra.
Vendeu-a como se vende um artigo qualquer de uma loja. Sua irmã Renata Macedo
fora a compradora. Levou-a para casa fazendo-a de empregada. Trabalhava feita louca
naquela época. Dava muitos plantões nem sempre voltando para dormir em casa. Não
sabia nada que se passava ali. Estava justamente trabalhando por dois dias sem voltar
quando recebeu a ligação da governanta de sua casa. Pediu que ela fosse urgente para
casa, pois estava ocorrendo uma tragédia. Lembrou-se que da varanda ouviu os gritos
de socorro. Abriu a porta e viu a garota em cima da mesa. Seu rosto estava
ensanguentado e o irmão estava sobre ela penetrando-a com violência. Ela tentava se
soltar se debatendo desesperada. Bateu a porta com força e correu até ele. Agarrou-o
pelos cabelos tirando-o de cima dela. Assustado ele caiu ao chão e ficou olhando-a
com os olhos vidrados. Viu a irmã deitada no sofá rindo feito uma idiota sem acreditar
nos seus olhos. Renata sentou neste momento forçando os olhos como se tivesse
dificuldade de ver alguma coisa a sua frente. Estava completamente drogada. Não
sabia qual dos dois estava pior.
Carolina se encolheu sobre a mesa caindo num choro descontrolado. Pensou
em chamar a polícia, mas deu-se conta que estava perturbada demais para tomar
aquela atitude. Aproximou da menina que chorava cada vez mais tirando rápido seu
jaleco. Cobriu-a com ele voltando-se para os dois que permaneciam sem ação nos
mesmos lugares.
- Vão para a biblioteca e fiquem lá! Vão logo seus estúpidos! – Ordenou num
tom duro que os fez saírem correndo da sala.
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Voltou-se para a garota tocando seu ombro e ela começou a se debater
desnorteada. Tentava se livrar das mãos que tentavam tira-la de sobre a mesa. Retirou
as mãos, murmurando num tom baixo e meigo para acalmá-la.
- Calma, só quero te ajudar. Sou médica. Ninguém mais vai te ferir. Sei que é
difícil – Sussurrou puxando-a para seus braços – Meu Deus! – Lamentou vendo sangue
escorrer do meio das pernas dela – Vou te tirar daqui. Já vamos sair. Precisa descer
desta mesa – Pediu puxando-a mais para perto do seu corpo.
Ela se voltou neste momento. Seus olhos se encontraram. Escorria sangue da
boca dela. Penalizada, acariciou os cabelos dela. Lagrimas brotaram de seus olhos sem
que pudesse detê-las. Um olho estava todo roxo. Suspirou apontando a escada que
levava ao andar de cima da casa, mas ela se encolheu balançando a cabeça numa
recusa muda. Chamou pela governanta que apareceu ali horrorizada.
- Leve-a para o meu carro e fique com ela, por favor. Não vou demorar aqui.
Tenha cuidado com ela. Está muito machucada.
Assim que ela entrou na biblioteca os dois a olharam muito assustados. Era
ela que controlava os negócios e o dinheiro da família. O pai sabia do envolvimento
deles com drogas e nunca confiou neles. Fitou-os sem disfarçar seu desprezo.
- Animais! É isto que se tornaram! Monstros! Ficaram loucos? Iam matar
aquela garota se eu não chegasse a tempo! Tratem de ficar lúcidos, pois voltarei para
acertar as contas com os dois.
Quando chegou ao carro, Carolina chorava descontrolada nos braços de Rute.
Ao vê-la, a governanta afastou-se dela saindo do carro.
- Liguei para todos os hospitais a sua procura. Ela não queria e ele começou a
espancá-la. Sabia o que iria fazer, mas não consegui impedir. Mandaram-me ficar na
cozinha calada. Ele vivia rodeando-a. Passava a mão nela o tempo todo. Foi Renata que
o motivou a ir até o fim. Lamento não ter impedido.
- Vou para o hospital com ela e depois a levarei para o meu apartamento no
centro. Junte todas as suas coisas e vá direto para lá. Aqui você não fica mais.
- Mas quem vai cuidar destes dois? São incapazes de...
- Isto agora vai ser problema deles e não meu. Vejo-te mais tarde em casa.
Tchau!
No hospital levou-a direto para sua sala particular. Deitou-a na maca puxando
uma cadeira para perto dela. Olhou as pernas cheias de sangue perguntando baixo.
- Dói muito?
Ela balançou a cabeça sem conter os soluços.
- Olha, será que consegue falar comigo?
Ela balançou a cabeça de forma negativa.
- Tenho que cuidar de você. Vou examinar todo seu corpo. Vou chamar a
enfermeira para me ajudar.
Chamou a enfermeira que apareceu logo ao lado dela.
- A doutora Telma já vem vindo – Avisou pegando algumas toalhas.
- Abra a boca – Pediu tocando a mão dela com cuidado - Dá para abrir um
pouco pelo menos?
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Ela abriu a boca e placas de sangue escorreram em abundância diante dos
olhos surpresos da médica.
- Enfermeira, tem um corte profundo na língua. As toalhas, rápido.
Encontrou a hemorragia e tratou rápido de deter o sangramento. Aplicou uma
anestesia local para das os pontos em seguida na língua. Quando terminou de dar os
pontos ela fechou a boca aliviada. Com ajuda da médica que entrou e da enfermeira,
tiraram as roupas dela. Cobriram seu corpo com um lençol. O exame ginecológico veio
a seguir. Tiveram dificuldade para convencê-la a abrir as pernas. Limparam e cuidaram
dos ferimentos leves na entrada da vagina. Vitória sorriu aliviada buscando os olhos
dela.
- Ficara boa em poucos dias. Tem alguém que quer que eu avise?
Ela negou com a cabeça enquanto lagrimas escorriam em sua face.
- Certo. Eu cuidarei de você. Volto num minuto.
Deixou o quarto com a médica que a encarou no corredor com ar
preocupado.
- Onde a encontrou? Ela foi violentada. Temos que comunicar a polícia.
Vitória a fitou perdida e disse simplesmente.
- Em minha casa. Foi o meu irmão.
Aquele foi o início de uma longa e profunda amizade entre ela e Telma.
Trocaram um longo olhar naquele instante e a médica tocou seu ombro dizendo baixo
para consolá-la.
- Entendo perfeitamente sua situação. E te dou todo o meu apoio. Nada será
relatado. Entendo a sua situação.
- Obrigada por tudo.
- Disponha – Sorriu se afastando pelo corredor.
No apartamento, depois que os enfermeiros a deitaram na cama confortável,
Vitória se aproximou puxando uma cadeira e olhando-a nos olhos. Ela ainda estava
muito assustada. Olhava em volta desconfiada. Parecia estar morta de medo.
- Você sabe que aqueles dois são meus irmãos?
Ela fez que sim com a cabeça e Vitória imitou seu movimento com pesar.
- Não tenho como demonstrar a tristeza que estou sentindo neste momento.
Eu juro a você que nunca mais eles se aproximarão de você. Garanto-te que não
ficarão impunes. Não vou envolver a polícia nisto. Se envolver, vão te encaminhar para
um orfanato. Isto não será bom para você. Não é o momento para essa conversa. Só
que quero que saiba que aqui estará muito segura. Não precisa temer mais nada.
Agora vou aplicar um sedativo para que possa dormir e descansar a noite toda. Você
me entendeu?
Ela balançou a cabeça afirmando que sim.
- Ótimo.
Aplicou o sedativo e deixou o quarto apagando a luz.
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Carolina passou uma semana inteira fazendo repulso. Durante o dia Rute
cuidava dela com todo carinho. Toda a noite Vitória voltava para casa e ia direto até o
quarto dela. Examinava com cuidado o ferimento da boca e acariciava os cabelos dela
sentado na cadeira ao seu lado. Falava do dia difícil que teve no hospital. Contava
casos e gostava de vê-la ouvindo-a com grande atenção. Depois Rute trazia o jantar e
jantavam juntas como se fossem velhas amigas. Depois beijava os cabelos dela
desejando uma boa noite e recolhia-se para o seu quarto.
Dez dias após a chegada dela ali, Vitória disse a ela que um psicólogo iria
começar a vir vê-la todos os dias. Estava no hospital duas semanas mais tarde, quando
recebeu uma ligação dele. Informou que tinha ido vê-la por cinco vezes, mas ela
recusava-se a falar com ele.
Naquela noite foi vê-la no quarto e achou-a mais corada. Deu um sorriso
sentando ao dela.
- Parece bem melhor hoje. Posso segurar sua mão?
Carolina corou e ficou surpresa com tanta pureza. O que os irmãos tinham
feito a ela doeu mais em seu coração. Estendeu a mão e pegou a dela entre a sua.
Buscou seus olhos falando emocionada.
- Quero que saiba que me sinto em debito com você. Obviamente se eu não
trabalhasse tanto, se fosse mais presente naquela casa, nada disto teria acontecido. Eu
procurei a sua mãe essa semana e ela não te quer de volta. Na verdade ela não tem
condições de cuidar nem dela própria. Você é muita nova e precisa seguir com a sua
vida. Conversei com um primo do meu pai, é um juiz muito correto e bondoso. Ele
concordou em cuidar de você. Não será empregada dele, não é nada disto. Vai morar
lá e voltar para a escola. O psicólogo me disse que você não fala com ele. É verdade?
Ela abaixou os olhos timidamente e Vitória sorriu tocando o queixo dela e
erguendo-o para ver seus olhos – É verdade?
Diga-me, sou sua amiga.
- Sim.
- Sente medo de falar com ele?
- Não o conheço – disse baixo.
- Fique certa que ele vai te ajudar a superar tudo que aconteceu. É um médico
de almas. Cura as dores do coração. Para que ele possa te ajudar terá que falar com
ele. Contar as coisas mesmo que doa muito falar sobre elas. Vai conseguir cooperar?
- Se está me pedindo vou sim.
- Quero que você se ajude. Não permita que isto estrague toda a sua vida.
Não sei se isto vai passar algum dia. Espero de coração vê-la com a sua vida refeita e
livre desta dor. Ficará aqui por mais uma semana e depois seguira para sua nova vida.
Estamos combinadas assim?
- Estamos – Disse baixo olhando sua mão ainda presa a dela – Eu voltarei a te
ver algum dia?
Os olhos se encontraram num olhar longo e silencioso. Vitória inclinou a
cabeça dizendo baixo.
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- Sim. Deve primeiro refazer a sua vida. Um dia quando a dor for menor vamos
nos reencontrar sim. Para mim é importante que você deixe este passado para trás. Se
ficar cruzando comigo isto pode não se apagar nunca. Só quero que seja feliz.
- Obrigada por ser tão boa comigo. Nunca vou esquecer de você – Falou com
os olhos brilhando intensamente.
Vitória sorriu soltando a mão dela e se erguendo de uma vez.
- Também não vou te esquecer. Boa noite.
Conviveram mais naquela última semana. Carolina não estava mais de
repouso. Vitória a encontrava ouvindo música quando chegava à noite. Trocava
algumas palavras com ela e subia para um banho relaxante. Depois descia e ficava
conversando com ela até a hora do jantar. Achava engraçadas as perguntas que
Carolina lhe fazia. Adorava ouvir sobre os casos do hospital. Ouvia atenta, sem
interrompê-la ou comentar sobre o que ouvia. Durante o jantar ela permanecia
sempre silenciosa. Saboreava a comida demonstrando um apetite próprio de sua
idade. Na última noite em que jantou com ela, Vitória viu-se a observando com grande
atenção. Teve certeza naquela noite que sentiria muita falta da companhia dela. A
tranquilidade e a doçura daquela voz causavam um sentimento de paz intensa em seu
ser. Chegou a perder o sono quando se deitou.
No dia seguinte cedo a levou para casa do juiz. Colocou a mala diante da casa
estendendo a mão para ele.
- Muito obrigada pelo que está fazendo.
- Vai ser um imenso prazer – Ele falou apertando a mão dela.
- Bem... – Sorriu voltando-se para Carolina – Seja uma boa garota, certo?
- Eu serei – Ela falou olhando-a com lagrimas nos olhos.
Vitória sentiu um aperto no peito diante daquelas lagrimas. Inclinou-se
beijando o rosto dela e dizendo baixo.
- Até logo e seja feliz.
Ouviu uma batida na porta voltando à realidade. Solange entrou sentando na
cadeira diante dela.
- Carolina ajudou-a como queria?
- Oh sim, ela foi ótima. Faz muito tempo que trabalha com você?
- Uns dois anos. É uma excelente profissional. Um tanto triste. Tem uma
melancolia profunda naqueles olhos azuis.
- São verdes – Corrigiu-a com naturalidade.
- Verdes? – Perguntou olhando-a confusa – Bem, se por acaso pensar em
demissões, não a tire de mim – Pediu séria.
- Não penso em demitir ninguém no momento. Terei uma semana daquelas e
preciso organizar meus horários. Depois monto um horário razoável com o pessoal da
clinica. Pode me dar uma mãozinha?
- Claro. Vamos lá.
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Enquanto dirigia para a clinica naquela tarde, pensou se o destino tinha
mesmo que coloca-la cara a cara com ela. Há muito tinha superado o passado. Jamais
perdoara os irmãos. Muito menos eles deixaram as drogas. O irmão tinha morrido num
trágico acidente de carro quando apostava corrida com um grupo de amigos. Foi ao
enterro, mas não se aproximou da irmã. Ela estava profundamente abalada porque
estava com ele no momento de sua morte. Dias depois Renata tentara o suicídio.
Desde então vivia trancada em casa com os seus fantasmas. Pagava uma empregada
para cuidar da casa e ficar de olho nela. Reconhecia que os dois tinham recebido um
castigo doloroso. Simplesmente acabaram com suas vidas. Tudo certamente pelo que
fizeram à Carolina. A vida cobrou um preço bem alto de ambos. Agora a reencontrava
amadurecida, casada e com dois filhos. Não podia ficar pensando mais nela. Nunca a
imaginou casada e agora que sabia, uma sensação horrível esmagava seu peito. Se ela
refez sua vida e era feliz, tinha que tira-la da cabeça. Oito anos haviam se passado. Não
conteve a curiosidade de saber dela durante aquele tempo. Ligava todos os anos no
natal e falava com juiz. Lembrado disto agora não conseguia entender porque ele não
contou que ela estava casada. Ele sabia da sua preocupação, portanto seria natural
que tivesse comentado o fato. Não entendia aquilo por mais que pensasse. O melhor
era não pensar nela. Faria tudo para não pensar mais.
Aquela decisão simplesmente desapareceu, quando na manhã seguinte,
Carolina entrou em sua sala empurrando o carrinho e sentando diante dela. Ficou
grudada a cadeira olhando-a embevecida. Quando ela terminou ainda a fitava
distraída.
- Existe algo mais que deseje saber?
- Você almoça aqui no hospital?
- Às vezes – Respondeu fitando-a – Por quê? – Perguntou gentil olhando-a
com doçura. Era assim que a fitava. Havia respeito, doçura e carinho naqueles olhos.
- Estava pensando se ainda vive na casa do juiz. Ou se saiu de lá porque se
casou.
- Meu marido faleceu há quase um ano. Era filho do juiz, portanto continuei
morando lá. Não achei justo afastar as crianças dele. Além disto, o considero como um
pai. Se precisar de alguma coisa, estarei às ordens – Concluiu saindo com o carrinho
tranquilamente da sala.
Não pode conter um sorriso neste momento. Ela estava viúva. Aquela noticia
era maravilhosa. Podia muito bem convida-la para almoçar. Afinal trabalhavam juntas,
não via problema algum nisto. Pegou o telefone e falou com Júnia.
- Pergunte a Carolina se esta livre para almoçar amanhã.
Desligou pegando sua agenda distraída. Ficou esperando até que o telefone
tocou. Pegou-o atendendo ansiosa.
- É aniversário do juiz amanhã e ela estará de folga. Se não se importar de ir
almoçar lá, ela a aguarda.
- Obrigada.
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No dia seguinte, quando chegou à casa do juiz ao meio dia, ele a recebeu com
um forte abraço. Minutos após sua chegada, se surpreendeu ao ver Solange entrando
na casa. Cumprimentaram-se e o juiz abraçou Vitória contando orgulhoso.
- Devo toda a minha felicidade a Vitória, Solange! Foi ela que trouxe Carolina
quando ainda era uma garota para morar aqui. Ela se transformou numa bela mulher e
me deu estes dois netos lindos que tenho hoje.
Solange olhou para Vitória com uma expressão surpresa e sorriu. Carolina
apareceu vinda da cozinha com o filho de três anos nos braços. Usava um vestido
verde que combinava com seus olhos. Os cabelos grandes estavam soltos. Vitória que
só a viu de cabelos presos no hospital, ficou encantada. Ela estava linda maquiada e
pronta para a festa. Neste momento Solange inclinou-se falando baixo em seu ouvido.
- Tinha razão, são mesmo verdes. E você não consegue tirar os olhos deles –
Concluiu maldosa.
Voltou-se a olhando surpresa.
- Não é o que está pensando!
Quando se virou novamente, viu que Carolina as observava. Tinha um meio
sorriso nos lábios e se aproximou estendendo a mão.
- Espero que não se importe com um almoço festivo de família.
- Oh... Claro que não. Queria mesmo conhecer seus filhos e rever o juiz.
- Venha, vou levá-la para conhecer Juliana. É um docinho!
Convidou pedindo desculpas a Solange e levando-a pela mão para o andar de
cima. Sentiu-se como uma colegial andando assim de mãos dadas com ela. Quando
pararam diante do berço, viu a linda menina dormindo. Carolina a fitou
profundamente e confessou emocionada.
- Devo tudo que tenho a você. Minha família, meu emprego, toda a minha
vida.
- Ora que bobagem – Comentou sem jeito. Aquele olhar carregado de emoção
deixou-a totalmente perturbada.
Carolina voltou seus olhos para a filha soltando a mão dela naquele momento.
Vitória, no entanto voltou a pegar a sua mão enquanto buscava seus olhos.
- Você é a coisa mais linda que já coloquei meus olhos.
Carolina olhou-a com mais atenção falando séria.
- Não sou tão linda.
- É sim, não faz ideia do quanto é linda – Falou emocionada.
Carolina quebrou o encanto se voltando para deixar o quarto.
- Vamos descer? Devem estar notando nossa ausência.
- Me desculpe – Falou deixando o quarto com ela. No corredor perguntou
curiosa – É muito amiga de Solange não é?
- Temos um bom relacionamento – Respondeu fitando-a com doçura.
- Ao ponto de frequentar sua casa?
- Não tenho um caso com ela se é o que está pensando – Explicou de uma vez
– Não pense besteiras. Solange é uma boa amiga. Talvez a única que eu tenho.
- Sinto muito – Disse baixo balançando a cabeça e seguindo na frente dela.
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Ficou parada olhando-a descer pensativa. Um sorriso surgiu em seus lábios.
Jamais ficaria irritada com ela. Sentia um carinho profundo por ela. Ansiava por
reencontrá-la há muito tempo. O fato de estar encantada com sua beleza lhe agradava
demais. Qualquer coisa vinda dela era especial. Era mais querida que o próprio que juiz
que se tornara um verdadeiro pai que não teve. Imaginar que a veria todos os dias era
simplesmente inacreditável.
O almoço foi de grande satisfação para todos. Vitória sentou-se ao lado dela e
passou todo o tempo olhando-a embevecida. Todos perceberam a situação fingindo
não notar. Quando se despediram, Carolina foi levar Vitória e Solange até o portão.
Vitória voltou-se para Solange comentando séria.
- Te vejo no hospital. Preciso conversar com Carolina.
Solange despediu-se delas entrando no carro e indo embora.
Vitória se voltou para ela e viu que a olhava com aquele olhar carregado de
emoções.
- Este seu olhar me deixa encantada.
Ela sorriu balançando a cabeça. Enfiou a mão no bolso do vestido retirando
uma cigarreira de ouro. Acendeu um cigarro tragando com extremo charme. Fitou
Vitória percebendo o quanto ela estava abalada.
- Existe uma magia no ar quando estamos juntas. Você sente?
- O que eu sinto é uma atração tão forte que está me cegando.
- Atração física? – Perguntou sem deixar de fita-la daquele jeito especial.
- Não sei. É uma força que me puxa para você. Talvez seja atração porque
quando vi Solange chegando aqui me senti fervendo por dentro de raiva.
- Então está sentindo vontade de me tocar?
Estava mais séria agora e seus olhos cintilavam intensamente.
- Eu não sei o que sinto. Acho que quero ficar conversando com você para
sempre – Falou e riu. Riram juntas neste instante. Carolina estendeu a mão acariciando
o rosto dela com suavidade. Seus olhos se encontraram novamente e Vitória confessou
rouca – Você está me enfeitiçando.
- Estou?
Vitória pensou que não existia mulher mais sensual no mundo que ela. Seu
peito doía. Pontadas se sucediam a cada palavra dela. Quando a tocou, sentiu sua pele
queimando com o contato daqueles dedos delicados.
- Eu quero vê-la está noite.
- Não quer não – Disse desviando os olhos dela.
- Como pode dizer isto quando...
- Quando?
- Estou lhe dizendo que me sinto em brasas por dentro.
- Nunca me entreguei a nada físico e muito menos passageiro. Eu sofri muito,
Vitória! Não consegui amar meu marido, sou fria, sou triste.
- Deixe-me ajuda-la então – Pediu rouca.
- Eu admiro você demais. Gosto tanto que me recrimino. Mas eu sei que o
meu afeto é puro. Posso tocá-la assim – Estendeu a mão acariciando o rosto dela
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novamente. Tocou os lábios dela sentindo-a estremecer com o seu toque. Retirou a
mão sorrindo e explicando – O que sinto é maravilhoso e não sei explicar.
- Se eu te tocasse não seria bom?
- Pode me tocar se quiser me dar carinho – Confessou baixo – Eu quero
mesmo que o faça. Mas não agora e nem aqui. Não se engane porque o que sentimos
é mais que desejo.
- Então me deseja?
Estendeu a mão cobrindo os lábios dela com suavidade.
- Vá embora e descanse.
- Preciso te dizer que quando te vi ontem fiquei completamente sem ação.
Mal ouvi uma única palavra do que me disse. Não conseguia parar de te olhar. Gosto
muito do que estou sentindo, mas quero entender meus sentimentos.
- Eu sei. Entendo tudo porque sinto a mesma coisa. Vá agora – Pediu seguindo
para sua casa.
Vitória sentia-se flutuando. Parecia que tinha feito amor com ela. A sensação
era a coisa mais maravilhosa que já tinha sentido em sua vida. Quando chegou a casa
as oito da noite, Rute a informou.
- Carolina ligou avisando que virá vê-la as dez.
- O que? As dez? Era ela mesma?
- Sim. Conversamos um bom tempo. Estou tão feliz que esteja bem. Vou
cuidar do jantar. Com licença!
A campainha tocou às dez da noite. Vitória abriu a porta com o coração na
boca. Carolina lhe deu um lindo sorriso passando por ela. Estava elegantemente
vestida com uma capa linda. Parou olhando tudo envolta. Um sorriso surgiu em seus
lábios.
- Não acreditei quando Rute me deu o seu recado. Por que mudou de ideia?
- Não mudei de ideia. Viria de qualquer jeito – Explicou aproximando dela – Só
não queria que ficasse ansiosa.
Estendeu sua mão pegando a de Vitória e colocou-a em sua nuca.
- Me acaricie.
- Você está me enlouquecendo – Gemeu puxando-a para si.
Carolina, no entanto afastou-se voltando a colocar a mão dela em sua nuca.
Mostrou como queria ser tocada murmurando num tom mais intimo.
- É um sacrifício muito doloroso pedir que apenas me sinta?
Deu-se conta que ela ardia tanto quando ela. Começou a acariciar a nuca com
delicadeza. Viu-a fechando os olhos e suspirando baixinho. Continuou com os carinhos
subindo as mãos para os cabelos e voltando a nuca.
- Por anos sonhei com suas mãos me tocando assim. Apenas você. Mas você
nunca ligou, nunca foi me ver. Chorei sua falta por infinitas noites.
- Por que você não me ligou? – Perguntou retirando as mãos e buscando os
olhos dela.
- Porque era doloroso, muito doloroso.
- O que você quer de mim?
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- Carinho. Pode me dar carinho?
- Posso lhe dar mais, posso lhe dar prazer...
- Não – Gemeu se afastando dela sufocada.
- Por que não?
- Eu nunca senti, nunca senti prazer – Confessou sentando no sofá como se as
pernas lhe pesassem.
- Eu sinto muito – Lamentou ajoelhando no tapete diante dela – Conte-me
como isto é para você.
- Quando Eduardo apaixonou-se por mim me senti péssima. Não sentia nada
por ele. Não era nele que eu pensava todo o dia. Ele insistiu com a ideia de casar.
Mesmo depois de casados, teve que esperar quatro meses até me ter. Foi horrível.
Não conseguia relaxar. Era um martírio.
- Ele sabia?
- Sim, nunca menti.
- Sempre foi assim?
- Sempre! Durante nosso casamento suportei o contato físico com ele apenas
por duas únicas vezes. Meu corpo se negava a sentir, a gostar daquilo.
- Ouve mais alguém depois dele?
- Por Deus, não – Falou chocada – Sempre pensei em você. Em suas mãos que
cuidaram de mim com tanta suavidade. Do seu carinho e cuidado comigo. O único
toque que suporto é o seu. Nossas vidas seguiram e eu adoeci de saudades de você.
- Se fizermos amor...
- Se fizermos estaremos confundindo tudo.
- Talvez eu possa fazê-la sentir o prazer que nunca sentiu.
- Talvez – Sussurrou pegando a mão dela e apertando junto a sua – Quero um
tempo para matar as saudades.
- Eu pensava muito em você. Como estaria como...
- Se eu tinha alguém – Comentou com doçura.
- Sim – Riu divertida – Estava sempre pensando se existia alguém em sua vida.
- Sonho em dormir em seus braços – Confessou baixo – Foi por isto que vim.
- E acha que vou conseguir dormir? – Perguntou descendo os olhos pelo corpo
sem disfarçar o desejo.
- Dormiremos sim. Venha.
O apartamento era o mesmo. Estava mais bonito, diferente do que se
lembrava. Seguiu de mãos dadas com ela até o quarto. Entram e despiu-se sem o
menor pudor. Viu o olhar excitado percorrendo seu corpo e comentou divertida.
- Já me viu nua antes e só pensou em me proteger. Pense o mesmo agora.
Vitória concordou com um gesto de cabeça. Vendo-a em pé fitando-a
completamente sem fala, pediu baixo.
- Dispa-se e venha se deitar.
Obedeceu e logo se deitava completamente nua ao seu lado. Carolina se
aproximou pedindo meiga.
- Me abrace.
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13
Abraçou-a sem conseguir conter o estremecimento do seu corpo quando
sentiu o corpo nu dela agarrado ao seu. Fechou os olhos suspirando longamente.
Ouvia a respiração dela tentando se acalmar. Alguns minutos se passaram até que
falou sem se conter.
- Estou ficando muito excitada.
- Não fale – Pediu pegando a mão dela e colocando sobre seu seio.
Vitória sorriu perguntando confusa.
- Então podemos?
- Me toque se deseja – Falou ajeitando a cabeça no travesseiro.
Vitória deixou sua mão percorrer aqueles seios, completamente cega de
desejo. Sua respiração mudou o ritmo enquanto seu corpo colou-se mais ao dela. Os
dedos rodeavam o bico de um dos seios num movimento excitante quando perguntou
num tom sensual.
- Gosta?
- Se não se controlar me fará sofrer – Falou procurando os olhos dela no
escuro.
- Nunca imaginei algo assim. Pensa que sou de ferro?
- Posso ir embora...
- Não – Falou rápido furiosa consigo mesma – Desculpe-me.
- Durma bem – Disse roçando a boca no rosto dela e ajeitando-se para dormir
– Me abrace bem pertinho. Boa noite.
Não acreditou quando despertou na manhã seguinte. Estava sozinha na cama.
Sobre o travesseiro que Carolina usou havia um bilhete. Dizia: “Perdão, não podia
deixar meus filhos acordarem sem a minha presença. Foi uma noite inesquecível”.
Saltou da cama cantarolando feliz. Tomou um banho lembrando-se do intenso
desejo que sentiu. Aquilo parecia uma loucura. Mas era uma loucura deliciosa de
viver.
Na hora do almoço foi para o refeitório, ansiosa para vê-la. Viu-a numa mesa
com Júnia e outros dois médicos. Serviu-se caminhando para a mesa deles. Assim que
seus olhos se encontraram estremeceu ao ver toda a doçura que havia nos olhos dela.
Ninguém jamais a olhou daquela maneira tão especial. Parou diante da mesa com o
coração na boca. Os dois médicos se ergueram comentando que estavam atrasados.
Vitória sentou sem afastar os olhos dela. Percebendo a troca de olhares Júnia também
se desculpou retirando-se.
Carolina sorriu comentando baixo.
- Espero que não tenha ficado magoada por ter saído enquanto dormia.
- É claro que não. Não pensei que conseguiria pegar no sono.
- O cansaço sempre nos vence – Comentou olhando em volta – Estamos sendo
observadas. Logo estarão comentando que somos amantes.
- Se preferir não nos falamos mais aqui.
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- Não me importo – Sussurrou olhando-a com adoração – Você me deixou
muito feliz ontem à noite.
- Posso voltar a fazê-la feliz na hora que quiser.
Carolina sorriu balançando a cabeça. Sabia que o desejo dela é puramente
sexual. Seria um erro partirem por aquele caminho.
- Você faz ideia do quanto é sensual? Faz ideia do quanto está me
enlouquecendo?
Carolina a fitou ficando séria.
- Sim eu sei. Sei de tudo que sou capaz. Quero mais que isto de você!
- Gostaria de ser como você e aguentar isto tudo sem me descontrolar.
- Diz isto porque se excitou ontem?
- Sim. Pensei que nem daria conta de dormir com você.
- Pensa que não fiquei excitada? – Perguntou erguendo os ombros – É que
não nos bastaria.
- Como pode saber?
- Eu apenas sei. Sinto.
- Se soubesse que estava excitada teria agido diferente – Comentou
decepcionada.
- Teria? Suponho que sim. Só teria me dado vazio.
- Só pensei que se ficou excitada seria natural que tivéssemos feito amor.
- Você não entende mesmo não é?
- O que afinal eu não entendo?
- Eu me excito quando você me toca. Excito-me quando me olha. Excito-me só
de ouvir a sua voz. Você quer fazer amor comigo?
- Sim quero mais que tudo.
- Seria um sacrifício ficar apenas nas caricias?
- Me contento em ter você de qualquer forma. Só acho que um dia isso vai ser
demais para mim. Antes de sair de casa tive que...
Vitória se calou afastando a bandeja e suspirando.
- Você se satisfez – Concluiu tranquila.
- É. Não resolveu e me senti pior.
- Nunca fiz isto – Contou olhando-a atentamente – Quero resolver tudo isto
em mim e preciso da sua ajuda.
- Irá me ver essa noite?
- Não posso me ausentar toda noite. Se quiser podemos ver um filme. Adoro
filmes.
- Eu irei sim.
- Preciso ir agora. Até a noite.
Quando Vitória chegou à noite foi recebida pelo juiz. Conversaram por algum
tempo até Carolina aparecer. Desculpou-se contando que estava colocando as crianças
para dormir. Lançou um olhar conspirador para Vitória convidando gentil.
- Vamos subir para ver o filme?
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- Sim. Com licença.
No terraço sentaram numa poltrona confortável diante da televisão. O filme
era uma comédia romântica bem leve. Carolina se deliciou com ele. Vitória, no entanto
comentou agitada assim que terminou.
- Você sabe que não vim aqui para isto.
- Sei. Você veio para estar comigo.
- Carolina, por favor! Tenho trinta e quatro anos e não acho que vou ter
paciência para isto!
- Certo – Ela sorriu se erguendo – Vou te acompanhar até a porta.
- Não...
Ergueu-se rápido agarrando a cintura dela. Virou-a para si buscando seus
olhos.
- Só quero que entenda o quanto é difícil para mim.
- Eu entendi – Sorriu acariciando o rosto dela com suavidade – Não deve
brigar, por isto prefiro que vá agora. Amanha é um outro dia.
Afastou-se já começando a descer. Vitória conseguiu alcança-la no meio da
escada. Virou-a para si confessando perturbada.
- Não fique magoada comigo. Eu só...
- Ficar magoada com você? – Perguntou rindo sem acreditar – Nunca ficarei
magoada com você. Você é a minha vida. Faremos amor algum dia. É uma promessa.
Até lá tente me ajudar sem perder a cabeça. Agora desça e diga boa noite para João.
Estarei te esperando na porta.
Vitória suspirou e desceu indo fazer o que ela pediu. Quando retornou ela
aguardava ao lado da porta. Inclinou-se beijando o rosto dela.
- Tenha uma boa noite.
- Você também – Sorriu deixando a casa.
Carolina chegou ao hospital no dia seguinte as sete em ponto. Vitória estava
parada diante do elevador. Sorriu entrando ao lado dela. A porta fechou e Carolina
aproximou-se dela. Colou seus corpos acariciando o rosto dela com adoração. Vitória
enlaçou-a acariciando suas costas. Beijou os cabelos dela enfeitiçada. Seus corpos se
roçavam suavemente. O elevador parou neste instante. Demoraram algum tempo para
se afastar. Quando o fizeram a porta já estava abrindo. Dois enfermeiros entram
cumprimentado-as. Elas saíram juntas despedindo-se no corredor. Carolina não
conseguia parar de sorrir. Estava explodindo de tanta felicidade. Entrou em sua sala
sentando em sua cadeira e pegando alguns papeis. Notou neste instante que Solange a
fitava curiosa. Olhou-a confusa perguntando.
- Algum problema Solange?
- O que a deixou tão feliz? Nunca te vi assim.
- Foi Vitória – Contou com naturalidade.
- Estão tendo um caso não é?
- Um caso? O que é isto? Namoro?
- É, parecido – Riu divertida.
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- Não, não temos um caso. Apenas nos gostamos.
- O que fazem quando estão juntas?
- Conversamos.
- Vocês se comem com os olhos. Hoje lá no refeitório pensei que ela pularia
sobre você.
- Que bobagem – Riu voltando a trabalhar.
Estava deitada em sua cama, quando o telefone tocou às onze da noite. Seu
coração disparou, pois tinha certeza que era ela.
- Demorei.
- Só um pouquinho – Falou feliz.
- Cheguei tarde da clinica.
- Onde está?
- Na cama. Você também?
- Sim.
- Estão falando de nós no hospital – Contou séria.
- Já sei.
- Pensam que temos um caso.
- É. Solange me perguntou sobre isto hoje.
- Perguntou? O que disse a ela? Conversa sobre nós com ela? – Perguntou
ciumenta.
Carolina riu envaidecida.
- Adoro seu ciúme.
- Não me faça sofrer. O que conversaram?
- Ela disse que nos comemos com os olhos.
- E é verdade.
- Talvez.
- Por que nega?
- Porque as pessoas só conseguem ver sexo em tudo. Não sou assim. Você não
é um objeto sexual. É minha alegria, meu conforto. Não paro de pensar em você.
- Então vá a minha sala amanhã. Preciso beijá-la.
- Não posso.
- Quero amá-la como ninguém jamais amou. Não vai se arrepender.
- Eu sei. Agora temos que dormir.
- Não vou conseguir...
- Pense em mim de olhos fechados e consegue. Boa noite.
No dia seguinte foi direto para a clinica. Trabalhou a manha toda pensando
em Carolina. Ao meio dia foi para o hospital e foi direto a procura dela. Bateu na porta
e entrou aproximando-se. Carolina se ergueu sorrindo e Vitória envolveu-a em seus
braços. Procurou seus lábios, mas ela virou o rosto no instante em que Solange
entrava.
- Incomodo? – Perguntou olhando-as surpresa.
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- Não – Vitória respondeu soltando Carolina – Vim apenas busca-la para
almoçar comigo. Conheço um restaurante que tenho certeza que vai adorar. Vamos?
- Hoje não posso. Desculpe.
- Por que não pode?
- Combinei com o juiz que iria almoçar em casa.
- Mas você pode almoçar com ele todos os dias – Rebateu confusa.
- Infelizmente hoje o juiz tem um convidado e marcou comigo antes de
combinar este almoço. Eu almoço com você quando quiser, mas não hoje. Até logo! –
Concluiu pegando sua bolsa e deixando as duas ali.
Vitória saiu para a rua pegando o seu carro. Estava ansiosa e mal conseguia
pensar direito. Decidiu que não iria esperar nem mais um minuto. Tinha que saber
quem era o convidado do juiz. Não iria ficar com aquela duvida na cabeça.
Olívio Machado, advogado do juiz, estava sentado ao lado de Carolina quando
o mordomo entrou acompanhando Vitória. Ela estacou ao ver o homem tão próximo
de Carolina. O juiz ergueu-se indo cumprimentá-la com satisfação. Carolina voltou-se a
fitando com curiosidade. Pela expressão fechada dela percebeu que estava com
ciúmes. Novamente uma felicidade imensa a invadiu enquanto ela sorria para Vitória.
O juiz estava apresentando o advogado a ela. Falava das qualidades e do caráter o
homem que devia ter uns trinta anos. Irritada com o respeito que o juiz demonstrou
sentir por ele, ela perguntou com petulância.
- Está pretendendo casar Carolina outra vez?
O juiz soltou uma sonora gargalhada batendo no ombro dela e sentando
novamente.
Vitória sentou a convite dele e Olívio a fitou comentando sério.
- Se é de seu interesse saiba que sou muito bem casado!
Ela não respondeu. Ficou apenas olhando-o com ar de desagrado. Ele era
bonito e charmoso. O tipo que toda mulher parecia sonhar encontrar na vida. Ele, no
entanto a ignorou voltando sua atenção para a conversa que estava tendo com
Carolina. O juiz chamou atenção para o prato delicioso de frutos do mar que estavam
saboreando. Ela logicamente mal tocou na comida. Sorveu o vinho com se fosse água e
tomou outras taças sem poder se controlar. No fim do almoço, depois de servido o
cafezinho, Carolina se desculpou e voltou-se para Vitória convidando gentil.
- Vamos conversar na biblioteca?
Não esperou um segundo convite. Pediu licença a seguindo até o local.
Quando entraram, parou fitando Carolina em silêncio. Percebendo que ela não dizia
nada, sentou numa poltrona comentando baixo.
- Sei que está furiosa porque eu vim, mas é que não pude aguentar!
- Não estou furiosa – Falou baixo sem deixar de fita-la.
- Estou certa que aquele homem está dando de cima de você.
- Não é a primeira vez, fique certa – Respondeu tranquila.
- Como pode permitir se...
- É um amigo da casa. Ele sabe muito bem que será apenas um amigo.
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- Os homens não pensam assim. Além do mais você dá atenção demais para
ele.
- Só estava sendo gentil e educada.
- Você é mesmo inocente.
Carolina ouviu o suspiro dela enquanto começou a andar pela biblioteca
parecendo um bicho acuado. De repente ela parou procurando um cigarro. Acendeu
tragando e voltando-se para Carolina. Esta sorriu com doçura assim que seus olhos se
encontraram.
- Você não conhece os homens Carolina!
- Conheço sim. Infelizmente conheço até demais.
- Então porque dá tanta atenção para aquele advogado meloso? – Gritou
perdendo a paciência.
- Não grite – Pediu baixo sem se alterar.
- Teme que ele ouça? Tomara que ouça e vá embora de uma vez.
- Vai assustar meus filhos e certamente o juiz – Justificou caminhando até a
poltrona e sentando – Ele já percebeu que algo está acontecendo entre nós.
- Pois estou disposta a falar abertamente com ele – Contou ansiosa – Eu te
trousse para esta casa e tenho o dever moral de explicar a ele sobre nós.
- Deve fazer o que achar melhor – Comentou sem se alterar.
- Você janta comigo hoje?
- Não iríamos jantar – Sorriu carinhosa – Não fique tão ansiosa. Não estou
fugindo.
- Se não está fugindo porque não para de recusar meus convites?
- Seus convites são de amante – Explicou aproximando-se dela – Tentou me
beijar hoje. Eu já pedi para não me forçar.
- Que mal faz um beijo? – Perguntou agitada.
- Você nunca namorou? Não pode ter paciência e esperar algum tempo?
- Esperar o que? Que você me deseje? Pra que se sinto que me deseja agora?
- Não nego meu desejo. Apenas não estou pronta. Talvez tenha me enganado
– Falou afastando-se dela e indo até a porta – Você jamais conseguira. Será uma
tortura e vamos sofrer por nada.
- Hei do que está falando? – Perguntou sufocada.
- Estou falando de nós. De tudo que você está dizendo agora. Acabei de me
dar conta que você não tem que se sacrificar por minha causa. Eu sinto muito por
tudo.
Ela saiu na frente. Não olhou para trás e nem viu Vitória a seguindo
desesperada. Quando chegou a sala ela tinha subido para o quarto. O juiz a encarou
comentando.
- Foi se despedir dos filhos. Nunca sai sem falar antes com eles. Você por
acaso já pensou nisto?
- Não entendi.
- Já pensou que Carolina tem dois filhos?
- Não exatamente – Comentou pensativa.
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- Então pense – Recomendou enquanto abria a porta da rua para ela – Boa
tarde!
- Boa tarde.
As cinco da tarde foi a sala dela e foi informada que tinha descido para um
café. Encontrou-a sentada numa mesa sozinha com uma xícara na mão.
- Oi. Procurei-te na sua sala. Posso sentar?
- Por favor.
- O juiz fez uma observação hoje quando me levou a porta.
- Sim? Qual observação?
- Lembrou-me que você tem dois filhos.
- É. Tenho mesmo – Riu devorando os olhos dela – Isto te assusta?
- Realmente não. Assusta-me pensar em não vê-la mais.
- Bobagem.
- Não sei o que fizemos. Mal consigo me concentrar. Penso em você e no que
estou fazendo de errado.
- Não está fazendo nada errado. Entendo seus sentimentos.
- Entende? Entende meu desejo?
- Sim. Mais do que você imagina.
- Posso ir vê-la hoje à noite?
- Será um prazer.
- Poderemos ficar sozinhas por algum tempo?
- Sim. É claro. Agora preciso ir. Vejo-te lá em casa.
À noite, quando chegou, Vitória encontrou o juiz sozinho na sala. Aproveitou
para ter uma conversa franca com ele. Falou de suas intenções. Pediu licença para
frequentar a casa. Era muito corajosa falando tão abertamente com ele. Mas sabia que
não tinha como entrar numa casa de família agindo de outra forma.
Carolina apareceu quando terminavam a conversa. Deu um lindo sorriso para
Vitória pegando sua mão.
- Vamos tomar uma taça de vinho no terraço. As crianças já estão dormindo.
Subiram esquecidas do juiz. Lá no terraço, Carolina envolveu-a nos seus
braços buscando seus olhos.
- Estou com muita vontade de te sentir. Você deixa?
- Deixo o que você quiser.
- Que bom – Sorriu e desceu as mãos até os seios dela. Acariciou-os
confessando baixo – Quero vê-los. Venha sentar comigo – Pediu levando-a para um
sofá confortável.
Vitória sentou observando quieta enquanto ela abria sua blusa e retirava o
sutiã. Diante dos seios, ela se afastou admirando-os com imenso prazer. Vitória
respirava com dificuldade sem afastar os olhos dela. Ela estendeu as mãos passando a
acariciá-los sem se conter. Desceu o rosto lentamente até a boca chegar a um dos
biquinhos. Começou a beijá-lo a principio lentamente. Depositava beijos tímidos ora
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em um, ora em outro. Começou a sugá-los em extrema suavidade. Estava encantada
com a reação daquele corpo ao seu toque.
Sentia o tremor do corpo excitado de Vitória junto ao seu rosto. Sua língua
afoita parecia ter fome daquele corpo. Ela estacou olhando o fecho da calça. Começou
a abri-lo dizendo sem coragem de fita-la.
- Preciso sentir...
Vitória mal conseguia respirar. Nem conseguia falar. Num movimento rápido,
afastou a calça para dar mais liberdade a ela. Carolina desceu a mão afastando a
calçinha sem aguentar mais. Quando sentiu o sexo molhado soltou gemido e sorriu
buscando os olhos dela.
- Que delícia. Vou te fazer gozar bem gostoso pra mim. Quer?
- Sim...
Não perdeu mais tempo. A mão fez loucuras no sexo de Vitória. Ela gemia sem
conseguir se controlar. Soltou o corpo deixando o prazer vir sem reservas. Quando
gozou, buscou os olhos de Carolina. Ela retirou a mão dando um lindo sorriso.
- Foi gostoso?
- Não imagina o quanto. Posso tocar em você também?
- Não. Queria te aliviar pouco. Sei que não é fácil. Vou pegar uma taça de
vinho para nós.
Beberam a taça de vinho distraídas. Carolina olhava a cidade lá em baixo com
suas luzes maravilhosas. De repente contou baixinho.
- Eu sempre venho aqui à noite sozinha. Gosto de pensar em você. Na sua voz,
nos seus olhos. No seu jeito que eu adoro. Agora terei algo mais em que pensar.
- Posso saber o que?
- Não sabe?
- Bem, não ao certo.
- Pensarei no seu sexo gritando por mim – Confessou descendo os olhos pelo
corpo dela – No quanto você é sensual.
- Eu...
- Não fale, é tarde. Precisa ir. Veremos-nos amanhã e será melhor que hoje.
- Não sabe o quanto estou feliz.
- Imagino – Sorriu pegando a mão dela e deixando o terraço.
Encontraram-se no refeitório na hora do almoço no dia seguinte. Carolina
sentou diante dela comentando animada.
- Soube que fez uma visita matinal nas dependências do hospital.
- Sim. Recebi o recado você me mandou – Contou tirando o envelope do bolso
– Obrigada pelo toque.
- Estavam falando, sabe como são as pessoas.
- Que eu só tenho olhos para você e que estava deixando o trabalho meio de
lado.
- É. Exatamente – Sorriu mostrando o prato dela – Devia comer o peixe, é
forte.
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Sorriu para ela percebendo a forma carinhosa como a fitava agora.
Perguntou-se se ela estava lembrando-se da intimidade da noite passada. Sentia uma
vontade imensa de tocar no assunto, de perguntar, mas não teve coragem. Comeu o
pedaço de peixe sem deixar de flertar com ela. Quando terminou, afastou o prato
perguntando ansiosa.
- Pensou mesmo em mim ontem à noite?
Os olhos dela brilharam intensamente quando respondeu baixo.
- Sim, por um longo tempo. Pensei nos seus seios e no quanto quero voltar a
tocá-los.
Vitória olhou em volta convidando carinhosa.
- Vamos fumar um cigarro lá no pátio?
- Claro.
Lá fora, sentaram no banco em baixo de uma arvore. Fumaram em silêncio
por um tempo. Depois, Vitória comentou olhando de relance para alguns funcionários
que passavam olhando-as de forma curiosa.
- Vão falar horrores de nós.
- Isto importa?
- Não – Riu feliz – Eu também dormi pensando em você. No quanto foi
delicioso o que você deu.
Carolina olhou-a nos olhos por alguns instantes. Voltou a olhar o pátio
dizendo baixo.
- Hoje quero que toque meus seios.
- Quer? – perguntou olhando-a admirada.
- Sim. Sei o quanto quer me tocar. Você me disse, lembra?
- Claro, quero mais que tudo. Poderei ir até o fim?
- Temos que entrar, passa da hora – Falou se erguendo – Espero você a noite.
Estarei no terraço. Vou indo – Falou entrando rapidamente para o hospital.
Foi para a clinica, pois tinha algumas consultas marcadas na parte da tarde.
Cinco horas da tarde estava fazendo um relatório em sua sala, quando Telma entrou
sentando diante dela.
- Nossa que dia! Como vai indo com Carolina? Estão se entendendo bem?
- É, estamos indo – Sorriu abaixando a caneta – Você sabe, ela tem limitações.
Não superou o passado. O juiz me disse que o casamento foi um fracasso. Ela não
suportava o toque do marido. Ele procurava mulheres na rua piorando a situação.
Dormiam em quartos separados.
- Foi violentada, não deve ter sido fácil para ela. Casar, ter intimidade com um
homem. Não tinha como dar certo.
- Eu liguei para Miguel hoje cedo. O psicólogo que tratou dela.
- Sim, eu me lembro.
- Ele me disse que terei que fazer apenas o que ela quiser. A sexualidade dela
foi profundamente afetada. Ela precisa descobrir o prazer à maneira dela. Ela criara a
maneira que julgar mais segura.
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- E você está dando conta de se segurar?
- Fico quase louca, mas me aguento. Eu gosto dela. Na verdade sinto que
sempre a amei. Farei o que for possível para conquistá-la. Farei apenas o que ela
quiser. É o melhor que posso fazer. Bom, agora preciso terminar aqui. Vou me
encontrar com ela as sete. Não vejo à hora.
- Vou torcer por você. É mais do que hora de encontrar a felicidade. Vejo-te
amanhã. Tchau!
Vitória chegou as sete como combinado. O mordomo levou-a ao terraço
retirando-se discretamente. O local era mobiliado e usado também como salão de
festas. Uma música suave tocava no ambiente. Carolina estava debruçada na sacada.
Voltou-se indo até ela com um largo sorriso. Segurou a mão dela, inclinando-se e
beijando seu rosto.
- Nossa! Como está cheirosa. Adorei o vestido, é muito sex. Tudo isto para
mim? – Perguntou apertando seu corpo ao dela. Vitória sentiu o tremor nas pernas
olhando-a nos olhos com paixão.
- Não é você minha namorada? – Gracejou beijando o queixo dela de maneira
sensual – Você está linda. Deliciosa!
- Venha, vou te dar um uísque. Sente-se ali. Só um minuto.
- Acho este terraço muito gostoso.
- É sim, eu também adoro.
Preparou dois drinques voltando para perto dela. Sentou passando o drinque
para ela. Sorriu comentando feliz.
- Agora sinto prazer em me cuidar. Gosto de ficar bonita para você. Quero
muito te agradar.
- Será que tenho feito algo para te agradar?
- Lógico! Só de ser tão paciente já me agrada demais.
Vitória sustentou o olhar dela por alguns instantes. Estendeu a mão
acariciando os cabelos dela. Viu como ela fechou os olhos dando um longo suspiro.
- Eu falei com o seu psicólogo hoje pelo telefone. Ele vai trabalhar em minha
equipe na clinica. Gosto muito dele.
- Ele é uma pessoa incrível. Ajudou-me muito no passado. Vocês falaram
sobre mim?
- Perguntou-me por você. Contei que estamos juntas.
- Sei – Murmurou pegando um cigarro – Foi só?
- Sim. Conversamos sobre várias coisas.
Carolina fumou olhando-a por alguns instantes. Tomou um gole do seu
drinque pensativa. Percebeu que ela desconfiou daquela conversa com Miguel.
- Ele te contou porque interrompi a analise?
- Não. Só me disse que foi chamado logo após o seu casamento.
- Ah sim! Aquele casamento me desestruturou profundamente. Eu interrompi
porque achei que poderia andar com minhas próprias pernas. Quando você faz analise
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por muito tempo, descobre tantas coisas que desconhecia que dá medo. Descobri que
você era a única chave para resolver o meu problema sexual...
Neste momento ela se calou fumando ansiosamente e olhando em volta.
Então voltou a fita-la criando coragem.
- Contei a ele sobre isto. Aconselhou-me a procurá-la. Foi assim que pedi ao
juiz que me ajudasse a trabalhar no hospital. Sabia que um dia você iria assumir a
direção. Meu marido me acusava de não gostar de homens. Realmente não gosto
mesmo. Nunca suportei o jeito e a maneira como o homem faz. Foi uma tortura as
poucas vezes que tive que aguenta-lo em cima de mim. O fato de ser mãe me fez
descobrir sensações que não conhecia em meu corpo. Minha barriga crescendo, meus
seios se enchendo de leite, adorei tudo aquilo. Mas sentia nojo do meu marido.
Quando ele se aproximava eu morria de medo. Não sinto este medo com você. Com
você é diferente, é excitante. Fico fantasiando o que faremos juntas. Como podemos
sentir prazer sem nos magoarmos. De alguma forma sinto que você precisa de uma
compensação. Não tem culpa do meu problema. Não quero que pense que sou
egoísta. Estou pensando todo o tempo em nós duas. Gostou quando acariciei você
ontem? – Perguntou segurando o rosto dela.
- Gostei demais.
- Quer me tocar agora?
- Eu quero muito – Falou olhando-a com adoração.
Vitória ficou quieta olhando-a sem palavras. Carolina abriu lentamente os
botões da blusa expondo os seios para ela. Vitória levou as mãos até eles com extremo
cuidado. Fechou-a sobre eles. Passou a conhecê-los fechando os olhos. Lentamente ia
acariciando-os. Carolina a fitava muito quieta. Estava imóvel e permitia seu toque
atenta. Estava tensa. Podia sentir o quanto apenas com o toque das mãos na pele dela.
Pensou em falar algo para relaxá-la, mas desistiu. O que fez foi escorregar diante dos
olhos atentos. Ficou de joelho diante dela. Assim levou a boca a um dos seios beijandoo
com adoração. Depois o outro. Então foi a vez da língua percorre-los com
sensualidade. Chegou a um dos biquinhos tomando-o em seus lábios como se fosse
uma uva. Era gentil e suave para não assusta-la. Suas mãos estavam imóveis como as
dela. Só sua boca sugava agora de um para o outro. Sentia-se indo ao céu e voltando
com aquele contato. O corpo dela estava perfumado, delicioso. Todo o seu corpo
começou a tremer. Suas pernas bambearam. Seu corpo transpirava. Seu coração
disparou e sua respiração ficou descontrolada. Carolina segurou sua cabeça olhando-a
preocupada.
- Você está tremendo. Quer parar?
- Não – Gemeu voltando a sugar os seios excitados. De repente parou
olhando-a sem jeito – Desculpe, não é fácil controlar o desejo. É melhor não falarmos
disto. Um dia vai entender como é.
- Quero que fale. Explique-me como se sente – Pediu baixo.
- É um desejo intenso. Que queima e consome meu corpo. Se as coisas fossem
diferentes faríamos amor. Eu concordei que seria paciente. Vai passar. Estou me
acalmando. Dê-me só uns minutos.
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- Vai se masturbar mais tarde? É assim que vai se acalmar?
- Sim.
- Não. Eu resolvo. Deixe-me fazer – Pediu colocando a mão sobre a perna
dela. Escorregou-a até o meio das pernas dela. Desta vez retirou a calçinha devorando
as pernas com desejo. Seus olhos estavam nublados quando a mão chegou ao sexo
ensopado. Soltou um gemido confessando encantada – Adoro te deixar assim. Ver-te
gozar me deixa queimando por dentro. Estou aprendendo a gostar cada vez mais.
Ontem à noite, toquei meus seios imaginando que eram suas mãos sobre eles. Fiquei
molhadinha como estou agora.
Vitória deitou a cabeça para trás sem deixar de admirá-la. Adorou quando a
mão chegou ao seu sexo. Os movimentos foram aumentando. A mão corria
deliciosamente pelo sexo quente. Vitória já se mexia num rebolado excitante que
deixou Carolina mais agitada. Quando o corpo de Vitória estremeceu e um gemido
escapou de seus lábios, Carolina puxou-a abraçando-a com força. Ficaram assim por
um bom tempo. Então ela se afastou indo até a sacada. Ficou ali olhando a cidade
perdida em seus pensamentos.
Vitória foi ao bar servindo-se de outro drinque. Depois foi até o som
começando a mexer nos discos. Escolheu um colocando-o para tocar. Queria dizer a
ela o quanto tinha sido maravilhoso o seu prazer, mas apenas fumou silenciosa. De
repente sentia-a atrás de si. A boca percorreu sua nuca com beijos excitados. Chegou
até seu ouvido perguntando num tom sensual.
- Você gozou gostoso?
Vitória fechou os olhos forçando mais o ouvido contra os lábios dela. Suas
entranhas se inundaram novamente. Abriu as pernas involuntariamente e Carolina
levou a mão ao sexo perguntando excitada.
- Quer gozar de novo? Diga! Diga que quer.
- Quero gozar quantas vezes você quiser me dar.
Carolina pegou a mão dela levando-a até o sofá novamente. Ali, sentou ao
lado dela buscando rapidamente o sexo. De olhos fechados sentia o toque maravilhoso
dela. Havia agora uma necessidade naquele toque. Como se fazê-la gozar desce a ela
um poder inexplicável. Quando ela gozou puxou-a mais para perto levando a mão até
um dos seios. Acariciou-o desnorteada. Segundos depois ela se ergueu, empurrando-a
para o sofá e deitando sobre ela. Suas mãos puxaram rapidamente o vestido dela
expondo o corpo com um prazer que não conseguia mais disfarçar. Olhou para os seios
enlouquecida. Desceu a boca passando a sugá-los incansável. Vitória tinha ímpetos de
gritar, mas se continha. Apertava os lábios movendo-se sensualmente contra o corpo
dela. Carolina deixou a mão buscar o sexo dela desnorteada. Agora ela já não tinha
mais controle de nada. Rebolava sobre ela como uma gata no cio. Sua boca sugava
desesperados aqueles seios. Parecia querer devorá-la. Embora ela não percebesse, seu
sexo esfregava-se contra a coxa de Vitória com urgência. De repente ela soltou um
gemido e estacou dobrando-se sobre Vitória. Todo o corpo dela estremeceu. Ela rolou
para o lado sentando de uma vez. Respirou profundamente se erguendo agitada.
Andou de um lado ao outro desnorteada. Ela foi ao bar e serviu-se de uma dose.
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Tomou de dois goles indo até a sacada. Fumou um cigarro inteiro suspirando sem
parar. Voltou-se de repente falando tensa.
- Acho que vou explodir. Nunca senti isto.
Vitória sentou olhando-a com carinho. Ficou imaginando como poderia trazêla
para junto de si e resolver o problema. Tinha que ter paciência.
- Tocar em você me deixou enlouquecida. Todo o meu corpo está latejando.
Estou muito assustada.
- Venha aqui – Pediu colocando a mão no sofá a seu lado. Ela veio olhando-a
com ansiedade. Estendeu a mão puxando-a para o seu colo. Acariciou seus cabelos
comentando docemente – Devíamos sair para dançar um dia destes. Faz anos que não
danço.
- Não sei dançar – Falou suspirando.
- Não? Pois vou te ensinar. Podemos ir ao cinema amanhã. Depois jantamos e
vamos dançar. Depois dormiremos abraçadas.
- Parece perfeito – Sussurrou estendendo a mão e tocando o seio dela – Você
sabia que eu ficaria assim, não é?
- Sabia que eu ficaria – Confessou acariciando os lábios dela lentamente –
Estou louca para saber o gosto que tem seus beijos. Quero beijá-la até perder as
forças. Será o dia mais feliz da minha vida.
- Fazer amor não é mais importante?
- Não. Esperei todos estes anos por seus beijos – Contou passando a língua
pelos lábios.
- Tenho nojo de beijo. É doloroso. Fere meus lábios.
Lembrou na hora dos dez pontos que tinha dado na língua dela. Não podia
condená-la. Entendia muito bem suas razões.
- Ele me jogou sobre a mesa abrindo meus lábios a força. Beijava-me e mordia
minha língua parecendo um louco. Senti uma dor intensa. Tentei gritar e me sufoquei
em meu sangue. Achei que nunca mais ia conseguir falar. Parecia que tinha arrancado
a minha língua.
Ela se calou angustiada. Vitória lamentou por ter tocado num assunto tão
doloroso.
- Quando via algum casal se beijando sempre virava o rosto. Sinto o gosto
daquele sangue e revivo tudo aquilo de novo. Foi você que me salvou. Se a sensação
de nojo passar algum dia, meus beijos serão apenas seus. Pode entender?
- Sim, eu entendo.
- Vamos descer para o jantar – Convidou se erguendo – Está com fome?
- Faminta!
Carolina fitou-a curiosa balançando a cabeça e rindo intimamente.
- Do que está rindo?
- Você não tem sentindo fome ultimamente. Agora está faminta. Estou rindo
disto.
- Ando sem apetite mesmo. Você acaba de me salvar de uma anemia
profunda – Riu piscando para ela – Preciso recuperar as forças.
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O juiz sorriu ao vê-las.
- Pensei que tinham se esquecido do jantar. Aposto que estavam dançando.
Sabiam que fui um excelente dançarino?
Nesta noite, Vitória observou que Carolina mal tocou a comida. Simplesmente
mexia a comida distraída. Ao contrário dela, comeu como há muito não fazia. Quando
o jantar terminou, Carolina levou-a até o carro estacionado diante da casa. Vitória
encostou-se nele puxando-a de encontro a si.
- Posso pegá-la amanhã as seis em ponto?
- Sim. Estarei te esperando.
- Pense em mim – Pediu rouca. Sua boca se aproximou da dela lentamente.
Carolina se encolheu, mas Vitória apenas roçou seus lábios aos dela com delicadeza.
Depois a olhou nos olhos dizendo enfeitiçada – Existem beijos e beijos. Boa noite
querida.
Carolina ficou ali olhando o carro desaparecer. Distraída tocou seus lábios.
Ainda sentia a caricia leve que foi aquele beijo. Sorriu entrando em casa com um
suspiro apaixonado.
Encontrou o juiz na sala a espera dela. Ele apontou à poltrona perguntando
gentil com sempre.
- Podemos conversar por uns minutos?
- Certamente – Ela sorriu sentando diante dele.
- Gostaria de lhe fazer uma pergunta que nunca fiz.
- Pois não?
- Porque se casou com o meu filho?
- Por gratidão ao Senhor.
- Mas você não me devia nada. Fez aquele imenso sacrifício por gratidão a
mim? – Perguntou completamente chocado.
- O Senhor acolheu-me aqui sem ao menos conhecer-me. Deu-me uma casa,
um lar, o amor de pai que nunca conheci. Sua atenção, seu respeito, seu carinho. Fez
de mim o que eu sou hoje. Eu sabia que o seu maior sonho era ter netos. É egoísmo só
recebermos nesta vida. Temos que dar algo em troca pelo bem que nos fazem. Foi um
grande sacrifício aquele casamento. Mas valeu a pena pelos dois filhos maravilhosos
que tenho hoje e pela grande alegria que sei que sente amando-os como o Senhor
ama.
- Meu Deus Carolina! Não devia ter ido tão longe. Não vê que só se feriu com
tudo isto?
- Não me arrependo de nada. Nestes oito anos, não houve um só dia em que
eu não tenha sonhado reencontrar Vitória. Foi muito triste saber que ela nunca me
procurou nestes anos todos. Pensar nisto sempre foi muito doloroso. Jamais poderia
ter amado seu filho. Não poderia amar mais ninguém. Meu amor sempre pertenceu a
ela.
- Pois vou lhe dizer que está errada quanto a ela nunca ter te procurado.
Ligava todos os anos no natal para saber de você. Ela nunca te esqueceu. Eu confesso
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que omite dela a história do seu casamento. Poderia ter contado, mas simplesmente
não o fiz. Sinto muito por isto.
- Isto agora é passado – Ela sorriu feliz. O coração batia agitado no peito.
Saber que Vitória sempre ligou era maravilhoso. Não a tinha esquecido. Mal podia
acreditar.
- Vou te pedir um favor. Nunca leve os meus netos de perto de mim. Se tiver
que viver com ela, por favor, vivam aqui. Meus netos são tudo que tenho nesta vida.
- Nunca os afastaria do Senhor. Pode estar certo disto. Agora preciso dormir.
Tenha uma boa noite – Falou beijando o rosto dele – E obrigada por me contar das
ligações dela. Tirou uma grande duvida do meu peito.
Não se viram no hospital no dia seguinte. Soube por Solange que a agenda
dela estava cheia. Na parte da tarde, estava preparando-se para ir embora, quando
Solange entrou com um jornal comentando com ela.
- Já leu o jornal hoje?
- Não. Por quê?
- Tem uma foto sua de mãos dadas com Vitória – Falou passando o jornal para
ela.
Pegou o jornal lendo a matéria. A reportagem dizia que a famosa médica
Vitória Macedo, estava tendo um tumultuado romance com herdeira de juiz
milionário. Carolina devolveu o jornal perguntando confusa.
- Tumultuado romance? De onde tiraram isto? Não tem nada tumultuado
entre Vitória e eu.
- Se a matéria não chamar atenção eles não vendem os jornais.
- Realmente – Ela sorriu pegando sua bolsa.
- Não ficou chateada com a notícia?
- Eu? Porque ficaria?
- Bem, estão todos comentando. Não se importa que falem de sua
intimidade?
- Não falei de minha intimidade para ninguém. Portanto, o que salta aos olhos
não se pode evitar. Nunca dei confiança para fofocas. Não sei disfarçar meus
sentimentos. Deixe que falem.
Vão se cansar e perder a graça.
- Não se pode negar que muita gente está morrendo de inveja.
- Aposto que sim. Só posso lamentar por eles. Até amanhã – Despediu-se
deixando o hospital de cabeça erguida. Ignorou os cochichos e as risadinhas por onde
passou. Estava muito feliz e nada iria destruir sua felicidade.
Após um dia longo e complicado, Vitória relaxou numa banheira de espumas.
No quarto escolheu um vestido novo admirando-se no espelho. Nunca mais colocaria a
barreira de um zíper entre ela e Carolina. Sentia que aquilo começava a ser uma
necessidade para ela. Esperava que fosse de fato. Perfumou as partes intimas e foi ao
encontro dela.
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Ela desceu assim que o parou diante da casa. Também usava um vestido lindo
e sex. Entrou inclinando-se e beijando o rosto de Vitória.
- Teve um dia cheio. Talvez não tenha visto os jornais. Falam sobre nós –
Contou colocando a mão na perna dela. Seus olhos admiraram as belas pernas e ela
retirou a mão dando um suspiro.
- Vi o jornal na clinica. Telma me mostrou. Mais cedo ou mais tarde iriam
publicar mesmo.
- Você não se importou, não é?
- Não. De forma alguma.
- No fundo achei bom. Não temos que dar satisfações a ninguém.
O carro dobrava uma esquina quando Vitória sentiu a mão dela apertando sua
coxa desta vez. Não a olhou fingindo não notar. Ela passava a mão em sua perna já
afastando o vestido ansiosa. Parou o carro diante do cinema olhando-a com um sorriso
delicioso.
- Talvez queira ir a outro lugar em vez do cinema.
- No cinema poderei acariciar seu corpo? – Perguntou com os olhos brilhando
intensamente.
- Seria um escândalo.
- Então vamos para sua casa. Quero te sentir e não aguento esperar.
Ligou o carro voando para sua casa. Quando chegaram subiram direto para o
quarto. Lá, Carolina viu uma estante cheia de filmes. Na primeira noite que dormiu ali
não tinha reparado neles. Aproximou-se pegando um. Era um filme pornô sobre
lésbicas. Voltou mostrando o filme para Vitória admirada.
- Você gosta deste tipo de filme?
- Na verdade eu não gosto, mas às vezes preciso ver um pouquinho. Ajuda,
você sabe – Riu sem jeito.
- Você se masturba vendo isto? É o que está me dizendo?
Ela parecia mais confusa. Vitória pegou a garrafa de uísque servindo duas
doses. Passou uma para ela explicando sem graça.
- Isto é coisa de mulher solteira. Às vezes preciso dar uma aliviada, aí, vejo só
para dar mais...
- Excitação? – Ela perguntava olhando-a fixamente – Só estou querendo
entender. Nunca vi nenhum filme assim. Sei que existiam, mas nunca imaginei – Parou
abrindo a capa e retirando o filme. Colocou no vídeo ligando a televisão. Foi para a
cama sentando e cruzando as pernas. Ficou assistindo com uma expressão admirada.
Pediu cigarros a Vitória e chamou-a para vir sentar do seu lado. Ela começou a rir
comentando.
- Que coisa mais forçada. Parece que sentem nojo uma dá outra. Você se
excita com isto?
- Bom...
Neste momento começou uma cena de sexo entre um homem e uma mulher.
Ela assistiu calada. Quando terminou comentou tranquila.
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- Essa transa foi melhor. Sei lá, aquelas duas foi bem ruim – Riu voltando-se
para ela – Se excita mesmo com isto?
- Na verdade é só até eu sentir, sabe? Porque às vezes, antes de te
reencontrar, estava muito sozinha. Pois é. Eu não tinha ninguém. Aí, para relaxar,
colocava um filme e sabe como é. Só pra matar a necessidade do corpo.
- Necessidade do corpo? – Ela perguntou rindo dela – Tem vergonha de falar
destas coisas comigo?
- É que a gente aqui, vendo isso aí, eu nunca pensei que você veria um filme
destes.
- Quero saber tudo sobre você. Suas preferências, seus desejos – Explicou
pegando o controle a seu lado e desligando a tv.
- É que um filme assim pode trazer lembranças desagradáveis para você.
- Não lembrei de nada. Estou aqui com você. Não quero pensar no passado.
Os olhos dela desceram para as pernas de Vitória. Ergueu a mão começando a
subi-la lentamente. Acariciou o joelho suavemente.
- Eu nunca tinha sentindo desejo, não como estou sentindo agora. Não fazia
ideia do quanto era bom – Sua mão continuou subindo enquanto ela se ajeitava
melhor. Carolina se inclinou e a boca chegou até a coxa. Começou a beijá-la com
suavidade. Ergueu a mão forçando o corpo de Vitória para a cama. Viu-a deitando com
um sorriso maldoso. Suas mãos afastaram as pernas dela com delicadeza. Retirou a
calçinha sem o menor pudor. A boca foi subindo até chegar ao sexo. Um gemido
escapou de seus lábios ao perceber o quanto ela estava molhada. Ergueu a cabeça
falando roucamente para ela – Quero vê-la gozar. Quero sentir quando chegar. Goze
na minha boca. Molhe-me toda.
Procurou o sexo com a língua afoita. Puxou o corpo mais para baixo até se
encaixar melhor entre as pernas dela. Enquanto ela a castigava com a língua sedenta
Vitória se contorcia rebolando tamanho seu prazer. A língua fazia loucuras,
movimentos deliciosos levando-a quase ao delírio. Quando gozou, Carolina não se
afastou. Continuou passando a língua no sexo delicioso. Vitória ergueu a cabeça e
estendeu a mão para ela. Carolina sorriu pulando da cama e pegando seu copo no
chão.
- Eu te faço feliz? Dou-te o que gosta? Diga-me se está satisfeita.
Vitória sentou cruzando as pernas sem importar-se com a posição indiscreta.
Percebeu o olhar dela percorrendo seu corpo com desejo. Virou seu drinque e sorriu
comentando.
- Você me faz muito feliz.
- Ficou satisfeita?
- Isto vai e vem. O desejo é assim. Não acaba...
- Eu me sinto cheia como um balão. Você quer terminar isto mais que tudo.
Vejo em seus olhos. Quando me olha assim minhas entranhas pegam fogo. Eu me
molho apenas com o seu olhar. Vejo seu desejo e adoro isto.
Voltou para a cama sentando diante dela.
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- É bom quando está de vestido. Posso tocá-la na hora que eu quiser – Ergueu
a mão levantando o vestido dela – Tira para mim. Quero-a nua.
- É perigoso – Falou olhando-a nos olhos da mesma forma.
- Acha? – Perguntou se erguendo e tirando o próprio vestido com urgência.
Praticamente arrancou a calçinha. Ficou em pé olhando-a nua com os olhos cintilando.
- Tire o vestido – Pediu deitando ao lado dela. Ficou olhando o corpo nu a sua
frente. Levou as mãos aos seios gemendo excitada – Como isto é bom...
Inclinou a cabeça passando a sugar os seios. Vitória pensou que deviam parar
por ali. E se a magoa-se? Mas o que desejo era mais forte que tudo. Suas mãos se
ergueram junto com seu corpo. Segurou o rosto de Carolina com extrema delicadeza
aproximando sua boca da dela. Rosou seus lábios no dela. Uma pontada forte em seu
coração a fez prosseguir. Carolina estava trêmula. Todo seu corpo tremia junto ao de
Vitória. Com suavidade começou a beijar a boca dela. Beijava e sugava os lábios. Suas
bocas apenas se roçavam. Os movimentos eram tão suaves que Carolina mal podia
acreditar. Aquilo era um beijo? Nunca pensou que poderia ser tão delicioso, tão
excitante. Suas bocas nem estavam abertas. Afastou-se olhando para Vitória sufocada.
- O que está fazendo?
- Estou acariciando sua boca – Confessou rouca de desejo.
- Está tentando me beijar? - Perguntou confusa.
- Só estou...
- Não...
- Não tenha medo porque eu te amo muito.
Carolina sorriu empurrando-a para a cama e apertando seu corpo contra o
dela.
- Feche seus olhos. Temos que dormir agora.
Vitória olhou-a surpresa e Carolina riu perguntando.
- Está tudo bem? Entende que temos que dormir?
- Claro meu amor.
Fechou os olhos neste instante. Ficou quieta sem mover um único músculo do
corpo. Carolina pegou seu braço, passando em volta de sua cintura e lhe deu as costas.
Seus corpos estavam colados e Carolina sabia que ela tinha chegado ao seu limite.
Teria sido por causa do beijo ou da confissão de amor? Talvez os dois. Ou talvez mais
pelo beijo. De olhos fechados perguntou baixinho.
- Seu marido te beijava?
- Não, nunca deixei. Mas ele não queria meus beijos. Queria apenas o meu
corpo. Homem não tem essa necessidade de beijos que as mulheres têm. Boa noite
querida.
- Boa noite... Amor!
Vitória não dormiu nesta noite. Muito menos Carolina. Ficaram quietas, de
olhos fechados, cada qual perdida em seus pensamentos. Quando amanheceu Vitória
saltou da cama, correndo para o banheiro e tomando um banho frio. Voltou para o
quarto enrolada numa toalha. Carolina estava sentada na cama. Seus olhos se
encontram, fugiu dos de Vitória. Ela vestiu-se em silêncio. Escovou os cabelos diante
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do espelho. Passou perfume vendo pelo espelho que Carolina a observava
atentamente. Neste momento o telefone tocou e a secretária eletrônica foi ativada. A
voz de Telma soou naquele momento.
- Vitória, sou eu, Telma. Sua irmã foi internada ontem à noite. Tomou uma
overdose de LSD. Os médicos tentaram de tudo. Ela está em coma. Ligue-me assim que
puder.
Foi ao telefone discando para a clinica.
- Oi Telma! Ouvi seu recado. O que posso fazer?
- Não tem muito para ser fazer. Só esperar. Já até informamos a polícia.
- Passarei ai antes de ir para o hospital.
Desligou indo até Carolina. Ela continuava sentada ali a olhando com os olhos
parados.
- Eu preciso ir - Falou procurando seus olhos.
- Acha que sua irmã vai morrer?
- Não sei amor. Não sei mesmo. Passarei para pegar você e as crianças às
nove. Tudo bem? Vamos almoçar por ai. O motorista vai te levar em casa.
Inclinou-se beijando o rosto dela e saindo rapidamente.
Foi a clinica ver a irmã. Estava irreconhecível. Conversou com os médicos, mas
eles a desenganaram. Estava ligada em vários aparelhos. Seguiu para o hospital. Foi
direto ao refeitório. Sentou com uma xícara de café numa mesa. O que tinha
acontecido com sua família? Por que seus irmãos partiram para aquele caminho
terrível que eram as drogas? Fez tudo que pode por eles. Mas preferiram destruir suas
vidas. Ficou ali remoendo o passado, até que Solange se aproximou puxando uma
cadeira.
- Posso sentar um minuto?
- Sim.
- Parece que não teve uma boa noite. Problemas?
- Existe vida sem eles?
Solange sorriu concordando com a cabeça.
- Carolina ligou dizendo que não virá hoje. Aconteceu alguma coisa?
- Vamos ao parque com as crianças.
- Entendo.
- A fofoca ainda continua?
- É só no que falam.
- Nada disto importa. Meus problemas estão muito além disto. Estou péssima
hoje.
- Vocês deviam morar juntas. Carolina parece te amar muito.
- Tomara que sim.
- Quer que te acompanhe na visita aos pacientes?
- Seria ótimo. Obrigada.
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Quando Vitória chegou à casa do juiz parecia outra pessoa. Tinha o sorriso
contagiante de sempre no rosto. Carolina entrou com as crianças e a baba. A manha
no parque foi uma boa distração. Depois de irem a todos os brinquedos, foram para
um restaurante. As crianças foram para a área de lazer com a baba. O garçom as serviu
se afastando. Vitória comentou neste momento.
- Estou triste com o que aconteceu com Renata. É muito nova para morrer.
- Vou rezar para que Deus dê conforto ao seu espírito – Falou pegando seu
drinque – Prefiro não falar deste assunto.
- Claro. Desculpe-me.
- Você tem jeito com crianças.
- Já troquei até fraudas na clinica – Contou sorrindo.
- É mesmo? Já cuidou de bebes?
- Sim.
- Você é muito carinhosa.
Desta vez falou num tom mais intimo, olhando-a com afeto.
- Eu queria ter feito amor ontem. Ansiei demais por você por toda a noite.
Sabia que estava acordada e sofri horrores. Infelizmente só estou te dando migalhas.
- Temos um problema que não se resolve da noite para o dia. Estou
aguentando bem.
- Você está se consumindo. Também sofro com isto. Acho que poderia ser
melhor se a tivesse mais por perto. Não quer viver comigo? Por que não me pede para
viver com você? Não quer me ter todo o tempo do seu lado?
- O que está dizendo? – Sussurrou baixo olhando-a com paixão – Quero você
mais que tudo. Peso minhas palavras para não magoa-la. Onde você quer viver? Quer
se mudar para a minha casa? Eu iria adorar.
- Não posso afastar as crianças de João. Ele não se importa que você vá morar
lá. É uma casa muito grande. Você pode até levar Rute. Temos um quarto para ela.
Você vai?
- Sim – Concordou vendo as crianças que se aproximavam da mesa correndo –
É claro que eu vou.
O almoço foi servindo naquele momento. Carolina sentou as crianças cada
uma em uma cadeira. Com as crianças não tiveram mais espaço para conversar.
Voltaram para a casa do juiz. Carolina levou as crianças para o andar de cima.
Juliana dormia em seus braços. Vitória ficou na sala esperando pela volta dela. Quando
ela desceu, sentou ao lado dela olhando-a ansiosa.
- Vai mesmo viver comigo? Por que não tocou no assunto antes?
- Com certeza meu amor – Falou tocando o rosto dela – Pensava que iria te
pressionar se falasse neste assunto. Você não entende como a minha situação é
complicada? Não percebe como tenho feito exclusivamente tudo do jeito que você
quer? Eu te permito tudo. Mesmo vivendo louca para te ter de uma forma mais
completa, eu continuo esperando que você relaxe.
- Você seria capaz de me trair?
- Nunca faria isto. Ninguém mais me importa. Não acredita no meu amor?
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- Não é isto.
- Certo.
- Quero que se mude ainda hoje – Falou olhando-a com ansiosa – Faz isto?
Vem hoje para cá? Quero demais isto. Por favor!
- É claro que venho hoje mesmo – Riu abraçando-a com carinho. Acariciou os
cabelos dela dizendo baixo – Então acho melhor ir para casa. Preciso pegar algumas
coisas que não podem ficar para trás. Venho para o jantar.
- Está bem... Meu amor – Falou com o coração explodindo louco de felicidade
– Vou morrer de saudade. Não demore.
Vitória chegou à noite com Rute. Jantaram e depois conversaram um pouco
na sala. Carolina e Vitória subiram as dez para o quarto. Vitória olhou a imensa cama
de casal comentando divertida.
- Vamos ter bastante espaço para rolar por aqui.
Carolina que estava se despindo, lançou um olhar quente em sua direção.
Vestiu uma camisola de renda preta seguindo para o banheiro. Quando ela voltou,
seus olhos correram pelo corpo de Vitória com desejo. Ela estava apenas de calçinha.
Aproximou-se falando em seu ouvido.
- Quero que me dê uma coisa. Quero que faça, mas não quero que fale
depois. Você consegue?
- Consigo... Mas o que você quer?
- Eu te espero na cama – Sorriu olhando na direção do banheiro.
Vitória foi para banheiro. Escovou os dentes e olhou-se no espelho. Uma
ansiedade nova tomava conta de seu coração. Estava começando uma vida nova. Era a
sua primeira noite de verdade naquela casa. Esperava que as coisas começassem a
mudar. Carolina parecia estar diferente. Sorriu apagando a luz do banheiro e indo para
a cama.
Deitou colando seu corpo ao dela. No quarto escuro tentou ver seus olhos.
- Estou aqui. O que você quer meu bem?
Carolina girou o corpo deitando-se sobre ela de uma vez. A boca desceu
fazendo um rastro de fogo até chegar aos seios. Sugou-os faminta por algum tempo.
Então desceu afastando e retirando a calçinha com suavidade. Aninhou-se entre as
pernas, buscando com a língua sedenta o sexo quente. Vitória gemeu adorando o
prazer que ela estava lhe dando. Sorriu pensando que se era isto que ela queria daria
todas as noites com um imenso prazer. A língua quase a levava a loucura quando
gozou intensamente. Carolina veio até ela deitando ao seu lado. Ela sorriu comentando
baixo no ouvido dela.
- Foi maravilhoso...
- Então me dá, mas não fala – Pediu puxando-a para cima de seu corpo.
Empurrou levemente a cabeça dela para baixo, mostrando que não aguentava esperar
– Faz... Faz bem gostoso... Quero sua língua em mim agora.
Vitória gemeu enquanto se aninhava naquele sexo que tanto desejava. Deixou
a língua percorrê-la sem se segurar mais. Perdeu-se nela numa busca incansável.
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Sentia-a rebolando sobre seu rosto, via o estado em que ela estava excitando-se mais a
cada segundo. Segurou as pernas dela, puxando o sexo mais de encontro a sua boca,
de uma forma que a língua tocou-a mais intimamente. Carolina gemia sem o menor
pudor. Roçava o sexo enlouquecido contra a língua dela. Dava-se e entregava-se de
uma forma que Vitória jamais pensou que a teria. Então a sentiu explodindo dentro de
sua boca. Continuou um tempo ali até que ela pressionou levemente seu rosto com as
pernas. Deitou ao lado dela, procurando seus olhos ansiosos.
- Eu nunca fui tão...
- Não. Não fale. – Ela a cortou descendo rápido a mão até o sexo dela – Quero
sentir o que te fiz – Riu enquanto a mão começava a deslizar no sexo inundado – Ah...
Que delícia... Não vai ser mais uma tortura – Falou no ouvido dela – Vai gozar todos os
dias em meus braços. Nunca mais vai precisar daqueles filmes tolos. Vai gozar na
minha boca. No meu corpo, no meu sexo... Serei sua... Inteira...
Vitória abriu mais as pernas deixando-a dominá-la sem conter os gemidos. O
prazer veio invadindo suas entranhas até o corpo relaxar inteiramente na cama. Ouviu
o sorriso de Carolina quando ela abraçou seu corpo confessando baixo.
- Adoro te fazer gozar. Adoro seus gemidos, sua safadeza. Estou me sentindo
muito segura com você. Isto é tudo que eu queria na minha vida.
- Gosta mesmo da minha safadeza? – Perguntou maldosa.
- Sim, adoro.
- Agora estamos casadas...
- Gosta de ser minha mulher?
- Gosto muito...
- Que bom. Boa noite meu amor.
- Boa noite – Respondeu fechando os olhos – Têm mesmo que dormir agora?
- Um dia de cada vez – Sussurrou roçando o corpo contra o dela – Você vai
dormir bem. Vou te ajudar.
Desceu a mão que estava na cintura dela até o sexo. Vitória abriu rápidas as
pernas para recebê-la. Ouviu o gemido gostoso dela em seu ouvido enquanto perdiase
nela com a mão deliciosa. Tentou se voltar, mas ela não permitiu. Continuou
buscando-a até seu corpo explodir de prazer. A mão voltou para a cintura. A voz dela
soou doce quando falou.
- Agora você consegue. Precisa descansar.
- É verdade. Boa noite meu amor.
Carolina sorriu fechando os olhos. Uma paz imensa encheu seu coração.
Dormiram profundamente alguns segundos depois.
Jamais pensou que acordar ao lado de Carolina fosse lhe dar tanto prazer.
Eram seis horas da manha e ela estranhou o quarto. Voltou-se a vendo profundamente
adormecida a seu lado. Estava descoberta. Admirou o corpo nu sentindo seu corpo
pegando fogo. Foi para o banheiro tomando um banho demorado. Quando voltou ao
quarto ela estava se espreguiçando nos lençóis.
- Bom dia meu amor.
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- Por que não me chamou? – Perguntou deixando a cama quase se arrastando
até ela. Estendeu os braços aninhando-se no corpo dela. Levou a boca a seu ouvindo
perguntando rouca – Por que não dançamos hoje à noite aqui? Podia me ensinar.
- Ótima ideia. Agora tome seu banho que quero tomar café com você.
Desceram juntas para o café. O juiz estava lendo o jornal.
Cumprimentou-as e comentou divertido.
- Pararam de falar sobre vocês. É só ignora-los que se calam.
Elas riram se entre olhando. O juiz continuou a leitura do seu jornal. Carolina
serviu-se de mel, torradas e suco. Bebeu observando Vitória com atenção. Ela
saboreava um morango com extrema sensualidade. Enquanto o chupava, mantinha os
olhos fixos na boca de Carolina. Ela ajeitou-se na cadeira incomodada. Não conseguia
afastar os olhos da cena tão excitante. O que ela fazia com cada morango que ia
pegando chegava a lhe dar calafrios na espinha. Molhou um morango no mel levandoo
aos lábios. O mel escorreu no canto dos lábios. A sensualidade da língua recolhendo
o mel escorrido causou um efeito devastador nela. Suas entranham se inundaram na
hora. Vitória passou neste momento para um melão. Embora tenha tentado não fita-la
foi impossível. Os movimentos dela eram de uma sintonia extremamente erótica. Após
o café sentia-se praticamente sem fala.
Seguiram para o hospital cada uma perdida em seus pensamentos. O carro
parou no pátio do hospital. Vitória se inclinou pegando sua mão e beijando-a com
sensualidade. Seus olhos deixaram à mão para fita-la enquanto a beijava. Carolina
sentiu uma pontada no peito desviando os olhos. Retirou a mão, descendo do carro e
esperando-a timidamente.
Subiram juntas até a sala de Vitória. Entraram e Carolina deu um suspiro
percebendo o olhar quente dela sobre seus lábios. Desviou os seus ficando vermelha
de vergonha. Estava com vergonha dos seus pensamentos, das coisas que não
conseguia parar de imaginar.
- Eu vou trabalhar – Falou indo para a porta. Vitória a seguiu entendendo a
mão para a maçaneta. Seus olhos encontraram-se neste momento. Em vez de abrir a
porta, Vitória a trancou. Carolina voltou-se e Vitória tomou-a nos braços. Procurou
seus lábios ansiosos. O beijo começou gentil e lento. Mordiscou seus lábios com
cuidado e forçou vagarosamente a língua para que os lábios dela se abrissem. No
instante em que abriram pensou que seu coração tinha parado no peito. Avançou
possuindo a boca num beijo cheio de carinhos e desejos. Tomou a língua dela com
extrema suavidade, passando a sugá-la mansamente. Suas mãos dobravam o corpo
dela contra o seu. Notou que ela começou a corresponder o beijo e excitou-se ainda
mais. Suas bocas passaram a ser uma só. O beijo se tornou interminável e delicioso.
Ouviu o gemido dela, sentindo suas mãos subindo e agarrando sua nuca. Ofereceu a
ela sua língua. Estremeceu quando ela começou a sugá-la excitada. O amor era isto;
uma combinação de todos os toques, todos os sentidos, todos os prazeres. Foi o que
pensou quando pressionou o corpo dela contra a parede enquanto pressionava
levemente seu sexo. Sua perna apenas se roçava contra as dela. Carolina ofereceu
novamente a língua. Vitória deliciou-se nela por um longo tempo. Interrompeu o beijo
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afastando-se. Carolina estava de olhos fechados diante dela. Sua boca percorreu todo
o rosto dela em beijos excitados. Depois desceu por seu pescoço e sua nuca. Carolina
já não reprimia os gemidos. Estava completamente fora de controle. Buscou
novamente a boca de Vitória num beijo alucinado. Neste momento Vitória afastou-se
indo sentar em sua cadeira. De lá viu Carolina toda trêmula. Estava grudada a porta e a
olhava a ponto de explodir tamanho o desejo que a dominava. Seus olhos cintilavam
intensamente. Ela se controlou respirando profundamente. Girou o corpo, abriu a
porta e saiu dali correndo.
Solange a observava, admirada. Naqueles dois anos em que trabalhava com
ela, nunca a tinha visto naquele estado. Ela andava desorientada de um lado para o
outro. Ia até a janela e suspirava profundamente.
- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou se aproximando dela.
- Aconteceu – Sussurrou voltando-se e olhando-a sufocada – Aconteceu tudo.
Tudo mesmo.
- Não estou te entendendo.
- Só estou apaixonada – Riu abrindo os braços – Estou queimando. Que mal a
nisto?
- Ora que ótimo – Riu divertida.
- Nunca senti isto em minha vida. Não é fácil de controlar. Desculpe. Eu
preciso ir para casa – Falou abrindo a porta e saindo rapidamente.
Vitória chegou a casa as seis em ponto. Encontrou o juiz na sala sozinho. Ele
perguntou levando-a até a janela.
- O que fez a ela? Nunca a vi assim. Passou o dia nadando na piscina.
- Não fiz nada. Ela só está mudando. Está se soltando – Comentou feliz.
- Parece que você está conseguindo. Parabéns!
- Vou subir e tomar um banho. Não vamos jantar hoje. Carolina ficará alguns
dias em casa. Precisa descansar antes que tenha uma estafa. Boa noite João.
Acendeu a luz do quarto e viu um balde com uma garrafa de vinho e duas
taças sobre a mesinha. Um sorriso surgiu em seus lábios. Pegou o robe indo para o
banheiro. Quando voltou ao quarto ela estava lá. Ainda usava o biquíni. Servia duas
taças de vinho olhando-a de forma intensa. Aproximou estendendo uma taça para ela.
- Você demorou demais.
- Procurei você para voltarmos juntas.
- Procurou? Não supôs que me deixou sem condições de trabalhar depois do
que me fez na sua sala?
- Aquele beijinho? - Perguntou fingindo inocência – Tem certeza?
- Nunca pensei que um beijo poderia causar tudo aquilo. Você quase me
levou a loucura. Vim embora louca que chegasse logo à noite. Escolhi umas músicas –
Contou indo até o som e ligando-o. A música invadiu o ambiente e ela perguntou
ansiosa – Gosta?
- Sim, é linda.
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Tomou um pouco do vinho colocando a taça de lado. Carolina aconchegou-se
a ela completamente solta. Enlaçou seu pescoço pedindo baixo.
- Me ensine.
Vitória fechou os olhos dando os primeiros passos. Ela errou uma vez. Sorriu
sussurrando no ouvido dela.
- Cole-se a mim e deixe-me guia-la.
Carolina colou seu corpo ao dela fechando os olhos. Não se deu conta e nem
soube quando acertou o passo. Sabia apenas que estava nos braços dela e que
rodopiava há muito tempo numa dança interminável. Carolina rosava seu corpo ao
dela adorando aquele contato. Começou a se insinuar para ela. Parou de dançar
pegando as taças. Entregou a ela pedindo enfeitiçada.
- Beba.
Vitória bebeu perdida naqueles olhos verdes que consumiam os seus. Ela se
aproximou colando seus corpos e buscando sua boca faminta. Aquele beijo intenso era
um convite. Recebeu a língua tomando com extrema delicadeza. Seus corpos tremiam
juntos. Sentiu as mãos de Carolina buscando seus seios. Aquelas mãos começaram a
percorrer seu corpo sem controle. Gemia em sua boca completamente enlouquecida.
Afastou-se puxando Vitória para a cama com urgência. Arrancou o robe dela e
tirou o biquíni puxando-a para cima do seu corpo.
- Venha... – Pediu rouca olhando-a nos olhos - Toque em meus seios...
Vitória acariciou-os com as mãos. Depois deixou a boca busca-los sem se
conter. Estava sobre ela. Seu sexo movia-se lentamente sobre ela. Ouvia seus gemidos
mal se aguentando de vontade. Ela tremia. Tremia descontroladamente. Vitória sentiu
quando agarrou seus cabelos pedindo num fio de voz.
- Não me faça pedir...
Olhou-a tomada pelo desejo. Viu e sentiu quando ela moveu-se sensualmente
com o sexo contra ela. Viu o sorriso que surgiu nos lábios dela. Adorou quando as
pernas dela se abriram naquele convite ao prazer.
- Sou sua... Inteira... Venha – Relaxou fechando os olhos.
Desceu cobrindo o corpo dela com beijos experientes. Beijou aquelas pernas
buscando o sexo pulsante sem se conter mais. Ouviu seus gemidos enquanto sentia o
sexo vindo louco contra a sua língua. Ela estava se dando inteira. Não tinha mais
reservas, não sentia mais medo algum. Estava se entregando completamente. Ouviu
um novo gemido e um grito
Abafado escapou dos lábios dela. Afastou-se a puxando e abraçando-a com
força junto de si. Ouviu seu riso e sua voz rouca, cheia de desejos.
- Sabia! Sabia que seria maravilhoso com você. Percebeu? Viu como está me
fazendo gozar intensamente? Percebe que já não te nego nada? Que sou sua? Que
estou louca... Perdida por você. Preciso te sentir... Preciso...
Gemeu descendo rápido com a boca a procura dela. Perdeu-se ali desvairada.
Quando a fez gozar deitou rápido sobre Vitória pegando a mão dela. Levou-a ao seu
sexo dando-se novamente. Carolina gemia de olhos fechados. Neste momento
também buscava por Vitória louca de desejo. Gozaram novamente. Vitória relaxou e
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Carolina deitou-se sobre ela buscando sua boca num beijo carregado de paixão. Depois
a olhou nos olhos perguntando feliz.
- Sabe o quanto eu te amo?
- Sei amor...
- Sabe? – Insistiu roçando seu sexo contra o dela – Viu como me faz sentir
prazer?
- Sim...
- Viu como gozei? – Riu roçando os lábios nos dela.
- Carolina – Gemeu apertando-a com força junto de si – Sou a mulher mais
feliz deste mundo. Será que te magoei? Eu... Já não consigo me controlar.
- Não, só me fez feliz. Não há mais barreiras. Você as derrubou com o seu
amor – Contou feliz – Com o seu carinho. Com este seu corpo que me mata e me
rouba a razão. Quero você de novo. Todo o tempo. Venha, quero gozar de novo com
você.
Recomeçaram felizes e apaixonadas. Muito tempo depois estavam abraçadas
e quietas. Carolina abriu os olhos comentando baixinho.
- Sei que não foi fácil esperar. Eu quero te fazer muito feliz.
Vitória procurou seus olhos confessando apaixonada.
- Mas já sou feliz. Não percebe?
- É mesmo? - Perguntou maldosa percorrendo o corpo dela com os olhos
cheios de desejo – Tem certeza? Já te dei tudo que queria?
- Não, claro que não. Perdemos muito tempo – Falou puxando-a para si
excitada – Vamos recuperar cada minuto que perdemos.
A boca buscou a de Carolina num beijo mais apaixonado.
- Eu te quero... Sem parar...
- Meu amor...
Carolina calou-a com um novo beijo que dizia tudo.


Nova Lima-MG, 22 de abril de 1994.
Atenção:
Todos os contos estão registrados. Se copiar, cite a origem e a autora.
Astridy Gurgel

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